Investigando o passado dele

Cheguei cedo na loja. A secretária estava esperando. Nos cumprimentamos e passei algumas informações necessárias. Logo chegariam os primeiros clientes.

Era a época dos presentes de fim de ano. Os mais apressados, se antecipavam em fazer suas encomendas de compotas, queijos, vinhos. Tínhamos uma variedade de produtos que agradava aos clientes.

A manhã transcorreu bem agitada mostrando boa margem de lucros até o final da semana. Por outro lado, eu estava com os pensamentos em outro lugar. Abri a bolsa e percebi que meu celular não estava. Havia esquecido na kitnet. O que diria a mamãe para e buscar? O pior eu havia esquecido...James não estaria lá. Precisaria de uma desculpa para trazer James até a cidade.

Liguei da loja para ele urgente! Respondeu-me que poderia ir até o porteiro que ele autorizaria minha entrada para apanhar um objeto. Havia uma chave mestra caso necessitasse. Isso foi um alívio! Diria a mamãe que na hora do almoço precisaria sair. Não queria levantar suspeitas!

A mamãe me havia dispensado a tarde, poderia voltar para casa. Ela daria conta com a nova funcionária. Me apressei e cheguei a kitnet. Entrei, lá estava meu celular na mesa da cozinha.

Não me contive e dei uma vasculhada sem deixar rastros no armário dele. Havia uma algumas caixas . Fotos de quando era bebê com sua família. Atrás, a dedicatória que poria um fim na minha dúvida.

“Querido Albert James, aos cinco meses com amor, titia".

Bingo! Então, o possível garoto do site seria ele. Busquei mais indícios e encontrei fotos de muitas garotas com uniforme de colegial, poderiam ser amigas de quando ele ainda estudava. Pareciam ser da mesma instituição. Tipos diferentes com idades entre 15/18 anos. Mas, não haviam rapazes nas fotos eram individuais e me pareceu serem tiradas com uma máquina profissional a certa distância. As meninas não pousavam diretamente para a lente, era como se nem soubessem que estavam sendo fotografadas. Abri algumas gavetas, não havia nada. Só roupas. Mas encontrei uma pequena chave com uma etiqueta n.5 , escrita depósito. Fiquei um pouco curiosa e desci correndo pelas escadas para não levantar suspeitas! Na garagem havia sim várias portas numeradas. Alí as pessoas guardavam objetos maiores que não cabiam nos apts. Como não havia câmeras na época, pude entrar sem ser vista no pequeno depósito. Estava até organizado. Ele não tinha nada mesmo para pôr alí . Havia objetos da antiga moradora que deixou para trás para doações. Uma caixa chamou minha intenção... Era de madeira mas havia um cadeado pequeno. Como poderia abrir, onde estaria a chave? Pensei um pouco... estaria com o James? Mas qual seria o conteúdo dela?

Dei uma balançada e alguns papéis sacudiam dentro. Pareciam muitos! Coloquei no lugar e voltei ao apt.

Fui até a cozinha abrindo a gaveta para anotar os nomes dos comprimidos que haviam alí, mas para minha surpresa... já não estavam lá. Procurei por toda parte e não os encontrei. Como não queria demorar muito, fui embora.

Dirigi por todo o caminho pensativa...Qual segredo teria naquela caixa? Talvez nenhum! Poderia ser documentos da antiga dona, ou dele mesmo. Fiquei de investigar da próxima vez que fosse lá. Se houvesse uma chave com característica daquela caixa com o James, eu daria um jeito de descobrir.

Cheguei ao sítio. Estava frio demais. Essa época de Novembro, Dezembro, Janeiro temos esse clima acolhedor. Eu gostava e nem me agasalhada tanto. Nossa casa era aconchegante e climatizada para essas ocasiões. Sem contar o charme da lareira.

Estacionei e encontrei o James almoçando. Sentei e pedi um prato para Ruth.

Estou faminta!

Ah, esqueci de desejar: Boa tarde rsrs.

— Pensei que não viria almoçar Lya, seus pais vão comer por lá. Há camarão para fritar, você quer?

—Eu e o James vamos comer o um assado com batata, arroz e lentilhas.

— Não se preocupe Ruth, eu mesma frito e como com arroz

— Você não gosta de carne Lya?

—Sim James, eu como carne, mas se tiver outra opção eu dispenso, sem contar que detesto lentilhas. Ficarei com as batatas fritas e o arroz e camarão.

Comemos juntos, falando trivialidades das festas do fim de ano.

A Ruth levantou-se e foi dar sua caminhada digestiva rsrs, como ela mesma falava.

—Eu quero te agradecer por ter deixado pegar o celular na kitnet antes que dessem falta.

—E por que não deixaria ?! Eu vi sua aflição! A casa é sua também.

—Obrigada James.

—Mas, não está incorreto cópias de chaves em mãos de estranhos? Sei que são normas, mas se desaparece algo lá ?

—Lya, se houver alguma ameaça de gás, incêndio ou alguém passando mal, essas chaves podem salvar vidas!

—Além do mais, tudo o que há dentro da kitnet está catalogado, caso seja subtraído terei de verificar antes de fazer qualquer denúncia.

—A chave não fica exposta. O chefe do condomínio é o responsável e ele autoriza ao porteiro entregar. Cabe ao morador ver a quem deixou entrar. É um pouco às cegas mesmo. Seja o que Deus quiser!

—Com certeza James!

—Mas então, a Ruth comentou que vai entrar de férias... Vocês colocam alguém para substituí-la?

—Não imagino essa casa sem um braço firme como a da Ruth. Vocês andam muito ocupadas últimamemte.

—Temos apenas que nos organizar James. A Ruth mandará duas vezes por semana uma prima para limpeza geral.—O resto ficará por minha conta. Quanto o almoço vamos revezando.

— Nem sempre estamos em casa. Mas, agora há você aqui e precisa comer.

—Lya, por mim não se preocupem. Eu me mudei e posso fazer minha comida . É só um mês. A gente se vira.

—Bom saber que posso contar com a sua compreensão. Amo você!

—Ohh! Não sabia disso rsrs! Também te amo potranquinha.

***

Conversamos um pouco mais e ele voltou ao serviço. As baias estavam bem mais confortáveis para os animais com as idéias do James.

Eu tomei uma ducha e adormeci lendo um pouco.

Por volta das 6pm a Ruth saiu. Meus pais ainda não haviam chegado. Fui até o celeiro me despedi do James que estava de saída para a cidade.

Demos uns amassos rápidos. Não podíamos arriscar. Voltei para casa.

Estava ansiosa para terminar minha investigação sobre ele. Se realmente era o Albert James, por que escondeu do papai seu nome completo e não me contou que havia sido um Gogo boy? Ele disse ter uma família estruturada.

Apesar daquela história triste do seu passado. Fico pensando então...Se ele sofreu e até hoje não esqueceu dos abusos sofridos, não deveria usar o corpo como objeto de desejo.

Essa era minha indagação porque alguns fatos estavam subentendidos!

Preferi aguardar outra oportunidade para pegar a chave e abrir aquela caixa no depósito.

***

Papai e mamãe chegaram. Estavam numa alegria que só vendo. Sairiam para jantar num restaurante na cidade.

Por volta das 9pm, eu desci para comer algo. Fiz um sanduíche de filé com suco de morangos. Voltei para sala de estar para procurar algum filme. Mas nada de bom estava passando. Liguei o som e deitei no sofá. De repente me veio uma suspeita sobre o celeiro. Levantei rápido, corri pra lá.

A porta passou a ficar trancada desde que papai o transformou em uma espécie de bangalô para visitantes. O James tinha vivido lá como funcionário. Havia um novo galpão distante da casa para guardar tudo.

O James não sabia que havia mais de uma chave guardada na dispensa. Eu mesma havia feito cópias na época da reforma antes dele vir trabalhar lá.

Voltei rápido e peguei o molho, depois de algumas tentativas encontrei a chave que abriria.

Ele sequer podia imaginar que eu estaria alí. Observei bem antes de mexer nas coisas . Levantei o colchão, abri a gaveta da mesinha ao lado do cama, embaixo do microondas. Levantei o tapete de sisal, não havia nada. Eu estaria supondo algo que talvez nem estivesse alí.

Havia uma escrivaninha onde ele organizava as notas. Abri as gavetas, e para minha surpresa tinha um molho de chaves, mas não havia nenhuma que pudesse ser daquela caixa.

Eu estava desistindo!

Mas ainda havia o armário do banheiro. Havia creme dental, escova, shampoo. Passei a mão por cima do armário, haviam lâminas de barbear velhas numa caixa , também uma pequena chave. Seria uma coincidência? De qualquer maneira eu não poderia arriscar. Peguei a minúscula chave e levei comigo. Se ele a escondeu alí , decerto achava seguro .

***

O James havia ligado. Eu inventei que estava dormindo. Ele acreditou. Conversamos bastante até às onze. Ele disse está com sono. Desligamos.

Tudo parecia entrar nos eixos... Superficialmente!

No fundo, ambos sabiam que algo poderia mudar essa calmaria em tormentas.

Como eu conseguiria outra vez ter acesso ao depósito sem levantar suspeitas? Entrar no prédio sem a permissão dele seria impossível! Mesmo que ele autorizasse minha entrada livre, o porteiro avisaria que estive lá sem avisá-lo. O geito seria dormir lá e tentar pegar a caixa no depósito sem que ele desse por minha falta. Pensaria em algo.

Não queria perder muito tempo. Não seria por ele ter sido Gogo boy a minha preocupação. Muitos rapazes até mesmo por vaidade, aceitam convites para tentar trabalho como modelos.

O que me intrigava seria a omissão desses e de outros fatos. Já nos conhecíamos o suficiente para confiar um no outro. Ou seja, ele confiar em mim. Porque diante das ameaças anteriores, fiquei com um pé atrás.

“ Nemhum homem, nenhuma mulher precisam fechar os olhos diante do óbvio. Amar alguém, não significa aceitar tudo com medo de perder. Não se perde aquilo que não se ganhou. A confiança”.

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