Sou dona da minha vida

Eu e a Vic estávamos animadas para os preparativos da festa. À aniversariante estava toda empolgada recordando-me o dia da minha festa. Eu me senti uma princesa na época. Essa é uma das razões que eu gostaria de nunca ter saído dos 15 anos.

A Victória em nada exagerou quando disse que a mansão era estupenda! Gente pra todo lado e espaço de sobra. Alguns parentes vieram de outras cidades para a organização. Eles são do tipo que não deixam os eventos em mãos estranhas. Vai que algo da errado na hora da festa.

Até concordo com os cuidados, mas se tratando de uma comemoração única de uma jovem de 15 anos, no mínimo precisaria de organizadores experientes. De todo modo, darão conta do recado.

Vou colaborar com o que puder. Eles são muito hospitaleiros.

A Vic indicou os serviços da mamãe para fazer a mesa temática relembrando a avó falecida da aniversariante. Uma justa homenagem.

Ela ficaria em frente a mesa olhando cada detalhe como se estivesse voltado ao tempo através da memória , enquanto um grande slide apareceria por detrás mostrando momentos das duas juntas. As compotas seriam parte dessa memória. A mamãe era boa em arrumar mesas tanto atuais como de época. Ela se especializou nisso quando casou com papai.

Eu estava muito ocupada com todo esse burburinho de doces, vestidos, decoração. Não tinha tempo para sofrer, mas de vez em quando dava uma dorzinha no peito quando via casais juntinhos pelos cantos da mansão aos amassos. Me fez relembrar minhas loucuras com o James.

A Vic sabia o quanto eu era boa com flores, me designou escolher pessoalmente na floricultura as mais belas rosas que encontrasse. Seria para a entrada principal dos convidados. Eu não poderia falhar.

Então, peguei meu carro e rumei para o centro da cidade. Era quase 15:00 h. Realmente eu pude escolher as mais perfeitas rosas .

A festa seria dia seguinte. Combinamos de vir pegar para não correr riscos de atrasarem na entrega. Na volta, passando pela avenida, avistei o James parado na porta de um edifício. Ele me avistou e acenou para que eu parasse. Meu coração sim, quase parou.

Estacionei e não saí do carro. Enquanto ele atravessava apressado ao meu encontro.

— Oi Lya, que bom te ver!

— Oi James, que faz por aqui?

— Eu moro aqui, esqueceu?

— Desculpa James, mas você não me deu seu endereço.

—É verdade. Hoje saí mais cedo da sua casa porque trouxe umas caixas para loja, sua mãe me disse que haverá uma festa e você está ajudando. Seu pai me liberou mais cedo. Estava subindo, não quer conhecer? Não é todo dia que teremos esse encontro casual.

— Encontro casual é para extranhos James. Estou com muita pressa. Tenho que voltar a Vic está me esperando.

— Prometo não te atrasar. Só quero sua opinião sincera se fiz bom negócio.

— Ok,James, 10 minutos apenas. Não quero que se preocupem com minha demora.

— Quem? a Victória você quer dizer!

— Vai ironizar? Volto daqui mesmo.

—Estou brincando. Aonde foi parar seu bom humor?

Subimos para a kitnet. Ele me olhava dentro do elevador sem piscar os olhos. Quase me arrependi. Mas não poderia perder a chance de falar algumas verdades. Se não fosse por acaso, nunca estaria alí.

Entramos e pude notar que era bem limpo. O ambiente cheirava ao perfume dele. Havia alguns discos de Vinil numa estante e álbuns do Thirty Seconds To Mars. Ele era fã mesmo, como eu.

A decoração sóbria em tons terra . Muito aconchegante. Havia no fogão restos do almoço que ele havia pedido. Fui ver o banheiro e me surpreendi com tamanha organização. Pensei que encontraria uma bagunça de toalhas jogadas ao chão e cuecas por cima do espelho.

Ele me acompanhava calado atraz. Pude sentir seu hálito através da respiração forte. Estava quase tocando em mim.

Fui para o único quarto, e lá a surpresa foi maior. Uma espécie de tenda improvisada com grandes tiras de um tecido muito fino que pendiam do teto para as extremidades. A cama era tipo um Tatame . Detalhes árabes deixavam aquele pedaço do céu atrativo.

Era exatamente o que eu havia comentado com ele um dia que desejaria decorar minha casa nesse estilo.

Seria coincidência ter encontrado tudo assim quando ele alugou, ou ele mesmo preparou ?

—Gostou Lya? É muito atraente esse ambiente. Foi por isso que me apaixonei assim que entrei aqui.

O locador me disse que uma professora de dança do ventre havia morado aqui por quanto anos. Ela fez essa decoração e não a retirou a pedido do dono. Ele imaginou que eu sendo homem com cara de peão jamais alugaria.

—Estou tão surpresa quanto seu locador de você gostar de tenda árabe no seu quarto.

— Aceitei pensando em você Lya. Sei que uma hora viria aqui . A cama não é muito do meu agrado porque é no chão . Mas ficou perfeita com a decoração. E o melhor é que ela não faz barulho rsrs.

—Barulho de quê James?

— Estamos no quarto andar Lya, aqui abaixo mora um casal de idosos. Você não vai querer deixá-los constrangidos, vai?

— James, você não tem jeito mesmo! Mas, quer dizer que se eu não passasse aqui por acaso, quando iria me convidar?

—Não te convidaria.

Mais cedo ou mais tarde você reagiria e deixaria de lado esse comportamento de menina chorona.

Nós podemos curtir a vida sem compromisso e você só cobranças. Estou errado?

Me deu uma raiva de ter aceitado subir. Ele se achava o máximo! Por isso estava fazendo o joguinho de quem pouco se importa. Ah, isso não ficaria assim!

— Está equivocado James. Eu não sou chorona. Por acaso tenho te incomodado? A vida é sua, faça com ela o que bem entender!

—Ok Srta. dona da razão.

Pensa mesmo que não percebi que está fugindo de mim há uma semana?

—James você é um aprendiz de narcisista, a qualquer hora vai se afogar no orgulho e presunção. Acha então que uma grande festa foi programada apenas para que eu fugisse de você?

Fala sério!

—Narcisista? Hahaha. Claro que sei que a festa não foi por sua causa bobinha,mas sua amiguinha tratou logo de levar você pra bem longe de mim. Pois, diz a ela que nada adiantou.

—Não vou discutir com você. Já passaram 10 minutos e preciso ir. Saiba que a Victória nada tem contra você, muito menos com minhas escolhas.

Ele me olhou em silêncio, talvez tivesse compreendido que realmente precisava ir.

Fui caminhando para abrir a porta quando ele me agarrou por detrás e disse no meu ouvido: Você voltará outra vez aqui.

Tentei me soltar, mas ele deu a volta e beijou-me como a primeira vez. Relutei um pouco mas não resisti a força daquela paixão. Por pouco desisti de ir embora, mas pela primeira vez resisti, desde que o conheci.

Não poderia deixá-lo usar minha emoção como combustível pra cair na sua cama.

Esse beijo durou uma eternidade! Mas era hora de dizer adeus, sem palavras.

O olhei profundamente e segui para o elevador .

Ele gritou ao me ver desaparecer quando a porta do elevador fechou:

—Lya, você voltará!

Eu nem sei como abri a porta do carro. Tremia por inteira. Meu corpo pedia que voltasse e terminasse o que não chegou acontecer. Respirei fundo. Lágrimas vieram rapidamente. Chorei alí mesmo compulsivamente.

Era para está feliz, mas sentia-me impotente e fracassada diante da realidade: James sempre vencia no final. Eu precisava tomar de volta as rédeas da minha vida.

Me acalmei. A Vic estava ligando perguntando se tava tudo bem.

Eu disse que sim. Havia visitando umas lojas para comprar uma sandália que há tempos estava de olho,mas não a encontrei.

Ela não desconfiou de nada. Voltei para a mansão com o gosto daquele beijo e a recordação do cheiro de Sândalo amadeirado que exalava se seu corpo.

Finalmente chegou o Sábado. Dia da festa.

Mamãe trouxe o material e com ela o James para ajudar com as caixas. Fiquei perplexa! A Victória nos olhou como quem disse: Evite o primeiro gole!

O cumprimentamos e ele igualmente. Esperou mamãe arrumar a mesa temática ajudando no que lhe fosse solicitado.

À aniversariante chegou e os cumprimentou também.

Com o James ela foi divertida. Disse-lhe que se não tivesse o príncipe para valsa o chamaria para dançar com ela. Todos ficaram meio sem graça. Eu confesso que me rasguei por dentro de ciúmes. Ela era linda e estava ainda cheirando a flor da inocência. Eu vi brilhar os olhos dele. Era um predador!

Foi convidado a vir mais tarde. A mamãe viria com o papai e combinariam se o James estaria interessado na festa. Ele não confirmou , desejando feliz aniversário!

Já era quase vinte horas, todos estavam chegando. A decoração estava belíssima. Parecia um conto de fadas. A aniversariante radiante num vestido madre pérola . Só a beleza dela já bastava. Tudo saiu como combinado. A rosas perfumavam o ambiente. As mesas impecáveis para os convidados. Eu estava discreta, não gostaria de competir com a dona da festa mas estava lindamente vestida com um modelo em renda na cor verde água, que acentuava minhas curvas. Deixei os cabelos ruivos soltos e não dispensei um batom marcante, já que nos olhos quase não usava maquiagem apenas rímel, isso me deixou com menos cara de menina.

Já passava das 21:40 quando vi meus pais entrarem. Fiquei aliviada em ver que estavam sozinhos.

Fui até eles, para minha surpresa, o James entrou meio desconcertado porque precisou estacionar fora da mansão. Ele estava lindo! Um verdadeiro príncipe. Não sei como adquiriu aquele traje fino encima da hora. Meu Deus! Queria gritar alí na festa, esse homem é meu.

O James chegou perto de mim e sussurrou:

—A mais bela da festa. Um mulherão. Vou te raptar !

Tremi em baixo do vestido. Queria puxá-lo para qualquer canto e beijar aquela boca. Me contive com os pensamentos luxuriosos e chamei a Victória que por sinal estava deslumbrante! Percebi um olhar guloso do James no decote dela . Ela também não percebeu o quanto ficou surpresa de vê-lo alí tão magnífico. Sei não, mas acho que a Vic ficou sem ação.

À aniversariante agradeceu a presença de todos ao microfone anunciando que a valsa iria começar. Tudo estava perfeito.

Na hora dos convidados escolherem seus pares, fui puxada pelo James . Fiquei sem graça! Meus pais riam inocentemente, não tinham preconceito na nossa curta e restrita ligação. Ele era um funcionário exemplar e respeitador e eu a filha do patrão que me colocava no devido lugar.

Naquele momento estive nos braços do meu homem como sempre gostaria de estar. Ele me disse baixinho:

—Nossa primeira valsa.

Eu só conseguia rir por dentro de felicidade. É lógico que tudo não passou de bobagens da minha mente. O James estava dando provas que me deseja ainda. Eu precisaria ter cautela e cuidado.

A noite foi maravilhosa! Bela festa!

Meus pais voltaram para casa sozinhos. James ficou um pouco mais tentando me raptar, mas o que eu diria a Victória? Minhas coisas estavam na mansão, não seria de bom tom largar tudo .

Me despedi do James e dei meu carro pra ele dirigi . Assim ele viria me entregar no dia seguinte . Tudo poderia acontecer sem levantar muitas suspeitas.

“Sou dona da minha vida. Mas o coração de uma mulher quando não tem controle, certamente a ela já não mais pertence.”

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