A luz suave do amanhecer tentava atravessar inutilmente as cortinas pesadas do quarto de Isabel Fortuna. O relógio marcava seis e meia da manhã quando o som insistente do alarme quebrou o silêncio. Com um suspiro abafado, Isabel estendeu a mão e desligou o alarme, sentindo o peso da noite anterior em seus olhos. Ela se espreguiçou, os músculos protestando pelo pouco descanso, e sentou-se na cama, encarando o tecto por um momento antes de se levantar.
A noite havia sido longa; após a boate, ela trouxera um estranho para seu apartamento, um lugar que refletia sua personalidade — organizado, mas com toques de rebeldia. O apartamento ficava ao norte do centro de Olga City, na Avenida dos Pioneiros, uma rua que pulsava com a vida da metrópole. Isabel olhou para o homem ainda adormecido ao seu lado, um mero desconhecido cujo nome ela nem se dera ao trabalho de perguntar.
Ela suspirou novamente, desta vez com um misto de resignação e frustração, e sacudiu gentilmente o ombro do homem.
— Ei, hora de acordar — disse, sua voz firme, mas não rude.
O homem abriu os olhos lentamente, piscando confuso antes de focar nela.
— Ah, bom dia — ele murmurou, um sorriso preguiçoso se formando em seus lábios.
Isabel levantou-se, os pés tocando o chão frio.
— Bom dia. Você precisa ir — afirmou, sua expressão séria e inabalável.
O homem se sentou, claramente surpreso com a brusquidão.
— Sério? Nem um café? — tentou, um tom de esperança na voz.
Isabel cruzou os braços, inclinando ligeiramente a cabeça.
— Não, desculpe. Tenho um dia cheio pela frente. A porta é logo ali — disse, indicando com um gesto da cabeça.
O homem suspirou e começou a se vestir. Isabel observou por um momento, seus olhos sem qualquer traço de arrependimento. Ela caminhou até a janela, afastando as cortinas e deixando a luz inundar o quarto. O brilho iluminou suas feições, realçando a determinação em seus olhos.
— Certo, estou indo. Foi… uma noite interessante — ele disse, tentando forçar um sorriso enquanto calçava os sapatos.
Isabel não respondeu de imediato. Em vez disso, abriu a porta e ficou ao lado, esperando que ele saísse. Quando ele passou finalmente por ela, assentiu com a cabeça.
— Cuide-se — foi tudo o que disse antes de fechar a porta com firmeza, escutando o clique final da fechadura como um sinal de conclusão.
Após a rápida higiene matinal, Isabel vestiu-se com uma elegância prática, optando por um conjunto de alfaiataria que destacava sua autoridade. Ela desceu pelo elevador até o saguão, onde chamou um táxi e partiu em direção ao distrito financeiro. A sede da Fortuna Tech, a empresa fundada por Frédéric Fortuna, seu pai, ocupava o décimo oitavo andar da Torre Financeira de Olga City, o edifício mais alto e imponente da cidade.
O trânsito de segunda-feira a atrasou, e quando finalmente chegou ao escritório, Isabel correu para sua sala. Sua secretária, Edna Soares, já a esperava com um café amargo — o combustível perfeito para as segundas-feiras.
— Bom dia, Edna. Alguma novidade? — perguntou Isabel, pegando o café e sentindo o aroma forte e familiar.
Edna sorriu contidamente.
— Bom dia, Isabel. Sim, temos alguns relatórios para revisar e o novo engenheiro chegará ainda hoje. Além disso, a dona Lucrécia ligou. Ela quer saber se Chefinha já tomou café da manhã.
Isabel revirou os olhos, mas não pôde deixar de sorrir.
— Ah, mamãe e suas preocupações. Ligarei para ela em um minuto. Obrigada, Edna.
Enquanto bebia o café, Isabel folheou alguns relatórios, seus olhos percorrendo rapidamente as páginas cheias de números e gráficos. Ao telefone, discou rapidamente o número de sua mãe, Lucrécia.
— Alô, mãe. Bom dia! — disse Isabel, um sorriso suave se formando em seus lábios.
— Isa, minha querida, bom dia! Você tomou café da manhã? — a voz de Lucrécia soou cheia de preocupação e carinho do outro lado da linha.
Isabel riu levemente.
— Estou tomando agora mamãe, mas comerei algo assim que puder. Como vai a senhora?
— Ajeitando-me por aqui. Mas preocupada com você filha, como sempre. Tem trabalhado demais, Isabel. Precisa cuidar melhor de si mesma — a voz de Lucrécia carregava uma mistura de reprovação e amor.
Isabel suspirou, embora seu sorriso permanecesse.
— Eu sei, mãe. A senhora sabe como as coisas estão na empresa. Não posso me dar ao luxo de relaxar agora.
— Eu entendo, mas lembre-se de que sua saúde é mais importante. E como foi a noite passada? Fez algo interessante? — perguntou Lucrécia, tentando aliviar o tom sério da conversa.
Isabel hesitou por um momento, pensando no homem que havia mandado embora mais cedo.
— Nada de mais, mãe. Apenas saí com alguns amigos. Nada de importante.
Lucrécia percebeu a evasiva na resposta, mas decidiu não pressionar.
— Tudo bem, querida. Só queria ouvir sua voz e ter certeza de que está bem. Cuide-se, por favor.
— Eu vou, mamãe. Prometo. Nos falamos mais tarde, ok!
— Claro. Tenha um bom dia, filha. Te amo.
— Também te amo, mamãe — respondeu Isabel, desligando o telefone e soltando um suspiro.
Ela sabia que sua mãe estava sempre certa em suas preocupações, mas não podia se dar ao luxo de facilitar. Havia muito em jogo. Isabel chamou Edna novamente.
— Edna, podes confirmar a contratação do engenheiro e verificar se ele já chegou? — pediu, sua mente voltando rapidamente ao trabalho.
— Claro, Isabel. Já estou cuidando disso — respondeu Edna com um aceno rápido antes de sair da sala.
No caminho para a sala de reuniões, Isabel esbarrou em um homem, sem sequer notar sua presença. Ela estava tão imersa em seus pensamentos que não percebeu o impacto até que os papéis voaram ao chão. Edna, seguindo-a de perto, ajudou o homem a recolher seus papéis caídos.
— Desculpe-me! — exclamou Edna, lançando um olhar preocupado para Isabel.
O homem, ainda ajoelhado no chão, olhou para Isabel com um misto de surpresa e irritação.
— Cuidado da próxima vez — disse ele, a voz fria.
Isabel parou e olhou para ele por um instante, os olhos fixos e impassíveis.
— Estarei mais atenta — respondeu, a voz calma, mas autoritária, antes de continuar seu caminho.
Já na sala de reuniões, Isabel encontrou os acionistas e diretores executivos reunidos. A tensão pré-reunião era palpável no ar. Um minuto depois, Frédéric Fortuna entrou, e a reunião de transição começou. Frédéric era um homem de poucas palavras, mas cada uma delas carregava um peso significativo
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Atualizado até capítulo 81
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