capítulo 5

Quando eu acordei no hospital, senti como se estivesse perdido.

Uma forte dor atingiu a minha cabeça, e logo depois eu lembrei de tudo que havia acontecido.

Eu estava voltando para casa depois de mais um dia de trabalho, quando o meu carro perdeu o controle.

Eu tinha dado uma carona para um homem que caminhava sozinho, estávamos conversando quando o carro perdeu o controle e sofremos o acidente.

E depois eu acordei aqui, sem documentos e completamente perdido! Eu liguei para o Simon, que é um grande amigo de infância, ele foi o primeiro a saber que eu estava vivo.

E logo depois recebi a notícia do meu suposto enterro, e também sobre a notícia do meu casamento.

Eu fui pego totalmente de surpresa, não lembro de casamento e muito menos de ter uma mulher.

Falaram que posso ter perdido a memória, mas eu lembro perfeitamente de tudo, essa mulher que tanto falam não faz e nunca fez parte da minha vida.

Eu sei bem do que estou falando, não havia motivos para eu esconder o nosso relacionamento e muito menos mentir sobre a minha vida como ela falou.

Não vou mentir que não senti algo quando a vi, não sei, um sentimento estranho, ela me parece tão meiga e doce, os seus olhos transmitem medo, mas também inocência.

Sei que tem algo errado aí, não é possível que eu tenha escondido uma mulher tão bonita quanto ela.

Se eu estava apaixonado, por que não contei a minha família?

E sem contar que essa insistência que ela está tendo sobre o divórcio me fez ter ainda mais certeza que tem alguma coisa errada.

- me fala a verdade, o que está acontecendo? - eu acabei de chegar em casa, e tudo que eu preciso agora é descansar um pouco.

- não está acontecendo nada - ela está estranha, não me olha nos olhos, e fica nervosa toda vez que faço uma pergunta ou quando me aproximo dela.

- a gente já teve algum tipo de relação? - estamos sentados na minha cama, ela está dura e imóvel.

Segurei a sua mão e senti tremer e suar frio.

- não, nós nunca tivemos relação - ela levantou da cama e se afastou de mim - por favor, eu só quero o divórcio, por favor! - ela agora está chorando compulsivamente feito uma criança com medo do bicho papão - eu juro que não sabia de nada! Eu só quero ir embora daqui.

- me fala com o que aconteceu, só assim vou entender tudo que está acontecendo aqui - voltei a me aproximar dela, e segurei a sua mão tentando transmitir confiança.

- eu tenho medo dele me matar, tenho medo de fazer algo contra a minha família - ela se jogou em meus braços e eu a abracei, falando que tudo ficaria bem.

- por favor, Annie, me conta o que está acontecendo - segurei seu rosto entre minhas mãos - eu juro que vou tentar entender, mas precisa confiar em mim.

- foi o Marcos! - ela segurou minha mão - eu conheci ele há um ano atrás no hospital em que trabalho, depois passamos a sair, namorar, e ele me pediu em casamento - ela se afastou e sentou na cama, com as mãos entre as pernas - ele me disse que se chamava William, que tinha uma vida simples, um carro financiado e que a família morava longe daqui - ela olhou para mim - nos casamos no dia vinte, o mesmo dia em que aconteceu o seu acidente - ela ficou em silêncio por alguns segundos e depois voltou a falar - ele recebeu uma ligação minutos depois que assinamos os papéis, disse que era sobre o trabalho e que voltaria no dia seguinte para viajarmos em lua de mel, e foi aí que recebi uma ligação da sua mãe, falando que você ou ele havia morrido.

- e quando chegou aqui, o que aconteceu?

- assim que eu cheguei, eu contei a sua mãe como nos conhecemos, e tudo que ele havia me contado sobre a sua vida simples e tudo mais - ela fungou e passou as mãos no rosto - horas depois ele apareceu no meu quarto, e é claro que eu fiquei feliz e surpresa - ela negou com a cabeça - mas então eu percebi que ele não tinha um arranhão se quer, e foi aí que ele contou todo o seu plano, jogou na minha cara o quanto eu havia sido idiota, o quanto eu fui burra! - ela levantou da cama e levou as mãos até a cabeça - ele fez tudo isso apenas para ficar com o seu dinheiro, ele tentou matar você, para depois casar comigo de verdade e tomar posse de tudo que era seu!

- ele iria casar com a viúva e única herdeira que eu havia deixado? - eu sempre soube que Marcos não prestava, nunca nos demos muito bem, mas confesso que nunca esperei isso dele - e o que você fez? Hein?

- eu quis ir embora, nada disso me interessa! Mas ele me ameaçou, ameaçou a minha família, disse que era para eu aceitar tudo que o advogado falasse, que queria a minha ajuda para pôr as mãos em tudo que era seu, mas eu nunca, ouviu bem? Nunca faria isso! Eu sempre vivi honestamente! Sempre conquistei as minhas coisas com muito esforço e sem precisar de nada de ninguém! Então a minha única saída foi negar toda a herança, eu não queria nada que tivesse custado a vida de uma pessoa inocente! - ele cruzou os braços em cima do peito - eu disse que contaria a verdade, mas ele riu de mim e disse que ninguém acreditaria - ela enxugou as lágrimas - eu iria assinar uma procuração abrindo mãos de tudo quando a sua mãe nos disse que estava vivo - ela se aproximou de mim e agarrou a minha camisa - por favor, me de o divórcio e eu juro por Deus que nunca mais vai ouvir falar de mim, eu estou vivendo um pesadelo desde o dia em que cheguei aqui!

- você o ama?

- o que?

- você ama o Marcos? Se casou com ele era porquê o amava, e aliás, quem me garante que não estava ao lado dele nesse plano? Talvez esteja com medo agora que descobriu que eu não morri, e está tentando jogar toda a culpa somente em cima dele! - segurei o seu braço com força - fala a verdade!

- mas eu já disse toda a verdade! E se não acredita é problema seu! - ela puxou o braço com força - quer saber de uma coisa? Eu vou embora daqui agora mesmo, não pode me prender.

- sim, eu posso, tenta sair daqui para você ver, não vai conseguir colocar o pé nem mesmo nas escadas que te levam até o jardim.

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