4 de julho

Os dias continuam a passar e Andrew evita o quanto pode ficar a sós com Alice e quando ela se senta a mesa com eles,evita olhá-la ou puxar assunto, embora Helen insistentemente o chame para a conversa.

—Quando volta a Milão, Maya?

—Na próxima semana, papai!

—Já estou com saudades da minha filhota!

—Eu também! Mas promete não demoro muito a voltar, venho para Ação de Graças!

—Estamos em julho então irá demorar sim! - diz Helen

—Prometo tentar voltar antes ,mamãe!

—Depois de amanhã é quatro de julho, podemos ir à casa do lago. Faz tempos que não vamos,quero ir até lá pela última vez.

Um silêncio triste se faz e Alice muda o assunto.

—Terá queima de fogos?

—Sim, e é linda!

—Faremos um churrasco na beira do lago para vermos os fogos. - diz Andrew

Alice não consegue segurar o riso.

—Qual é a graça? - pergunta Maya, sempre com um pé atrás com ela.

—Desculpem-me! Mas vocês falam de churrasco...o churrasco de vocês é horrível! - ela dá uma gargalhada e não consegue parar,fazendo o casal rir também

—No Brasil é diferente, né? Já estive em uma churrascaria brasileira na Flórida.- diz Andrew

Alice dá um gole na água, e se recompõe.

—É, hambúrguer e espeto de legumes não se comparam com uma picanha suculenta na brasa.

—Você é muito espontânea, Alice! - diz Helen

—Desculpe,deveria ser mais contida!

—Não,é esse seu jeito de ser que a torna encantadora. - Andrew fala naturalmente e depois percebe a força da sua frase ao ver o olhar sem graça de Alice e o olhar irritado da filha.

—Exatamente, Alice tem deixado os meus dias mais leves,aprecio muito a sua companhia.- Helen tenta contornar.

O quatro de julho chega, os Bianchi vão até a sua casa no Lago Tahoe,na Califórnia.

—Aqui é lindo! E está mais agradável do que em Nova York.

— Alice, a viagem foi cansativa. Me ajude a me recolher e descansar?

—Claro! Vou chamar os enfermeiros.

Assim que Helen se recolhe, os filhos se divertem a beira do lago.

— Vem Alice! A água está ótima! - diz Rebeca.

—Estou de boa aqui! Bem sequinha! Obrigada!

Harry começa a jogar água nela

— Agora está molhada ,vem logo!

— Está bom, vou me trocar.

Ela entra e encontra Maya.

— Alice, posso falar com você?

—Pode! Alguma coisa com a sua mãe?

—Não, eu é quem tenho umas dúvidas sobre você!

—Sobre mim?

—Qual é a sua real função?

—Dama de companhia da sua mãe.

—Só isso? Sua função é pajear a minha mãe?

—Entenda como quiser.

—Claro...e seu relacionamento com o Noah?

—O que tem o Noah?

—Vocês tem alguma coisa?

—Quer saber se estamos namorando?

Maya não responde.

—É proibido? Funcionários não podem se relacionar entre si?

— Não é isso!

—Então,o que é?

—Apenas porque ele é um cara legal,não merece sofrer mais do que já sofreu por amor.

—Ele é uma pessoa muito querida e especial, mas não temos nada além de uma amizade sincera.

Maya solta o ar aliviada.

—Tudo bem, vou deixar você em paz.

Ela sai e Maya reflete

—Eu tenho que parar com esses ciúmes bestas, ela nunca fez nada demais!

Alice no seu quarto coloca um biquíni, ela é uma mulher discreta e composta, não gosta de roupas absurdamente decotadas ou curtas e suas roupas de banho seguem o mesmo padrão,mas mesmo assim, ainda parecem ousados em frente aos biquínis americanos,então ela usa um shorts jeans e sai da casa, no corredor encontra Andrew que desvia o olhar da sua figura.

—O senhor não vai para o lago?

—Vou apenas observar vocês se divertindo.

Os dois chegam juntos a área externa, ele senta na cadeira enquanto toma uma limonada e adianta seus trabalhos pelo notebook. Alice vai ao deck e senta para entrar na água.

—Tira o shorts! - diz Rebeca

—Melhor não, tenho vergonha !

—Um corpo lindo desses era pra dar orgulho. Tira o shorts e vem! - fala Maya

—Ah... tá bom!

Ela se levanta, abaixa a peça e a coloca na cadeira. Ao longe Andrew paralisa.

— Meu Deus! Parece uma ninfa ! - ele sacode a cabeça - Estou ficando louco! Eu não posso ter esses pensamentos, deve ser o longo jejum de sexo!

Enquanto ele observa, por dentro dos óculos escuros, a brincadeira dos filhos e da funcionária dentro do lago,sua mente viaja. Se imagina ali,dentro daquela água tendo Alice nos braços, enquanto a beija e desata o laço do seu biquíni.

Seu corpo dá sinal e ele afasta os pensamentos para retornar ao normal.

A noite, seu irmão Vicenzo chega junto com a família para passar o feriado.

—É bom ver o Helen sorrir um pouco. Ela está tão abatida, Andrew!

—Cada dia mais debilitada - ele suspira.

—Mas desde quando essa moça chegou ela ficou mais animada,sorridente.

—Sim, a Alice é divertida, solar,animada, trouxe mais leveza para a Helen.

Vicenzo olha para o irmão e vê um brilho diferente no seu olhar.

Enquanto eles fazem o churrasco, os mais jovens conversam animadamente tendo Helen ao meio, recebendo carinho e cuidado dos filhos e sobrinhos.

—O churrasco está pronto, mas a Alice não vai comer!

—Por que ,senhor Andrew?!

—Você disse que o churrasco americano é horrível.

—Foi brincadeira...- ela fica sem graça e se encolhe na cadeira enquanto todos riem dela.

Os hambúrgueres são servidos e e em seguida começa a queima de fogos em cima do lago.

—Nossa, é lindo! - Os olhos de Alice brilham, mas em seguida faz um comentário em tom de pilhéria - Mas não se compra ao réveillon de Copacabana!

Ela dá uma gargalhada.

—Você é terrível, menina! Gosta de fazer graça com a nossa cara! - Helen sorri enquanto tem o marido atrás de sua cadeira de rodas ,a acariciando os ombros.

No dia seguinte antes de retornarem à Nova York, Andrew faz um passeio de barco a pedido de Helen,somente os dois.

—Está se sentindo bem,meu amor?

—Estou ótima!

—Está contente, fico feliz em te ver assim.

—Estou aproveitando os segundos que me restam de vida.

—Não fala desse jeito, sabe que não gosto!

—Mas essa é a realidade,Andrew! Eu estou morrendo e você sabe disso!

Ele seca as lágrimas disfarçadamente.

—Abre o seu coração ao amor assim que eu partir,quero que a traga aqui e que viva dias felizes com essa pessoa também.

Ele permanece calado.

—Olhe para o lado, assim que eu for e talvez enxergue que a felicidade estará mais próximo de você do que imagina.

De volta a casa, Vicenzo questiona o irmão.

—O que está acontecendo?

—Do que está falando?

—Eu vi seu olhar para a Alice,está encantado por ela!

—Está vendo coisas demais!

—Eu te conheço, meu irmão!

—Eu amo a Helen! Sempre a respeitei em todos esse anos, fui e sou um marido fiel e devotado!

—Calma! Não estou dizendo o contrário! Sei o quanto a ama, conheço e seu caráter! Mas o fato é que você olha para essa menina de uma forma diferente.

—É um carinho paterno

—Se se for algo doentio! Porque nenhum pai olha para filha daquele jeito!

Andrew não tem como escapar e confessa seus sentimentos confusos ao irmão.

—Eu me sinto atraído por ela, só isso! Ela é bonita, naturalmente sensual, divertida, espontânea e as vezes até inocente...

—Você está apaixonado por ela?!

—Não...deve ser carência sexual. Desde quando a situação da Helen se agravou, paramos de fazer sexo,isso há um pouco mais de seis meses.

—É muito tempo! Deve ser por isso que você está se sentindo assim. O que pretende fazer?

—Ficar o máximo de distância dela, mas parece que a Helen a traz cada vez mais pra perto, aí fica difícil! Mas vou dar um jeito, essa sentimento não vai crescer!

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