O dia seguinte começou com o mesmo peso no peito que Júlia havia sentido ao final do anterior. As palavras de Miguel ainda ecoavam em sua mente, mas as dúvidas permaneciam. Ela tentava se concentrar enquanto caminhava até a escola, mas o som das conversas à sua volta e a sensação constante de que estava sendo observada não ajudavam em nada.
Ao chegar, percebeu que Miguel já estava na escola, encostado no portão, e ao lado dele, claro, estava Luísa. Ela estava rindo de algo que ele disse, e os dois pareciam completamente descontraídos. Júlia sentiu seu coração apertar. Por mais que soubesse que Miguel havia garantido que nada estava acontecendo, a proximidade deles a incomodava profundamente.
Quando Miguel a viu, abriu um sorriso, mas Júlia não conseguiu retribuir com a mesma empolgação. Aproximou-se, mantendo uma expressão neutra.
— Oi, Ju! — Miguel a cumprimentou com seu típico entusiasmo. — Dormiu bem?
— Dormi... — respondeu ela, de forma vaga, enquanto seus olhos passeavam rapidamente entre ele e Luísa.
— Ei, Júlia! — disse Luísa com um sorriso amigável. — Estava contando para o Miguel sobre um projeto da escola que estamos pensando em participar. Vai ser muito legal!
— Ah, que bom... — respondeu Júlia, tentando soar despreocupada. Mas a verdade era que cada palavra de Luísa parecia um lembrete constante da sua presença.
Aquele desconforto continuou durante as primeiras aulas. Júlia mal conseguia se concentrar, e a cada vez que ouvia alguém sussurrar ou cochichar pelas costas, tinha a impressão de que o assunto ainda era ela, Miguel e Luísa. As fofocas não haviam parado, e parecia que a escola toda estava observando seu relacionamento, esperando por qualquer sinal de crise.
Na hora do intervalo, Júlia decidiu que precisava de um tempo para si. Ela disse a Miguel que precisava ir à biblioteca pegar alguns materiais e se afastou. Sentia que, se ficasse perto dele e de Luísa, acabaria explodindo de vez. Enquanto caminhava pelos corredores, passou por um grupo de alunos, que a olhou de cima a baixo e começou a cochichar assim que ela se afastou. O sangue de Júlia ferveu. Ela não aguentava mais aquilo.
A biblioteca estava quase vazia, e Júlia aproveitou a tranquilidade para se sentar e tentar organizar seus pensamentos. Mas, antes que pudesse relaxar, uma de suas amigas, Camila, apareceu e se sentou ao seu lado.
— Ju... Eu sei que você não quer ouvir, mas estão falando de novo sobre você e o Miguel — disse Camila, hesitante.
Júlia suspirou, sentindo o cansaço emocional pesar ainda mais.
— Eu já imaginei... — respondeu, tentando manter a voz firme. — E o que estão dizendo agora?
— Que ele e a Luísa estão cada vez mais próximos... Estão falando que ele anda com ela nos intervalos e que ela está sempre rindo das piadas dele. Não sei se é verdade, mas achei que você devia saber.
Júlia fechou os olhos por um momento, tentando afastar a dor que crescia dentro de si. As palavras de Camila só reforçavam o que ela já sentia. Mesmo que Miguel garantisse que não havia nada acontecendo, as fofocas estavam lentamente minando sua confiança.
— Eu não sei mais o que fazer, Camila... — confessou, finalmente permitindo que as lágrimas ameaçassem cair. — Eu confio no Miguel, mas é tão difícil quando todo mundo parece estar esperando que a gente termine.
Camila colocou a mão no ombro de Júlia, oferecendo um apoio silencioso.
— Eu sei, Ju... Deve ser muito difícil. Mas só você pode decidir se vale a pena lutar por isso ou não.
Júlia agradeceu o apoio da amiga e, depois de alguns minutos, decidiu voltar para a sala. Não poderia fugir para sempre. Ao chegar na porta, viu Miguel conversando com Luísa de novo. Aquilo a consumia por dentro.
Após as aulas, Júlia foi direto falar com Miguel. Não conseguia mais segurar aquilo para si.
— Miguel, a gente precisa conversar. Agora.
Ele franziu a testa, percebendo que algo estava errado. Os dois se afastaram dos outros alunos e foram para um lugar mais reservado no pátio.
— O que está acontecendo, Júlia? — perguntou ele, confuso.
— Eu estou cansada, Miguel. Cansada de todas essas fofocas, de ver você e a Luísa sempre juntos... — Júlia começou, sem conseguir mais segurar as emoções. — Eu sei que você disse que não tem nada, mas... eu não aguento mais ver todo mundo falando sobre vocês.
Miguel olhou para ela, surpreso com a intensidade das palavras.
— Ju, eu juro que não tem nada entre mim e a Luísa. A gente só está conversando porque temos alguns trabalhos juntos. Eu nem percebi que isso estava te machucando tanto.
— Mas está! — ela interrompeu, a voz embargada. — Está me machucando de verdade, Miguel. Eu não sei mais o que pensar. E eu não sei se consigo continuar assim...
As palavras de Júlia pairaram no ar entre eles, carregadas de tensão e incerteza. Miguel respirou fundo, visivelmente abalado com o que estava ouvindo.
— Eu... Eu não quero te perder, Júlia. Não quero que isso acabe. Mas eu também não posso controlar o que as pessoas falam. Só posso te prometer que estou aqui com você, e só com você.
Ela o olhou nos olhos, tentando encontrar alguma verdade nas palavras dele. Mesmo com toda a dor e a confusão, algo em seu coração ainda acreditava nele. Mas, ao mesmo tempo, as inseguranças estavam cada vez mais difíceis de ignorar.
— Eu não sei, Miguel... Eu realmente não sei o que fazer agora.
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Atualizado até capítulo 55
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