As coisas estavam tensas entre Júlia e Miguel há dias, mas o que aconteceu naquela manhã foi o estopim para o que ambos temiam: o término.
Logo ao chegar na escola, Júlia percebeu que algo estava errado. As fofocas, que antes eram sussurros nos corredores, agora se transformaram em olhares diretos, julgamentos descarados e risadinhas abafadas. Os rumores sobre Miguel e Luísa haviam se intensificado, e o nome dela também estava sendo jogado no meio dessas conversas maliciosas. Júlia sabia que, cedo ou tarde, precisaria confrontar Miguel, mas o que não esperava era o que iria descobrir naquele dia.
Ao entrar na sala de aula, Júlia viu algo que fez seu estômago revirar: Miguel e Luísa estavam conversando juntos, próximos demais para o seu gosto. Luísa ria de algo que Miguel dizia, e, por um breve momento, ele sorriu de volta para ela. Aquilo foi o suficiente para que Júlia sentisse um calor súbito subir pelo seu corpo. As inseguranças que ela tentava reprimir finalmente começaram a explodir.
Antes que pudesse pensar direito, Júlia foi até Miguel, com o peito acelerado e a voz mais alta do que o necessário.
— O que está acontecendo aqui? — Ela perguntou, tentando conter o tom de acusação, mas não conseguiu esconder completamente a raiva.
Miguel, que até então estava descontraído, olhou para ela, surpreso pela sua atitude. Ele não esperava ser confrontado de maneira tão abrupta, especialmente na frente de Luísa.
— Júlia, calma. Não é nada. A gente só estava conversando. — Ele respondeu, tentando soar calmo, mas havia algo em seu tom que deixou Júlia ainda mais desconfiada.
— Conversando? Você acha que eu sou idiota, Miguel? Todos estão falando sobre você e ela! — Júlia disse, apontando para Luísa, que agora parecia desconfortável com a situação.
— Do que você está falando? — Miguel perguntou, agora começando a se irritar. — São só fofocas, Júlia. Nada aconteceu entre mim e a Luísa.
Júlia sentiu o sangue fervendo. Era a mesma sensação de descontrole que ela vinha tentando evitar desde que as fofocas começaram. Mas agora, com Miguel na defensiva e Luísa ali, parecia impossível não sentir que algo estava errado.
— Só fofocas? Então por que você está sempre perto dela? E por que todo mundo parece saber de algo que eu não sei? — Júlia perguntou, sua voz vacilando entre raiva e mágoa.
Miguel suspirou, frustrado. — Eu não posso controlar o que as pessoas dizem. E não vou parar de falar com a Luísa só porque os outros estão criando histórias. Você precisa confiar em mim!
Mas para Júlia, aquelas palavras soaram vazias. Tudo o que ela conseguia ver era o rosto de Luísa, que, embora calada, parecia cada vez mais presente na vida de Miguel. E isso era demais para ela.
— Eu não sei mais se posso confiar. — Ela murmurou, baixando os olhos, sentindo um nó se formar na garganta.
Houve um silêncio incômodo entre os três, até que Luísa, claramente desconfortável com a discussão, se afastou rapidamente. Mas mesmo com ela fora de cena, o estrago já estava feito. A tensão entre Miguel e Júlia era palpável.
— Júlia, você sabe que eu te amo. — Miguel disse, agora num tom mais calmo, tentando se aproximar dela.
Mas Júlia recuou, levantando a mão como se quisesse impedir que ele chegasse perto. — Talvez isso não seja o suficiente agora, Miguel.
Ele a olhou, chocado e ferido por suas palavras. — O que você quer dizer com isso?
— Eu quero terminar. — Júlia disse, com lágrimas começando a se formar em seus olhos. — Eu não consigo mais. Isso tudo está me machucando demais.
Miguel ficou em silêncio, atordoado pela brutalidade daquelas palavras. Ele sabia que as coisas estavam difíceis entre eles, mas o término? Não era algo que ele imaginava realmente acontecendo.
— Júlia, você não pode estar falando sério. — Ele disse, quase como um pedido de socorro. — Você quer mesmo jogar tudo fora por causa de fofocas?
Ela balançou a cabeça, incapaz de olhar diretamente para ele. — Não são só as fofocas, Miguel. É a falta de confiança, é a maneira como tudo está se desenrolando. Eu sinto que estamos nos perdendo, e eu não consigo mais viver assim, presa nessas dúvidas.
Miguel tentou se aproximar novamente, mas Júlia recuou mais uma vez.
— Por favor, não faz isso. — Ele implorou, sua voz agora embargada. — A gente pode resolver isso. Eu posso fazer melhor, eu prometo.
— Não dá, Miguel. — Ela disse, engolindo o choro que insistia em vir à tona. — Eu estou cansada. De verdade.
— Então é isso? Você vai simplesmente desistir da gente? — Miguel perguntou, agora mais com raiva do que triste.
— Eu não estou desistindo. — Júlia disse, finalmente olhando para ele, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu só estou escolhendo cuidar de mim.
Aquelas palavras quebraram algo dentro de Miguel. Ele ficou ali parado, sem saber o que dizer. Ele a amava, mas naquele momento, parecia que não havia mais o que fazer. Júlia já havia tomado sua decisão, e, por mais que doesse, ele sabia que insistir só traria mais sofrimento para os dois.
— Tudo bem, Júlia. — Ele disse, com a voz quebrada. — Se é isso que você quer, eu vou respeitar.
E, sem dizer mais nada, ele se virou e saiu do corredor, deixando Júlia sozinha, sentindo o peso de sua decisão cair sobre seus ombros. Ela sabia que isso afetaria os dois profundamente, mas, naquele momento, era a única coisa que conseguia fazer.
Enquanto Miguel se afastava, sentia como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de seus pés. As fofocas, os mal-entendidos, tudo parecia ter conspirado contra ele e Júlia. E agora, ele estava sozinho, sem saber como consertar o que havia sido quebrado. As palavras de Júlia ecoavam em sua mente, e ele sentia que a situação só iria piorar antes de melhorar.
O término abalou ambos, e a escola parecia um campo de batalha de olhares e rumores. Nada seria mais o mesmo a partir daquele momento, e o caminho para a reconciliação, se é que ainda existia um, estava cada vez mais distante.
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Atualizado até capítulo 55
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