Pigmalião

A família Bianchi retorna para Nova York após o feriado de 4 de julho, e as rotinas se seguem.

Helen começa a ensinar etiquetas a Alice.

—Hoje teremos uma nova lição,aprender a caminhar com graça e elegância.

— Eu ando mal?!

Helen ri

—Não! Mas para estar em nosso meio, você precisa mostrar classe e altivez.

Ela pega um livro e manda Alice colocar sobre a cabeça, ela anda com saltos altos enquanto tenta se equilibrar.

—Isso é difícil, dona Helen!

—Você acostuma , vamos! Graça e beleza! Barriga pra dentro, bumbum empinado, cabeça erguida.

—Ai, posso parar um pouco? Meus pés estão doendo!

—Pode,minha querida!

Alice se joga no sofá e Helen a olha,imediatamente ela se ajeita sentando na beira do sofá com a coluna reta.

—Por que a senhora está fazendo isso?

—Isso o quê?

—Me ensinando a ser uma dama da sociedade.

—Um dia você irá precisar.

—Eu? Duvido!

—Por que?

—Uma moça como eu enriquece só se ganhar na loteria.

—Ou se casar um milionário.

—Ah não...impossível!

Helen dá uma risada enigmática. Ela já notou os olhares de marido para a moça, embora ele tente disfarçar e fugir, mas de Alice, nada ela nota. De uma certa forma isso a agrada, sabe que não será traída no seu leito de enfermidade, e o fato da sua acompanhante ser uma moça ingênua e não perceber os olhares de Andrew a faz ter certeza de que ele terá uma esposa perfeita ao seu lado.

—As vezes eu acho que a senhora está me preparando para alguma coisa.

—Já ouviu falar de Pigmalião?

—É uma lenda grega,não é?

—Sim! Pigmalião criou uma estátua de Afrodite,colocou tantos detalhes a ponto de tansformá-la na imagem da mulher perfeita e ideal. Ele se apaixonou por ela e pediu a deusa do amor para torná-la real. Ele a deu o nome de Galatéia.

—Interessante, não conhecia o mito, mas já li artigos da psicologia falando sobre isso.

—O mito de Pigmalião e Galatéia fala sobre a idealização do ser amado, e que quanto mais desejado e perseguido, acaba por tornar-se personificado, assim como Pigmalião que tanto amou e desejou Galatéia que conseguiu por fim que ela ganhasse vida.

Alice olha para o alto, pensa e começa a compreender algumas coisas, Helen a quer transformar. Mas por quê?

—Alcançar a perfeição nesse desejo pode ser algo frustrante, já que não podemos esquecer que o outro também tem personalidade própria e encontrar alguém que corresponda inteiramente aos nossos anseios é praticamente impossível!

—Você é incrível Alice! É tão inteligente e observadora! Sua conclusão foi perfeita! E tem razão, temos que respeitar as individualidades de cada pessoa. Olha, eu estou lhe ensinado códigos de etiquetas, mas nunca perca a sua essência, o seu caráter lindo,doce e amável!

No escritório da construtura Bianchi, Andrew trabalha exaustivamente.

—Precisamos visitar essa obra! Está atrasada demais, e não podemos permitir isso! Preciso que vá até lá ainda hoje, Harry. Aperte eles!

—Pode deixar pai. - o filho o observa - O senhor está tenso, tem trabalhado demais,tem que diminuir seu ritmo

—Se eu parar eu surto! Aqui eu me distraio.

—Pai, nós precisamos de ajuda aqui. Porque não pede ao Sam para voltar?

—Porque o seu irmão não é confiável! E ele já fez sua escolha na vida.

—O senhor sempre passando a mão na cabeça dele!

—A questão não é essa, o Sam é problemático,tem traumas e você sabe do que aconteceu da última vez em que ele esteve aqui.

—Foi um problema gigantesco, quase coloca as nossas vidas em risco e os negócios do tio Vicenzo também.

—Exato! Por isso o prefiro bem longe!

—Mas a mamãe? Por que não vem visitar a própria mãe?! No feriado ela só falava na saudade que sente dele.

—Eles se falam quase todos os dias.

—Mas ela quer vê-lo,pai! Ela está morrendo e precisa ver o filho.

Andrew suspira.

—Vou ligar e pedir para ele vir visita-lá o mais rápido possível.

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Helen continua a ensinar a Alice, mostra os gostos do marido, a formas como ele gosta de suas roupas,das rotinas e hábitos.

Cada vez mais debilitada, Helen se cansa fácil precisando fazer várias pausas durante o dia.

—Por hoje é só Alice! Vai visitar a sua prima amanhã?

—Não,vou tirar esse final de semana para organizar minhas coisas, o meu quarto...na segunda feira começo a minha pós graduação.

—Ah sim...você comentou.

Ela se despede e encontra Andrew no corredor chegando do trabalho,ele olha para baixo,dá um boa noite seco e Alice estranha.

—Então tá, né? Homem bipolar ! - fala baixinho.

Mal sabe ela que aquela era uma tentativa de fuga dele,passar ao lado de Alice fazia o seu coração acelerar, o seu olfato aguçar e seu corpo desejar.

Ele entra no quarto e solta a respiração, para atrás da porta e suspira.

"Meus Deus me ajuda! Tira esses pensamentos de mim!"

No dia seguinte, sua folga, Alice permanece em casa, para desespero de Andrew.

—Porque a Alice não saiu hoje?

—Quer organizar o quarto e os pertences dela,vai começar a estudar na segunda feira.

—Ah sim...- ele volta a leitura com Helen a sua frente também lendo um livro na varanda da suíte do casal. De repente escutam uma música ecoar baixinho.

—Está ouvindo? De onde vem ?

—Deve ser a Alice, querido, ela me perguntou se poderia ouvir música enquanto limpa o quarto,me pediu para fazer mesma a limpeza.

—Pelo menos é uma melodia agradável.

Ele se sente incomodado,não pela música, mas por ouvir a voz dela ao fundo, o som entrava direto no seu coração. Helen percebe a inquietação do marido.

—Está te atrapalhando? Posso pedir a ela para desligar.

—Não, pode deixá-la. Eu estou desconcentrado mesmo,vou até a sala de TV.

Ele a dá um beijo e sai passando pelo quarto de Alice, que estava com a porta entreaberta, dá uma olhada pela fresta e a vê descalça, de shorts e camiseta, cantarolando e dançando sozinha enquanto limpava e colocava objetos no lugar. Seu coração queimou com um sentimento estranho e seu corpo ardeu de desejo, ela sobe em cima de banquinho e tenta alcançar a prateleira alto para tentar limpar,eke a vê desequilibrar e quase cair,num impulso abre a porta e corre para ampará-la.

Ela cai no colo dele.

—Senhor Andrew! Obrigada,mas de onde saiu tão rápido?

Com ela nos braços,seus olhar era fixo naquele rosto lindo e a vontade dele naquele momento era só de beijar a boca dela,qual gosto ela deveria ter? Será que era de frutas e flores,assim como cheiro que exala? A mente dele se perdeu em diversos pensamentos.

—Senhor Andrew? Já pode me colocar no chão!

— Ah,desculpa!

Ele a devolve ao chão e Alice o questiona.

—O senhor deseja alguma coisa?

"Você!" - ele pensa

—Vim pedir para abaixar um pouco o som,ou colocar fones de ouvido. A música estava desconcentrando a minha leitura.

—Perdão! Não era a minha intenção, a dona Helen permitiu por isso eu estava com o som ligado, mas está tão baixo e...

—Calma! Eu não estou brigando com você, deve ser porque a sua janela está aberta e nós dois estamos na varanda.

Ela abaixa a cabeça envergonhada e ele a levanta com a ponta dos dedos.

—Não fique assim,está bem? Eu é quem estou chato essa semana.

Ele acaba aproximando naturalmente o corpo do dela como se a fosse beijar e Alice por fim percebe a atitude do patrão e se afasta.

— Vou desligar o som assim não incomodo mais,o senhor por voltar a sua leitura.

Como se despertasse de um devaneio, ele sacode a cabeça,pede licença e sai do quarto.

Andando pela casa,tentando entender a atitude que teve e começa a falar sozinho.

—A Helen que me desculpe, mas terei que demitir essa moça,para o nosso bem.

A noite ele deita e não consegue dormir,estava incomodado demais, Alice povoou os seus pensamentos o dia inteiro, mesmo não a vendo mais depois do ocorrido daquela manhã, só pensava no toque macio da sua pele, nos lábios cheios e rosados, no cheiro fresco e delicado que ela tem. Sua real vontade de cruzar o corredor, bater na porta dela, se trancar lá dentro e passar a noite saciando-se de todo aquela doçura.

—Eu só posso estar louco! Como posso pensar essas coisas, ela é só uma menina e eu sou um homem maduro, casado e fiel ! - ele acaba falando alto e Helen escuta,mas permanece imóvel fingindo estar dormindo. Ele enfim se aquieta e ela pensa.

" Está feito! Agora o Senhor pode me chamar,estou pronta para partir!"

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