Capítulo 10

— Trabalhe como sempre. Esta noite aprendi tudo sobre você e acredito que o seu talento é essencial para esta empresa. Você é um dos melhores funcionários desta companhia. — Dimitrei largou a mão de Thailor e olhou para ele com a frieza habitual que o caracterizava.

Thailor, que tinha visto o lado mais caloroso do seu chefe momentos antes, sabia que aquela gentileza tinha sido apenas parte da fachada. Dimitrei tinha voltado ao seu estado habitual, distante e calculista.

— De acordo — respondeu Thailor, inclinando a cabeça em sinal de respeito. Sabia que devia obedecer.

— Gosto da sua obediência. A sua lealdade é impressionante — comentou Dimitrei, o seu olhar fixo em Thailor.

— Obrigado — respondeu Thailor, esboçando um sorriso formal.

— De agora em diante, você almoçará comigo todos os dias no restaurante. Nos seus dias de folga, você terá tempo livre, a menos que viajemos juntos para o estrangeiro.

— Sim, eu entendo. Já li todas as regras — respondeu Thailor com firmeza.

— Ótimo, eu sabia que você entenderia rápido. É por isso que não preciso de te explicar em detalhes.

Thailor voltou a assentir. As portas do elevador abriram-se, quebrando momentaneamente a tensão do ambiente. Ambos saíram e dirigiram-se para os seus respetivos escritórios. Dimitrei caminhava à frente com a sua postura imponente habitual, enquanto o seu assistente, Tony, o seguia de perto.

— Gosto de trabalhar com ele — disse Dimitrei, referindo-se a Thailor enquanto avançavam. — Não fala muito e entende tudo rapidamente. Escolhi bem.

— Sim, senhor. Thailor é um funcionário excecional. A sua capacidade e inteligência são reconhecidas por todos — afirmou Tony com profissionalismo.

— Já informaste todos os funcionários que ele é meu companheiro? Quero que todos saibam sem exceção, para que o respeitem. Respeitá-lo a ele é respeitar-me a mim. — Dimitrei sentou-se na sua enorme cadeira de couro, a sua postura exalava autoridade.

— Sim, senhor. Fiz o anúncio a todos os chefes de divisão esta manhã. Eles irão tratar de transmitir a informação às suas equipas. A notícia já começou a difundir-se rapidamente — explicou Tony com eficiência.

— Bom trabalho — assentiu Dimitrei, satisfeito, antes de começar a sua jornada laboral.

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Naquele dia, Thailor sentia que tudo estava como sempre quando entrou no seu escritório, embora algo no seu interior lhe dissesse o contrário. Caminhava a passo firme, o seu rosto impávido, mas havia uma espécie de vibração interna que ele não conseguia explicar, como se o ar ao seu redor tivesse mudado.

Enquanto atravessava a área comum, notou algo diferente no ambiente. Os funcionários, que costumavam estar concentrados nas suas tarefas e mal levantavam o olhar, agora observavam-no com uma mistura de curiosidade e respeito. Alguns sorriam-lhe com gentileza, outros davam-lhe calorosas saudações de bom dia que antes não eram tão frequentes. Thailor, um pouco desconcertado, correspondia aos sorrisos, mas não fazia ideia do que realmente se estava a passar. Ainda não sabia que a notícia da sua relação com Dimitrei se tinha difundido desde a noite anterior, graças a Tony e às ordens diretas do seu chefe.

Quando chegou à sua secretária, esperava-o uma pilha de documentos, listas de revisão e relatórios que ele devia processar antes do meio-dia. Pelo menos nisso, as coisas continuavam iguais. Sentou-se com determinação, disposto a mergulhar no seu trabalho, quando uma figura se deslizou para o seu escritório.

— Bom dia, Sr. Thailor — disse uma voz feminina atrás dele. Era Laura, uma funcionária de outra divisão.

Thailor levantou o olhar, um pouco surpreendido com a visita inesperada.

— Olá, Laura. A que devo a tua visita? E por favor, podes tratar-me apenas por Thailor — respondeu com um sorriso amigável, tentando manter o tom casual.

— Ah, claro que não, isso já não é possível — disse Laura com um tom brincalhão. — És o companheiro do grande chefe agora. Deves ser tratado com o respeito que te mereces.

Thailor estreitou os olhos, incomodado com a súbita formalidade.

— Continuo a ser o mesmo Thailor de sempre. Apenas o meu estatuto mudou — disse, tentando soar relaxado, embora a sua mente não parasse de analisar a mudança na atitude da sua colega.

— Meu Deus, és tão humilde, Thailor! Não me admira que o chefe goste tanto de ti — comentou Laura com um risinho, embora os seus olhos brilhassem com um interesse que ela não conseguiu esconder totalmente.

Thailor sabia que Laura não estava ali por mera cortesia. Algo ela procurava, mas ele não tinha a certeza do quê.

— Por falar nisso — continuou Laura —, hoje ao meio-dia, na nossa divisão, temos uma pequena celebração. Gostarias de te juntar a nós?

— Eu? — Thailor arqueou uma sobrancelha, claramente desconcertado. — Lamento, mas não pertenço à tua divisão. Além disso, não poderei comparecer; almoço com Dimitrei todos os dias. Ele gosta que o acompanhe sempre.

Laura olhou para ele com uma expressão entre surpreendida e invejosa.

— Oooh... Que fofo... — murmurou, claramente intrigada. — A propósito, posso fazer-te uma pergunta, Thailor? — A sua voz baixou um pouco, quase em conspiração. — Como conseguiste conquistar alguém tão frio como Dimitrei? Ele é praticamente inacessível e tu conquistaste-o com tanta facilidade...

Thailor ficou tenso. Sabia que essa pergunta surgiria mais cedo ou mais tarde, mas não esperava que a curiosidade das pessoas fosse tão direta.

— Lamento, Laura, mas a minha relação com Dimitrei é privada. Não é algo sobre o qual eu vá falar em público.

Laura tentou manter o sorriso, embora a deceção no seu rosto fosse evidente.

— Não faz mal, lamento se fui demasiado ousada. Só... espero que nos possamos conhecer melhor, Thailor. És uma pessoa encantadora — disse antes de se retirar, embora o brilho nos seus olhos deixasse claro que a sua curiosidade não tinha sido completamente saciada.

— Obrigado — respondeu Thailor brevemente, suspirando de alívio enquanto via Laura finalmente a sair do seu escritório.

O dia mal tinha começado e as complicações do seu novo estatuto já se estavam a manifestar. Sabia que este seria apenas o princípio.

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