O meu anjinho

Naquela manhã, por ter recebido mensagem do Sidney, o meu coração bobo se iludiu e eu me senti mais leve. Embora não estivesse nem um pouco feliz por causa de toda situação da noite anterior, senti um fio de esperança.

Tomamos o café da manhã e o Carlos nos levou até a escola, se despediu de mim e das crianças e foi para o trabalho.

Não havia respondido o Sidney ainda, não sabia ao certo o que responder ou mesmo se deveria responder. Ele era imprevisível demais. Pensando que já tivemos várias chances de estarmos juntos e ele me deixou em todas elas era revoltante pensar nele e principalmente em tentar mais uma vez com ele.

Após muito tempo pensando, resolvi responder à mensagem com o básico e óbvio.

📨 Oi! Estamos bem.

📨 Que bom!.. Eu fico feliz.

Trocamos algumas mensagens, mas não falamos muito mais de nós dois.

Os dias passaram rápido, quando completei 8 semanas de gestação, fiz o exame de sexagem fetal e descobri que estava esperando uma menina. Eu já imaginava que seria menina por causa do dia que trans&! com o Sidney que foi antes da ovulação.

Uma semana depois, o Sidney me disse que a filha dele com a Dayana estava prestes a nascer e que ele queria muito me ver antes disso. Marcamos de nos encontrar e naquele dia chovia muito, tivemos um encontro rápido e muito gostoso. Era a nossa despedida, pois alguns dias depois a filha dele nasceu e ele se mudou para a casa da família da Dayana. Fiquei triste, mas eu sabia que não tínhamos futuro nenhum juntos.

O tempo passou rápido e quando me assustei já estava entrando no terceiro mês de gestação. Mais uma vez, como sempre acontecia, o Carlos abusou de mim, mas dessa vez foi muito brutal. Ele não economizava na força das estocadas, mesmo sem lubrificação ele não se incomodava e me machucou muito. Senti uma dor descomunal.

- Querida, te machuquei? você está chorando... - Ele disse sem ao menos se lembrar que eu me recusei a trans@r e que reclamei de dor.

A dor naquela noite foi dilacerante, muito mais que nas vezes anteriores.

- Sim, você me machucou. Machucou a mim e a minha filha. - Sai da cama me arrastando e fui até o banheiro e ele foi atrás de mim insistindo em me ajudar. Não queria ajuda ali. Eu queria respeito e ele não pode me oferecer.

Sentei-me no vaso sanitário sentindo fortes dores e não conseguia conter as lágrimas. Senti que estava perdendo sangue... O Carlos também viu que deixei marcas de sangue desde a cama até o banheiro, se assustou e me arrastou para o chuveiro para tomar um banho e me trocar para ir ao hospital. O sangramento aumentou muito desde que saímos de casa até chegarmos ao destino.

Ele com uma cara de cachorro arrependido e eu chorando e dor entramos no hospital mais próximo para ser atendida.

Assim que entramos, vi a Janaína que levava a filha mais velha do Sidney ao médico. Assim que me viram vieram falar comigo. A pequena garota me abraçou e não pude deixar de imaginar o pai dela do meu lado cuidando de mim. Chorei ainda mais depois de encontrar com elas.

O Carlos conversou com a recepcionista enquanto eu fiquei com a Janaína. Tive que dizer que a minha gravidez era de risco e por isso o sangramento.

Assim que a recepcionista pegou os meus dados, já me encaminhou para o atendimento. O médico não era o que acompanhava a minha gravidez, mas era um bom médico. Ele me examinou e ao constatar que havia alguns hematomas em regiões onde não era comum, ele fez uma cara estranha, fez algumas perguntas e vi que mandou mensagem para alguém no celular. Ele me orientou a fazer a ultrassom de emergência, e me levou até a sala de ultrassom e imagens para realizar o exame.

Enquanto a enfermeira me preparava, ele pediu que o Carlos esperasse do lado de fora, assim que tudo estava pronto, ele chamou o meu marido.

Realizamos o exame e o médico disse que infelizmente não havia sinais vitais no meu bebê, que o meu corpo poderia se encarregar sozinho da expulsão, ou se fosse da minha vontade, poderíamos fazer o procedimento médico para a retirada do que restou.

Fiquei em choque e o Carlos também. Naquele momento ele me pediu perdão, mas já era tarde demais. Decidi ali que não queria mais viver aquela vida. Não precisava nem merecia passar por aquilo. Estava perdendo o maior amor que uma pessoa pode ter. O meu anjinho que não foi programado, mas eu a amava muito. A dor física nem se comparava a dor de perder o meu bebê.

Não tinha condições de escolher o que fazer com o bebezinho que estava dentro de mim, então o Carlos respondeu por mim e decidiu realizar o procedimento. O médico então me encaminhou para o centro cirúrgico e o Carlos não pode entrar. Fiquei apagada por algum tempo e quando acordei já estava no quarto. O Carlos parecia arrependido, e eu também estava por não ter saído da vida daquele imbecil antes. Talvez o meu anjinho ainda estivesse em segurança se eu tivesse sido mais corajosa e acabado com essa farsa antes. Mas não adiantava reclamar aquilo que não podia mais ter volta.

Assim que o dia amanheceu recebi uma mensagem do Sidney. Ele não sabia o que havia acontecido direito, mas sabia que eu estava no hospital porque a filha dele falou pra ele, então logo cedo quis saber como estava.

📨 Oi, bom dia meu anjo. Como está vc e a bebê? - Ele perguntou

📨 Bom dia. Ela não existe mais. Estou de coração partido. 💔 - Respondi em meio aos prantos.

Ficamos um tempo trocando mensagem enquanto o Carlos dormia na poltrona ao lado. O Sidney também ficou arrasado, pois, segundo ele, mesmo de longe amava a nossa filha.

Após um tempo, o Carlos acordou e tivemos uma última conversa.

Ele pediu perdão e implorou para continuarmos o casamento, mas para mim, perder a minha filha foi a última coisa.

Depois que tive a conversa com o Carlos no hospital não o vi mais. Soube posteriormente que o médico havia chamado a polícia e denunciado o meu ex marido por agressão e abuso sexual. Ele estava preso.

Quando recebi alta, fui em casa e juntei todas as minhas coisas e dos meus filhos, fui até a minha mãe e despedi-me dela, comprei passagens, e saí da cidade com os meus filhos com o propósito de nunca mais voltar. Troquei também de número, só a minha mãe sabia o meu contato. Era bem melhor assim.

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