Capítulo 15

Thailor sentiu um aperto no peito enquanto os passos de Evan e Camilla desapareciam no corredor. O eco de sua partida parecia ressoar com um peso simbólico, um pano de fundo perfeito para o silêncio da noite. Quando finalmente a porta do apartamento se fechou, Thailor se apressou a trancá-la, certificando-se de que não voltariam. Então, exausto tanto física quanto emocionalmente, deixou cair seu corpo contra a porta, sentindo a madeira fria pressionar suas costas feridas.

Uma estranha sensação o invadiu então. Apesar da dor em seu corpo após o impacto contra a parede e a briga brutal, algo parecido com um alívio começou a se infiltrar em seu peito. Com as mãos trêmulas, cobriu o rosto marcado, sentindo a suavidade de sua pele contrastar com a dureza dos golpes recebidos. O apartamento, pela primeira vez em muito tempo, se enchia de calma, rota únicamente por sua respiração irregular.

De repente, sem poder contê-lo mais, as lágrimas começaram a brotar de seus olhos, caindo por suas bochechas em um torrente de emoção contida. Era como se tudo o que havia reprimido durante anos finalmente explodisse, enchendo o pequeno espaço com seu choro dilacerante. A tristeza e o alívio se misturavam em seu peito, e embora soubesse que sua luta ainda não havia terminado, sentia como se uma enorme carga tivesse sido arrancada de seus ombros.

Thailor, com os olhos marejados, sentia orgulho de si mesmo. Havia enfrentado Camilla, aquela mulher que o havia controlado durante tanto tempo, a mesma que havia destruído a vida de sua mãe. Aquela noite havia sido diferente. Naquela noite, Thailor havia tomado o controle de seu próprio destino.

Apesar da dor em seu corpo, se sentia vitorioso. Havia superado seus próprios medos, havia enfrentado o ódio acumulado. E embora as feridas fossem profundas, o sentimento de liberdade que o envolvia era ainda mais poderoso.

Com o coração ainda batendo com força, Thailor se levantou lentamente, arrastando os pés em direção ao quarto. Ao chegar à cama, desabou sobre o colchão, sentindo cada fisgada de dor que percorria seu corpo, mas sem se importar. Esse era o preço justo pela liberdade emocional que havia ganhado.

Enquanto a escuridão tomava conta do quarto, as lembranças começaram a invadir sua mente. As cruéis palavras de Camilla, as humilhações que havia suportado durante anos. Recordava como ela o havia menosprezado, tanto a ele quanto à sua mãe, tratando-os como se não tivessem valor algum. Mas desta vez, Thailor havia lhe mostrado que não era a vítima fraca que ela sempre havia acreditado.

Pensou em seu pai, um homem que nunca havia sido capaz de desafiar sua segunda esposa. Apesar de tudo, Thailor sabia que seu pai o havia amado, mas esse amor não havia sido suficiente para protegê-lo da crueldade de Camilla.

DING

DONG

DING

DONG

O som da campainha o arrancou bruscamente de seus pensamentos, fazendo com que seu coração disparasse descontroladamente. Recordou as palavras de Evan, sua promessa de vingança, e um calafrio percorreu seu corpo.

Com o medo tomando conta de si, Thailor se levantou rapidamente e correu em direção à cozinha. Suas mãos trêmulas buscaram às cegas uma faca grande, o único objeto que parecia oferecer-lhe uma mínima sensação de segurança. Segurou-a com força, pronto para se defender se fosse necessário.

Aproximou-se da porta sem olhar pelo olho mágico, com os músculos tensos e o medo controlando suas ações. Em um movimento rápido, abriu a porta, erguendo a faca em alto, preparado para o pior.

— Que diabos você está fazendo? — a voz profunda de Dimitrei ressoou do outro lado da porta.

Thailor se congelou ao ver Dimitrei parado à sua frente. Suas mãos tremiam violentamente enquanto Dimitrei, com uma mistura de surpresa e preocupação, tirava-lhe a faca das mãos sem esforço.

— O que aconteceu aqui? — perguntou Dimitrei, observando atentamente o estado lamentável de Thailor. O sangue ainda brotava da têmpora de Thailor, manchando seu rosto e escorrendo por sua mandíbula.

Sem dizer uma palavra, Dimitrei deixou a faca sobre a mesa próxima, antes de tomar o rosto de Thailor entre suas mãos. Examinou com cuidado o ferimento em sua têmpora, e então seus olhos percorreram as marcas em seu pescoço, mãos e pernas. O silêncio entre eles era pesado, cheio de perguntas sem resposta.

— O que fizeram com você, Thailor? — exigiu Dimitrei, sua voz grave e firme, mas seus olhos brilhavam com uma fúria contida—. Me diga!

Thailor tentou responder, mas o nó em sua garganta o sufocava, e as lágrimas voltaram a encher seus olhos. Desta vez, não eram de alívio, mas de puro esgotamento.