O futuro se desenhando...

—Já vimos as roupas,a Liz quer todos de laranja queimado e verde musgo em tons pastéis.

—Vai ficar lindo! São cores que combinam com o campo. Já começaram a montar as estruturas para a recepção no haras. Quer ir até lá?

—Ah não sei...

—Vamos, você gosta da tranquilidade do campo, vai te fazer bem. Poderemos passar o Natal por lá! O que você acha? E de passarmos o Réveillon em Angra?

—Vou falar com o Ricardo, talvez seja bom mesmo! Sair um bom dessa rotina chata de médicos e tratamentos.

Acompanho a Elisa na primeira sessão de quimio, ela vai ter que passar por uma cirurgia, mas pediu ao médico para ser depois do casamento da Liz no início de janeiro.

Terminada a sessão,a acompanho em casa e fico com ela para a ajudar com os efeitos da medicação.

Ela vomita, se sente mal e eu permaneço ao lado dela, é um luta muito difícil. Nesse tempo,Theo chega mais cedo do trabalho.

—Mãe! A senhora está aí?

—Ai Su! O que eu digo, que estou com um mal estar?

—Diga a verdade,Lili! Eles não são mais crianças!

Théo entra no quarto e vê a mãe pálida e eu do lado dela.

—Tia Suzana, o que ainda mãe tem? Ela está passando mal?

—Senta aqui ,filho. Eu preciso de contar uma coisa.

Elisa começa a falar toda a história da descoberta do câncer,Théo vai mudando a cor e as feições do rosto.

—A senhora escondeu isso da gente! Por que?!

—Não queria estragar esse momento que a sua irmã está vivendo e você estava em fase de conclusão do doutorado, não queria tirar o seu foco.

—Mãe! Pelo amor de Deus! Somos adultos e sabemos separar as coisas, a senhora precisa de todos nós, do nosso apoio!

—Nós falamos isso pra ela, mas tente a entender. Ela é mãe, e nós queremos poupar nossos filhos de todo sofrimento.

—Eu sei tia, mas era uma coisa inevitável!

Ele se levanta e dá uma volta na sala.

—E como a senhora está agora?

—São os efeitos colaterais da quimio, amanhã estarei melhor!

—Eu ...preciso dar uma volta pra digerir esse notícia. Vou caminhar no calçadão e...

—Vai, Théo! Eu só vou embora depois que o seu pai chegar em casa, não se preocupe!

Meu sobrinho sai de casa arrasado e eu olho para a minha irmã.

—Agora você entende o que queríamos dizer? Era um sofrimento de uma vez só! Agora vamos voltar ao processo de aceitação.

—E ainda tem a Liz...

—Fica calma, quando o Ricardo chegar, pede para ele conversar com eles. Você precisa descansar!

Dou os medicamentos a ela ,fechando a porta e ela dorme. Enquanto isso, dou as coordenadas para a funcionaria da casa dela e aguardo o meu cunhado chegar enquanto leio um livro.

......................

Ando pelo calçadão desesperado, e se minha mãe não resistir? E se ela morrer? Ela não vai me ver casar como sempre desejou, não vai poder pegar os meus filhos nos braços ...e eu nunca quis casar e ter filhos! Será que atingi o ideal filho que ela esperava de mim? Os pensamentos me atormentam.

Atravesso a rua meio desnorteado,não vejo o carro vindo e não lembro mais de nada.

......................

Ai caramba! Atropelei alguém!

Saio do carro desesperada, mas o cara surgiu do nada! Começa a juntar gente em volta e quando vejo quem é, me assusto.

—Théo!!! Ai meu Deus eu atropelei o meu amigo!

—A senhorita conhece o rapaz?

—Conheço, é meu amigo de infância!

Ligo desesperada para o meu pai,que estava no meio de um atendimento.

📲Helô, não posso falar agora!

📲Pai, eu atropelei o Théo!

📲O quê?!! Fala com calma, Heloísa!

📲Estava saindo da galeria, passando em frente ao calçadão de Ipanema e do nada o Theo surgiu e eu o atropelei!

📲Minha filha, eu sou pediatra! Liga para a SAMU ,agora!

Fiquei tão apavorada que nem pensei no óbvio mas um senhor já havia feito isso.

A ambulância chega em dez minutos e eu a sigo no meu carro, ligo para a Aninha que avisa ao Ricardo e a Liz, o tio Tomás também aparece.

—Ai meu Deus, Liz! eu não fiz de propósito!

—Claro que não Helô, calma!

Liz me abraça enquanto choro.

Ouço o tio Ricardo e tio Tomás falando algo sobre o choque da notícia e imagino que esteja relacionado à doença da mãe dele.

—A família de Théo Terra Bastos?

—Eu sou o pai dele!

—Ele aparentemente está bem, foi só um susto e um braço quebrado. Recomendamos um tomografia por ele ficou desacordado e o nosso tomografo está quebrado. - diz a médica.

—Ele está de alta?

—Está sim!

Eu vejo o Theo e o abraço ,e beijo várias vezes na bochecha.

—Desculpa amigo! Eu não fiz por querer, embora as vezes eu tenha vontade de matar você de verdade!

Nos dirigimos até a clínica do meu pai,que já nos aguardava.

—Quer dizer que a minha filha tentou assassinar o Theo?

—Pai!

—Estou brincando, você está tensa!

Theo passa por outra avaliação,novos exames e é constatado que ele está realmente bem.

No dia seguinte vou visitá-lo junto com o meu pai e a minha madrasta,que vão ver a tia Elisa.

—Como você está ,tia Elisa?

—Melhor do que ontem! Um dia de cada vez...

—Contou para Liz? - pergunta o meu pai

—Sim,depois do que aconteceu com o Theo me arrependi tanto! Imaginem se fosse algo mais grave!?

—Ainda bem que a Helô dirige feito uma tartaruga.

Todos riem de mim.

—O meu pai está no meu pé desde ontem,implicando comigo! Eu vou lá dentro ver o Théo.

Bato no quarto e ele me manda entrar, o encontro de cuecas em cima da cama tentando colocar uma bermuda. Fico sem graça e me viro com as mãos no rosto.

—Theo! Coloca uma roupa!

—Estou tentando! Me ajuda aqui!

Chego mais próximo e o ajudo a vestir a bermuda ,sinto o meu rosto queimar.

—Está com vergonha? Cansou de me ver de sunga na praia!

—Mas assim não...

Com o outro braço, ele me puxa pela cintura.

—Bem que você poderia me dar uma chance, né ?

—Fala sério! Você não quer compromisso! Eu já estou beirando os trinta anos, quero estabilidade emocional!

—Eu também estou beirando os trinta, e essa experiência de quase morte me abriu os olhos. Eu não posso passar nesse terra sei deixar o meu legado.

—Experiência de quase morte? - dou uma risada

—Sim! A minha vida passou como um filme em minha mente e me decidi, eu quero ser pai!

—E quer que eu seja a mãe dos seus filhos?

—E por que não? Ou ainda tem esperanças do Samuca largar a Luiza? Eles voltaram de viagem com a data do casamento marcada sabia?Será nesse próximo ano também!

A notícia foi como um balde de água fria em mim, também...é culpa minha!

—Pelo visto você está ótimo! Vou indo!

Ele me prende e rouba um beijo, Theo e eu sempre fomos muito amigos, mas de uns tempos pra cá ele vem dizendo que estava afim de mim, mas eu nunca o olhei de outra forma, até mesmo pelo modo dele ser, pegador,bon vivant... Ele é uma advogado em ascensão, no mesmo escritório onde o pai dele é sócio,tem uma carreira brilhante para seguir.

—Está louco!?

—Fica por conta do meu braço quebrado por sua culpa!

Saio irritada e batendo a porta ,enquanto ele dá gargalhadas.

......................

—E como ficará os seus plantões?

—Eu já me resolvi com a direção do hospital, meu amigo irá me cobrir nesse período em que eu estiver no Brasil.

—Você ficará até janeiro, Pietro!

—É o casamento dos meus amigos, Kristen! E eu sou um dos padrinhos!

—Você vai encontrar com ela ,não vai?

—Provavelmente! Nossas famílias são amigas, nossos pais são amigos de infância, assim como os filhos se tornaram amigos! E a noiva é prima dela.

—Você vai voltar pra ela!

Kristen tem um ataque de ciúmes e começa a gritar, eu odeio escândalos.

—Eu acho melhor você ir para a sua casa. Está muito nervosa! Amanhã eu tenho o último dia da residência antes do recesso para a festas de final de ano.

—Eu tenho dormido aqui essa última semana!

—Por isso mesmo! Acho melhor irmos devagar!

—Me deixa ir com você?

—Tem a sua família, você não conseguiu alterar sua escala, pode se prejudicar.

—Eu não me importo, depois arrumo outro emprego!

—Kristen, isso é irracional!

—Ela vai roubar você de mim!

—Eu não sou um objeto que possa ser roubado!

Ela sai batendo a porta e eu respiro fundo, esfrego as mãos no rosto e vou para o quarto,abro o armário e percebo que metade dele está ocupado com as coisas de Kristen.

—Só estamos juntos há um mês! Isso é loucura!

Começo a dobrar as roupas para levar à viagem. Quando abro a mala, vejo o porta retratos com a foto da Aninha que eu havia guardado ali dentro, quebrado, a foto rabiscada e com xingamentos.

—Kristen! Você não tinha esse direito!

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