Cap. 10

Matteo e Luiz se olharam por um momento se encarando. Matteo sabia que Luiz não gostava de violência, mas também sabia que o primo precisava da sua ajuda naquela situação. A demonstração de força com Felipe tinha sido uma mensagem clara do que ele poderia fazer.

_Satisfeito? Questionou Matteo, levantando uma sobrancelha enquanto guardava a arma na cintura.

_Sim, obrigado pela ajuda, só não precisava chegar a esse ponto.

_Não fizemos nada... Você sabe que pode sempre contar com a família. Matteo deu um sorriso leve, mas seus olhos mantinham o brilho de alguém que está sempre no controle.

— Eu sei...  E você? Já é chefe dos chefes?

Matteo encarou Luiz.  A máfia era um mundo cheio de hierarquias, regras e até intrigas, e Matteo estava no caminho para se tornar um dos mafiosos mais poderosos da Itália.

_ Não, mas falta pouco para eu me tornar o novo  Don. Matteo tinha ambições claras, mas sabia que não poderia se apressar. Havia muita coisa em jogo.

Luiz sabia que a máfia era um território perigoso pelo que o pai contava, mas também entendia a importância da família, especialmente em momentos de crise. Ele não estava envolvido nas atividades ilícitas, e não pretendia se envolver, mas ter o apoio de Matteo naquele momento foi o que ele precisava. Quando soube que o primo estava na cidade, resolveu pedir a ajuda para vigiar o ex namorado de Elis, tinha receio que ele machucasse.

_Não me meta em confusão, hein? Brincou Luiz, mas havia uma certa seriedade em sua voz. Ele não tinha a intenção de fazer parte daquele mundo, assim como o pai que saiu jovem da máfia.

_ Não se preocupe, primo. Vou cuidar para que tudo fique tranquilo por aqui. Respondeu Matteo, mantendo o sorriso. _E sempre que precisar de mim, pode me chamar.

_ Sim... mas a minha vida é tranquila, provavelmente não vou mais precisar de você outra vez.  Afirmou Luiz.

Luiz e Matteo ficaram em silêncio por um momento, observando o carro que levava Felipe desaparecer pela rua.

_ Lembra, a última vez que lutamos, tínhamos dezoito anos... se não me engano. Talvez devêssemos lutar outra vez, pelo menos para relembrar os velhos tempos. Falou Matteo em tom provocativo, sorrindo com uma lembrança. Ele sempre admirou Luiz por sua persistência e habilidade nas aulas de luta.

— Se você quiser, podemos treinar juntos, lutar não. Mas vai precisar pegar leve, eu não tenho a mesma resistência que você. Respondeu Luiz. _ Há anos que eu sequer treino.

_ Magrelo! Matteo sorriu ao se lembrar dos primeiros dias de treinamento dos dois. Luiz era o aluno mais baixo e magro entre todos, mas sua agilidade e determinação faziam com que ele se destacasse. _Você sempre foi um bom lutador. Quando o seu pai procurou o meu, pedindo para que você treinasse com os meninos da nossa idade, ele aceitou sem questionar. Meu pai sempre gostou do seu, mesmo ele tendo deixando a máfia por causa de uma mulher... Sabia que o meu pai tinha receio que você se machucasse por causa do seu tamanho e pedia para não usássemos muita força com você.

_ Serio? Meu pai sempre quis que eu aprendesse a me defender. Ele saiu da máfia muito jovem, logo depois que conheceu minha mãe. Mas queria ter certeza de que eu saberia me proteger, por causa do meu tamanho, mas eu cresci, sou quase da sua altura.

_ Você e seu pai sempre pensando nas mulheres que amam… Eu nunca vou me render a esse sentimento.

_ Vou lembrar disso quando anunciarem o seu casamento. Brincou Luiz, dando um soco no ombro de Matteo.

Matteo riu e retribuiu o soco com mais força, para lembrar a Luiz que ele agora era o mais forte.

_ Matteo, por que você sempre implicava comigo? Perguntou Luiz, curioso. — Eu nunca fiz nada para te provocar, e você sempre parecia pronto para brigar comigo.

Matteo coçou a barba, como se estivesse lembrando de algo distante. Ele sabia que, no fundo, havia mais do que apenas implicância.

_Você sempre se destacava nas aulas de luta,  nas aulas de direção... Era incrível como você sempre conseguia escapar de todas as perseguições de carro. Começou Matteo, explicando seu ponto de vista. _ E eu sempre escutava todos falando que você tinha vocação para ser Don, se quisesse… Era como se você fosse uma ameaça para mim, uma espécie de rival potencial.

Luiz riu, mas Matteo não parecia brincar quando falava da época em que ele se destacava. Mesmo sendo mais jovem e menor, Luiz sempre se sobressaía de alguma forma.

_ Eu não sabia disso, e nunca tive a intenção de entrar para a máfia, sempre quis ficar longe desse mundo. Estava lá porque meu pai queria que eu aprendesse a me defender.

_ Agora eu sei disso... Disse  Matteo olhando para Luiz. _Mas naquela época, pelo menos para mim, parecia que você era o candidato perfeito. Todo mundo gostava de você, da sua dedicação, do seu bom humor... e as garotas? Elas ficavam loucas pelo seu sotaque. Matteo parecia lembrar de algo engraçado, como se aquilo o tivesse irritado no passado, mas agora era apenas uma memória distante.

_ Não tinha com o que se preocupar, primo. Nunca foi minha intenção entrar para a máfia. Afirmou Luiz. Matteo assentiu, parecendo mais relaxado.

_Naquela época, eu só via você como um rival. Alguém que poderia tomar meu lugar na hora que quisesse. Admitiu Matteo, lembrando de como era fácil subestimar Luiz por causa de seu tamanho, mas também era perigoso por causa de sua habilidade. _ Eu era inseguro, mas não sou mais.

_ Estou vendo. E quando você voltar para a Itália?

_ Ainda não sei. Já resolvi tudo o que vim fazer aqui, mas como me pediu para ficar mais alguns dias, agora quero me divertir um pouco, sair, ir a uma boate…

_ Cuidado, pode se apaixonar por uma brasileira. Falou arrancando uma risada em Matteo.

_ Eu me apaixonar? Matteo começou a rir._ Isso JAMAIS vai acontecer! Afirmou com convicção pensando que seu coração estava blindado para esse tipo de sentimento.

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