O final da tarde trouxe um céu acinzentado, com nuvens ameaçando uma chuva que parecia iminente. Julia e Miguel caminhavam juntos, lado a lado, mas o silêncio entre eles pesava mais do que nunca. Os últimos dias tinham sido carregados de um incômodo silêncio, com ambos evitando uma conversa que sabiam ser inevitável.
Eles pararam na frente da praça onde costumavam passar os finais de tarde nos tempos em que tudo parecia mais simples. Miguel olhou para Julia, tentando encontrar nas feições dela uma resposta para as perguntas que ele mesmo não sabia como fazer. Julia, por sua vez, sentia seu coração apertado, sem saber como iniciar o que precisava ser dito.
Finalmente, ela quebrou o silêncio.
– A gente precisa conversar, Miguel – disse Julia, com a voz baixa, quase tímida, mas carregada de determinação.
Miguel suspirou, assentindo. Ele sabia que não tinha mais como fugir.
Eles se sentaram no banco de sempre, o mesmo onde muitas vezes haviam rido, feito planos para o futuro e se prometido que sempre estariam juntos. Mas, naquele momento, tudo parecia distante, como se as promessas de antes fossem de outra vida.
– Eu sei que as coisas estão diferentes entre nós – começou Julia, com um leve tremor na voz. – Não sei se é só impressão minha, mas… eu sinto que a gente está se afastando, e eu não sei o que fazer com isso.
Miguel desviou o olhar para as árvores balançando ao vento, buscando ali alguma clareza que ele não encontrava dentro de si. Ele sabia que Julia estava certa. Havia algo errado entre eles, algo que ele vinha tentando evitar confrontar.
– Não é só impressão sua – ele admitiu, a voz baixa. – Eu também sinto isso.
O silêncio que se seguiu foi denso, como se ambos estivessem processando o que aquilo realmente significava. Julia cruzou os braços, tentando se proteger do vento frio que começava a soprar, mas talvez também tentando se proteger das palavras que viriam a seguir.
– A gente sempre foi tão próximo – continuou ela. – Mas, ultimamente, parece que estamos em mundos diferentes. Você está sempre com seus amigos, no futebol, e eu… eu estou me sentindo sozinha, Miguel.
As palavras de Julia atingiram Miguel com força. Ele nunca tinha percebido o quanto ela estava se sentindo isolada. Na cabeça dele, eles sempre foram uma equipe, mesmo quando as coisas ficavam complicadas.
– Eu não queria que você se sentisse assim – ele disse, sinceramente. – Mas eu também estou perdido, Julia. Parece que tudo está mudando rápido demais, e eu não sei mais o que fazer pra manter as coisas como eram.
Julia soltou uma risada amarga.
– E talvez seja esse o problema, Miguel. As coisas não podem ser como eram. A gente mudou, as situações mudaram, mas parece que estamos tentando forçar tudo a ser como antes, e não está funcionando.
Miguel passou a mão pelos cabelos, frustrado.
– O que você quer que a gente faça, então? Você quer… terminar?
A palavra "terminar" ficou suspensa no ar, carregada de medo e incerteza. Julia sentiu um nó na garganta. Terminar não era o que ela queria, mas, ao mesmo tempo, continuar assim também não parecia uma opção.
– Eu não sei – ela confessou, os olhos cheios de lágrimas que lutava para conter. – Talvez a gente precise de um tempo. Um tempo pra entender o que a gente quer de verdade.
Miguel abaixou a cabeça, tentando processar o que Julia estava dizendo. Um "tempo" parecia a coisa mais próxima de um fim que ele podia imaginar, e a ideia de perdê-la o assustava.
– Eu não sei se consigo ficar sem você, Julia – ele disse, a voz embargada. – Você sempre foi a pessoa que me entendeu, que esteve lá pra mim. Eu… eu não quero te perder.
Julia sentiu o peito apertar com as palavras de Miguel. Ela também não queria perdê-lo, mas, ao mesmo tempo, sabia que algo precisava mudar.
– Eu também não quero te perder, Miguel. Mas acho que, se a gente continuar assim, fingindo que está tudo bem, a gente vai acabar se machucando ainda mais.
Miguel ficou em silêncio, encarando o chão, como se procurasse ali as respostas que ele tanto desejava. Mas, no fundo, ele sabia que Julia estava certa. Algo precisava mudar.
– Então a gente vai dar um tempo? – ele perguntou, sem esconder a dor que sentia ao dizer aquilo em voz alta.
Julia hesitou, mas assentiu.
– Acho que sim. Mas não quero que seja o fim, Miguel. Eu só… eu só preciso entender o que está acontecendo com a gente. Comigo.
– E se, nesse tempo, a gente perceber que não quer mais ficar junto? – ele perguntou, a voz quase um sussurro.
Julia fechou os olhos por um momento, tentando afastar a dor que sentia ao ouvir aquilo.
– Então acho que vamos ter que aceitar – disse ela, com dificuldade.
O vento frio soprava mais forte agora, como se o tempo estivesse sincronizado com o turbilhão emocional que passava entre os dois. Por um longo tempo, nenhum deles disse nada. Eles apenas ficaram ali, sentados lado a lado, mas sentindo como se um abismo tivesse se aberto entre eles.
Quando Miguel finalmente se levantou, o rosto dele estava sério, a expressão fechada.
– Tudo bem, Julia. Se você acha que é isso que a gente precisa, então a gente vai dar um tempo – disse ele, a voz fria.
Julia olhou para ele, surpresa com o tom que ele havia adotado.
– Miguel, eu não estou dizendo isso pra te machucar. Só quero que a gente faça o que é melhor pra nós dois.
– E quem disse que isso é o melhor pra mim? – ele rebateu, a frustração evidente em cada palavra. – Eu nunca quis esse "tempo", Julia. Você que está forçando isso.
As palavras dele cortaram fundo, mas Julia manteve a calma.
– Não estou forçando nada, Miguel. Só estou sendo honesta com o que sinto. Se você não quer isso, então diz. O que você quer que a gente faça?
Miguel abriu a boca para responder, mas as palavras pareciam não sair. Ele estava dividido entre o desejo de continuar com Julia e a raiva de não saber como consertar o que estava acontecendo.
– Eu não sei – ele admitiu, mais uma vez. – Só sei que isso não está certo.
Julia assentiu lentamente.
– Eu sei. Mas talvez seja a única maneira de a gente descobrir o que é certo.
Por fim, Miguel suspirou, derrotado.
– Tá. A gente vai dar esse tempo. Mas não pense que eu concordo com isso.
Julia mordeu o lábio, sentindo as lágrimas subirem mais uma vez, mas se recusando a deixar que elas caíssem.
– Eu só quero que a gente se entenda, Miguel. Só isso.
Ele não respondeu. Apenas se virou e começou a caminhar, deixando Julia para trás no banco, observando enquanto ele se afastava.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Valentina Resende
llllll
2024-09-30
3