Dois meses haviam se passado desde o término, e as coisas no colégio haviam mudado drasticamente para todos, mas principalmente para Miguel e Julia. O clima entre eles parecia agora ser de uma distância irreparável, cada um vivendo suas próprias rotinas, lidando com seus próprios problemas e tentando seguir em frente da melhor maneira que podiam.
As férias de meio de ano estavam se aproximando, e isso parecia trazer um alívio para muitos alunos que ansiavam por uma pausa. Para Julia, no entanto, as coisas estavam diferentes. A relação entre ela e Lucas havia se intensificado, e eles estavam mais próximos do que nunca. Não que houvesse algo romântico entre eles — pelo menos, não da parte de Julia —, mas Lucas havia se tornado uma presença constante e reconfortante em sua vida. Ele estava lá quando ela precisava desabafar, quando sentia saudades de como as coisas eram antes, e, principalmente, quando os olhares curiosos dos colegas sobre o término a incomodavam.
Naquele dia, enquanto caminhavam juntos pelos corredores, Julia e Lucas conversavam animadamente sobre os planos para as férias. Lucas estava pensando em viajar com a família para uma cidade próxima, enquanto Julia ainda não tinha certeza do que faria. De qualquer forma, os dois pareciam confortáveis, como se a amizade entre eles tivesse preenchido um vazio que, até pouco tempo, parecia impossível de superar.
— Eu realmente não sei o que fazer nessas férias — disse Julia, rindo. — Talvez eu só fique em casa, sabe? Minha mãe anda preocupada com algumas coisas, e eu também não estou com muita vontade de sair.
Lucas deu de ombros, sorrindo de forma tranquilizadora.
— Você deveria vir comigo e minha família. Vai ser legal. E também, quem sabe, seja bom pra você se distrair um pouco.
Julia hesitou por um momento, mas deu um leve sorriso. Ela sabia que Lucas só queria o melhor para ela, e de fato, ele havia sido uma peça fundamental para ela superar os últimos meses. Estar ao lado dele era como um respiro de tranquilidade em meio ao caos emocional que ela enfrentava.
Enquanto isso, Miguel andava sozinho pelos corredores, com a cabeça abaixada e o peso da culpa cada vez mais presente em seus ombros. Ele sabia que as coisas entre ele e Julia haviam mudado para sempre, e que grande parte disso era culpa dele. Desde o término, sua vida havia saído completamente dos trilhos. As notas, que antes eram medianas, haviam despencado. Os professores haviam notado, mas ninguém sabia o motivo real. Nem seus pais. Eles o pressionavam para estudar mais, para prestar atenção nas aulas, mas Miguel mal conseguia se concentrar. O peso da culpa era sufocante.
A cada vez que ele via Julia e Lucas juntos, a sensação de arrependimento só crescia. Ele não conseguia esquecer o quanto ele a decepcionou, o quanto ele a afastou por não dar ouvidos às suas preocupações. Agora, a proximidade de Julia com Lucas parecia um castigo silencioso, uma lembrança constante do que ele havia perdido e do que poderia ter sido.
Na última prova de matemática, ele praticamente não conseguiu resolver nada. Sua mente vagava para o passado, para os momentos que ele e Julia passaram juntos, para as risadas, os abraços, e para tudo que ele não conseguiu valorizar enquanto ainda estavam juntos. Ele viu sua nota quando o professor devolveu a prova, e sentiu um nó no estômago: 4,5.
Ele nunca tinha tirado uma nota tão baixa. E pior do que isso, sabia que seus pais não iam perdoar. Mas o mais doloroso era o fato de que ele simplesmente não conseguia se importar o suficiente para fazer algo a respeito.
Enquanto Julia e Lucas saíam juntos do colégio, rindo e planejando o que fariam depois, Miguel os observava de longe, sentindo uma pontada de inveja misturada com tristeza. Ele queria ter sido o cara que a escutava, que estava ao lado dela quando ela mais precisava. Queria ter dado valor ao relacionamento deles quando ainda tinha chance. Agora, parecia tarde demais para qualquer tipo de redenção.
À medida que as férias se aproximavam, o sentimento de vazio e culpa dentro dele só aumentava. Não havia uma maneira fácil de consertar o que havia sido quebrado, e ele sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de continuar vivendo daquela forma, sem Julia, e sem conseguir se perdoar, era algo que ele não sabia como lidar.
Ele voltou para casa naquele dia com a mente carregada de pensamentos. As conversas com seus pais estavam se tornando cada vez mais tensas, principalmente em relação às notas. Eles não entendiam o que estava acontecendo, e Miguel não tinha coragem de explicar. Como ele poderia dizer que a culpa de tudo era sua? Que ele destruiu algo importante e agora não sabia mais como seguir em frente?
Em seu quarto, sozinho, Miguel passou horas olhando para o teto, sem conseguir escapar da espiral de pensamentos que o consumia. Ele sabia que as férias estavam chegando, mas ao contrário de Julia e Lucas, que pareciam animados com o tempo livre, ele sentia como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor.
As mensagens de João e Luísa, que antes eram frequentes, agora se tornaram raras. Ele mal falava com eles, e a amizade, que antes parecia ser tão forte, também estava desmoronando. No fundo, Miguel sabia que o problema não era só o término com Julia, mas uma série de decisões erradas que ele tomou ao longo do tempo, e que agora estavam cobrando seu preço.
E enquanto Julia encontrava conforto e apoio em Lucas, Miguel sentia que estava afundando cada vez mais em seus próprios erros.
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Atualizado até capítulo 55
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