Cap. 11

Luiz e Matteo caminhavam em direção aos carros estacionados do lado de fora do galpão.Com  problema envolvendo Felipe resolvido, era hora de ir embora.

_ Seu português está ótimo. Elogiou Luiz.

_ Tenho alguns parceiros no Brasil, sabe, pedras preciosas… por isso, pratico bastante o idioma.

_ Entendi.

_ Eu tenho uma dúvida...  Falou  Matteo olhando para Luiz enquanto caminhavam. _ Por que todo mundo é tão sorridente nesta cidade? Em todo lugar que eu vou, sou atendido com um sorriso. Isso é normal ou é só comigo?

A pergunta de Matteo fez Luiz rir alto. Ele sempre achou engraçado como o primo não conseguia entender o lado mais caloroso da cultura brasileira ou fora da máfia.

_ Por acaso você está pensando que as pessoas estavam sorrindo para você, só porque te acham bonito? Brincou Luiz, cutucando o primo no ombro.

_ Você parece estar pronto para uma briga… Matteo fechou a cara para Luiz.

_ Não é isso… Aqui as pessoas gostam de sorrir, é assim que funciona. O povo é acolhedor, e o sorriso é uma forma de dizer que estão felizes com a sua presença, que você é bem vindo.

Matteo arqueou uma sobrancelha, ainda desconfiado com toda aquela cordialidade. Para ele, o sorriso muitas vezes era um sinal de fraqueza, algo que não existia no mundo da máfia.

_ Parece que vocês estão rindo por qualquer coisa, não vejo tantas pessoas sorrindo assim na Itália.

_ Matteo, quem ousaria sorrir para um mafioso? A pergunta de Luiz fez Matteo sorrir. Luiz estava certo. Muitas pessoas na Itália sabiam quem ele era,e do que era capaz.

Luiz achou graça na expressão de Matteo, sabia que ele tinha uma reputação a manter. Mesmo assim, ele sabia que um pouco de leveza não faria mal ao primo.

_ Só não se esqueça que a vida também pode ser leve, e que sorrir pode ser uma boa maneira de tornar as coisas mais fáceis… Matteo disse nada, olhando espantado para o carro de Luiz.

_ Esse é o carro que você dirige? Perguntou apontando para o carro de Luiz, um SUV modelo do ano.

_Sim, por acaso pensou que eu dirigia uma Ferrari? Retrucou Luiz, rindo da surpresa do primo. A expressão de Matteo era de quem esperava algo mais sofisticado.

_ Você não ganha bem? Questionou Matteo. _ Não é engenheiro?

_ Arquiteto! Corrigiu Luiz, enfatizando a palavra. _ Sim, eu ganho bem, mas eu gosto  desse carro.

Matteo olhou para o carro, ainda um pouco confuso. Ele esperava que Luiz tivesse algo mais chamativo, mais luxuoso.

_ Eu pensei que você teria algo mais impressionante. Comentou Matteo olhando para o carro com um leve desdém. _Sabe, algo que mostrasse seu sucesso.

_ O meu carro não é considerado um carro comum por aqui. Mas além disso, eu prefiro gastar meu dinheiro com outras coisas...

Matteo ficou em silêncio por um momento, pensando na explicação de Luiz. Para ele, ostentação era algo natural.

_Bem, cada um tem suas prioridades… Luiz riu, entendendo o ponto de vista do primo. _ Mudando de assunto, eu tenho alguns conhecidos na cidade, e quando eu voltar para a Itália, vou deixar alguém de olho naquele cara. Não se preocupe…  Matteo parecia estar tramando algo, mas Luiz não tinha certeza.

_ Está bem, mas nada de agir como na máfia, hein? Advertiu Luiz, mantendo o tom descontraído, mas com um toque de seriedade.

_ Vou pensar… Respondeu Matteo, dando um tapinha no ombro de Luiz. _Nos vemos por aí?

_Nos vemos! Luiz sabia que Matteo podia ser imprevisível, mas confiava que o primo agiria com cautela.

Eles se despediram com um abraço rápido, e Matteo observou Luiz ir embora antes de entrar no carro e dar uma ordem ao seu motorista que logo arrancou o veículo indo em direção ao endereço dado por Matteo.

Os homens de Matteo deram tantas voltas com Felipe que ele chegou a pensar que seria morto. O carro entrou em várias ruas e avenidas, cada curva e desvio aumentava a ansiedade de Felipe. Quando finalmente chegaram à casa dele, o pânico já era evidente em seu olhar. A ideia de ser morto começava a se tornar real em sua mente.

Ao entrarem na casa de Felipe, ele deu de cara com Matteo sentado confortavelmente  no seu  sofá, como se estivesse em casa, relaxado, esperando por ele. A visão do mafioso ali, tão à vontade, fez Felipe ficar mais pálido do que já estava.

_  Vocês demoraram…  Matteo deu um sorriso, mas seus olhos não refletiam nenhum sinal de bondade. _ Pensei que eu teria que ir buscá-lo pessoalmente.

Felipe permaneceu calado, tentando manter a compostura. Os homens de Matteo o empurraram para o centro da sala, fazendo-o sentir o corpo reagir ao medo que sentia.

_Coitadinho,  ele está passando mal!  Matteo debochou, vendo o medo nos olhos de Felipe enquanto seu corpo tremia.

Felipe tentou falar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. O silêncio dele apenas alimentava a impaciência de Matteo.

_ Bem, como você não vai dizer nada, estou aqui apenas para refrescar a sua memoria…  não se aproxime nunca mais da mulher do meu primo! Disse Matteo ao se levantar do sofá caminhando até Felipe. _ Já percebeu que estamos de olho em você.

Matteo bateu de leve no rosto de Felipe, como se fosse uma brincadeira, mas o gesto foi carregado de ameaça. Felipe não ousaria revidar, apenas engoliu em seco e evitou olhar nos olhos de Matteo.

_ Se eu souber que você se aproximou dela novamente... Matteo parou, deixando o resto da ameaça no ar. _ Bem, eu já te avisei. Aproveite a chance que o meu primo te deu, pois eu não costumo dar!

Felipe assentiu, ainda sem palavras. O medo era evidente em seus olhos. Ele sabia que, se cruzasse o caminho de Elis novamente, as consequências seriam as piores que ele conseguia imaginar.

Matteo deu um sorriso satisfeito e sinalizou para os homens se retirarem. Antes de sair, ele deu um último olhar para Felipe, como se estivesse lendo sua alma.

_ Boa noite, Felipe…  A voz de Matteo tinha um toque de sarcasmo. _ Espero que tenha entendido a mensagem.

Quando eles saíram, Felipe ficou ali, no meio da sala, tremendo e sem saber o que fazer. Matteo deixou claro que ele não deveria se aproximar de Elis novamente, e Felipe sabia que o homem não estava brincando. Se ele quisesse continuar vivo, teria que seguir as regras.

_ Quem é esse homem? Perguntou Felipe correndo para trancar a porta. Não sabia quem era, de onde era, e a qual organização criminosa Matteo pertencia, mas sabia que ele era extremamente perigoso.

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