O bom rapaz

—Samuca, vamos?

—Vamos pai, hoje eu vou sair mais cedo, tenho uma reunião com o meu pai.

—Por que o Sérgio não contrata um administrador? Fica tirando você da empresa.

Dou uma risada.

—Ele diz a mesma coisa " porque o Tomás não dá o cargo para outra pessoa e deixa você trabalhando só comigo?!"

—Dois ciumentos disputando o filho! - fala a minha mãe

Eu também trabalho com o meu pai biológico, Sérgio Brazil, ele é dono de uma rede de restaurantes. A minha mãe e ele quando casados, fundaram o "Terra Brasilis" a duras penas, trabalharam demais e alcançaram o sucesso. Logo após eu nascer, depois de diversas tentativas e tratamentos de fertilidade, minha mãe se ausentou dos restaurantes e focou na maternidade.O meu pai começou a ter um caso com uma funcionária vinte anos mais jovem, abandonou a minha mãe e tirou tudo dela, a deixou sem nada. Ela foi obrigada a trabalhar como copeira na mansão do Tomás, e aí a história deles começou.

Minha mãe conseguiu fazer com que ele devolvesse tudo o que era dela por direito, meu pai sofreu um baque financeiro muito grande e depois de alguns anos voltou a se reerguer.

Ele casou-se com a minha madrasta ,Lilian, e juntos tem a minha irmã de 15 anos.

Hoje a relação entre meus pais é cordial, graças à minha mãe,que não deixou a raiva subir a cabeça e pensou em mim antes de se vingar por completo do meu pai.

Vivemos em paz e harmonia, às vezes os meus pais vão juntos ao estádio, eles são loucos por futebol, frequentamos a casa dele em dias de comemorações e ele a nossa pelos mesmos motivos.

Na empresa, trabalho numa sala ao lado do meu pai, a minha irmã Ana Carolina ,está estagiando d já que cursa engenheira de produção e ela fica na mesma sala da minha mãe que é engenheira de alimentos.

— Samuca, dá uma olhada nesses papéis aqui para mim ,vê se realmente esse negócio vai valer a pena para nós. É uma rede de supermercados argentinos,mas você sabe que a Argentina não está muito bem das pernas, eu acho que é um negócio arriscado.

Analiso as planilhas para o meu pai, ele sempre pede a minha opinião para tudo, diz que eu tenho uma visão mais ampla, moderna e jovem do mercado financeiro e do mundo dos negócios.

— Proposta interessante, mas eu acho que nós não deveríamos fechar negócio agora,pelo menos enquanto a Argentina estiver passando por instabilidades políticas. Engaveta esse assunto, vamos deixá-lo mais para frente.

Continuo a minha manhã de trabalho até a hora do almoço, quando saio com os meus pais e minha irmã para partilharmos a refeição juntos. Temos o hábito de fazer isso quase sempre e quando dá.

— E o casamento filho, sai ou não sai?

— Calma senhor ,Tomás! Eu ainda estou analisando isso, a Luiza também está me apressando por um casamento ,mas eu não vejo necessidade de correr. Ainda somos tão jovens!

—Realmente não tem pressa para casar, vocês podem ver cada detalhe com calma, para terem a absoluta certeza se é realmente isso o que vocês querem!

—Até porque vocês precisam se conhecer bem antes de se casar. - diz Aninha

—Uma coisa eu garanto a vocês dois, nós nunca conhecemos ninguém! Você pode ficar namorando a pessoa por 10 anos que você não a conhece! Olha o meu caso com o Sérgio, foram 15 anos de um relacionamento e eu nunca poderia imaginar que ele faria o que ele fez comigo.

—Enquanto a mãe de vocês e eu, nos conhecemos um dia, no dia seguinte eu a pedi em casamento por contrato, e olha nós dois aqui, até hoje nos amando!

Os dois sorriem um para o outro feito dois adolescentes.

O amor dos meus pais é verdadeiro, foi uma paixão fulminante! Eles viajaram para a França a fim de se conhecerem melhor e darem veracidade ao contrato de casamento forjado, mas voltaram para casa completamente apaixonados um pelo outro e estão juntos até hoje. Eu quero um amor como o deles forte,genuíno e seguro.

Ainda tenho dúvidas se realmente a Luíza é a mulher para me casar embora eu a ame de verdade, gosto da companhia dela, gosto de conversar com ela ,mas tem alguns pontos em que nós dois divergirmos muito. Ela é uma moça muito rica, tem ares superiores que eu não gosto, já falei isso diversas vezes. Ela mudou um pouco, por mim, mas não porque realmente enxergou que suas atitudes não são muito legais,por exemplo, ela odeia está perto da família dos meus pais

A minha mãe é suburbana nascida e criada na Tijuca, a família dela é toda do samba e a minha mãe e o meu pai não saem de lá. Quase todos os finais de semana os dois estão em alguma roda de samba perdidos pelo subúrbio carioca e a Luiza não suporta nenhum tio e nenhum primo da minha mãe. Sempre diz que eles são pessoas de baixo nível, porque gostam de falar alto, de rir e de conversar sem se importar com a etiquetas.

Ela também não gosta da família do meu pai Tomás porque são todos do interior do estado, pessoas simples da roça, ela simplesmente odeia ir até a nossa fazenda, reclama do mau cheiro dos animais, reclama da comida simples demais, reclama das pessoas e isso tudo me desanima.

Ela ainda se dá melhor com a minha família por parte do meu pai Sérgio. Eles são de Niterói, pessoas que têm um padrão de vida um pouco melhor ,então ela se identifica mais com eles embora os meus tios e primos paternos sejam pessoas agradáveis de se conviver.

Luíza e eu nos conhecemos durante um evento,era um show de uma celebridade americana muito famosa que foi exclusivo para a nata da sociedade carioca em uma casa de show na zona oeste do Rio. Fomos apresentados por amigos em comum, começamos a nos falar e eu não imaginava que o pai dela e o meu pai Tomás já eram conhecidos, eu sempre ouvia falar que eles tinham uma filha chamada Luíza que morava na Itália como modelo, mas nunca a tinha visto. Depois que nos conhecemos nesse evento trocamos contato e começamos a conversar, marcamos um encontro e ali descobrimos essa coincidência.

Com as famílias já eram conhecidas, foi um passo rápido para um namoro e em dois anos estávamos noivos e agora que ela está retornando para o Brasil, depois do fim do seu contrato com uma agência de modelos em Roma, ela me cobra o casamento.

Chego no escritório do meu pai.

—Que bom você chegou,Samuca! A reunião vai começar!

—Pai,tem certeza disso? Quem vai ficar em São Paulo nessa filial?

—O João Marcos está voltando para o Brasil, irá tocar o restaurante como chefe de cozinha.

—Ele é formado em culinária internacional focada em culinária francesa,acho que não dar certo!

—Isso é implicância sua! Vocês dois nunca se deram muito bem.Vem logo!

—Está bem,senhor Sérgio, depois não diga que não avisei!

João Marcos é enteado do meu pai, quando criança até nos entendíamos, mas depois que fomos crescendo nosso relacionamento não ficou legal. Ele tem vinte e nove anos, é um pouco mais velho do que eu, acho que toda essa implicância dele comigo é o fato dele ter sido praticamente abandonado pelo pai, enquanto eu sou disputado por dois ! Além dele achar que todos preferem a mim do que a ele,tem ciúmes da mãe dele comigo, da nossa irmã e até da família materna. O fato dele estar voltando para o Brasil e gerenciar o novo restaurante do meu pai me preocupa, não acho que ele tenha competência e comprometimento pra isso e não é implicância.

—Então, podemos fechar negócio, senhor Sérgio?

—Mas é claro que sim!

—O seu filho não parece muito convicto.- diz o advogado da empresa com a qual estamos fechando negócio.

—Tenho minhas ressalvas em relação a esse empreendimento

—Por que, Samuel? É só manter o o padrão do serviço de excelência que encontramos na unidades do Rio de Janeiro. - diz o homem

— É exatamente esse o meu medo! Será que conseguiremos?

Saio de lá com a cabeça cheia e a noite partilho com os meus pais minha preocupação.

—Você já avisou, ele está ciente de tudo, o Sérgio é muito cabeça dura e ambicioso! - diz minha mãe

—Eu não sei porque ele quer ter você lá se não o escuta! - fala o meu pai

No meio da refeição, Luísa chega de surpresa.

—Chegou em boa hora,Luíza ! Sente- se conosco! - convida a minha mãe

—Ah eu vou aceitar, Suzana ! Já vi que estão comendo salmão, o meu prato favorito!

—Sim, salmão em crosta de castanha e risoto de manga e rúcula.

—Ai que delícia!

Após alguns minutos meu irmão vem com uma pérola.

— Você come bem para uma modelo!

—Pedro! Que indelicadeza é essa? - minha mãe o chama atenção

—Ué, é só a realidade! Deixou de ser modelo e deixou de ser passa forme! Vai engordar pra caramba!

Para tentar disfarçar,meu pai mudou de assunto.

—Agora que não é mais modelo, o que pretende fazer ,Luíza?

—Estou voltada para as minhas redes sociais,estou me tornando influencer,como a Suzana!

—Ah, mas meu público alvo e o tipo de influência que exerço é bem diferente. - diz minha mãe

—Fora isso, não pretende se formar?

—Não sei...acho que não vale a pena, pra quê? Sou herdeira e com o que eu ganho com a internet... - ela ri

Meus pais se olham e depois olham pra mim, eu abaixo a cabeça.

—Nós também somos herdeiros, mas se não cuidarmos nós mesmos do nosso patrimônio,quem o fará ? - diz Aninha

—Isso mesmo,filha! Que bom que vocês seguiriam meus ensinamentos. - fala o meu pai orgulhoso.

Luíza dá de ombros e eu respiro fundo.

—Ouçam, seu pai e eu iremos viajar por uma semana e meia, não me aprontem ,pelo amor de Deus!

—Está tudo sobre controle general Suzana!

Pedro debocha e minha mãe cerra os olhos.

—Tudo sobre controle mesmo, arrume suas coisas,você ficará na casa da sua tia Elisa.

—Porquê?! A Aninha e o Samuca vão estar em casa!

—Eu não vou tomar conta de ninguém!

—Muito menos eu, nem tenho tempo pra isso! - digo

—Ah qual é, mãe!

—Está decidido ,Pedro! Assunto encerrado! - sacramenta o meu pai.

Com a viagem dos dois, Luíza resolver passar esse dias comigo,quem sabe esses onze dias debaixo do mesmo teto me levem a refletir melhor sobre o nosso relacionamento.

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O que será que vai acontecer na ausência de Tomás e Suzana?

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