Algumas semanas depois do jantar de noivado, Lucas recebeu um e-mail de um remetente desconhecido. Todo escrito em catalão e com um endereço de fora do país, ele logo desconfiou de quem pudesse ser.
A mensagem dizia o seguinte:
Lluc,
Vaig trigar a trobar una adreça de correu electrònic amb la qual pogués contactar amb tu. Vaig buscar per tota la internet informació sobre la teva mare i el màxim que vaig aconseguir va ser descobrir que Suellen va morir fa 20 anys.
No sé explicar el dolor que va suposar descobrir-ho d'aquesta manera. No m'ho esperava. Llavors, vaig intentar descobrir alguna cosa sobre el teu parador, Lluc.
Va ser així com vaig trobar informació sobre la teva darrera exposició a Portugal, fa 2 anys. I aquí estic jo, fill meu, enviant aquest correu electrònic a tu.
Lluc, jo ja sóc vell i molt malalt, tu saps que la teva mare i jo no vam tenir fills junts i que per a mi tu eres com un fill.
M'agradaria convidar-te a venir a visitar-me aquí a Barcelona, estic escrivint el meu testament i deixaré una part del meu patrimoni per a tu.
Sé que no necessites aquests béns, però és el meu homenatge a la teva mare i a tu, pels anys de joia que vam viure junts.
Espero amb impaciència la teva resposta, només cal que diguis sí i enviaré a buscar-te.
Salutacions cordials,
Jordi Blanxart.
A tradução seria:
Lucas,
Demorei para encontrar um endereço de e-mail em que pudesse entrar em contato com você. Vasculhei a Internet em busca de informações sobre sua mãe e o máximo que consegui foi descobrir que Suellen faleceu há 20 anos.
Não sei explicar o qua tô foi doloroso descobrir isso desta forma. Eu não esperava. Tentei então descobrir algo sobre o seu paradeiro, Lucas.
Foi assim que encontrei informações sobre sua última exposição em Portugal, 2 anos atrás. E aqui estou eu, meu filho, mandando esse e-mail a você.
Lucas, eu estou velho e muito doente, você sabe que eu e sua mãe não tivemos filhos juntos e que para mim você era como um filho.
Gostaria de convidar você a vir me visitar aqui em Barcelona, eu estou escrevendo meu testamento e irei deixar uma parte do meu patrimônio para você.
Sei que você não precisa destes bens, mas é minha homenagem a sua mãe e a você, pelos anos de alegria que vivemos juntos.
Aguardo ansioso por sua resposta, basta dizer sim que eu irei mandar buscar você.
Saudações cordiais,
Jordi Blanxart.
Lucas foi pego de surpresa com esse pedido. Jordi foi o marido de Suellen sua mãe e eles conviveram por alguns anos como uma família. Eles se separaram e Suellen logo adoeceu. Nunca mais Lucas havia tido contato com o padrasto, alguém por quem tinha enorme respeito.
Ele se lembrava que o divórcio do casal foi tranquilo, eles realmente já não se amavam, mas se respeitavam incondicionalmente, decidindo em comum acordo pela separação. Pelo menos era o que Jordi sabia. Apesar de tudo, Suellen jamais deu a Lucas algum telefone ou informação sobre como encontrar Jordi.
Agora, 20 anos depois, o padrasto aparecia pedindo uma visita. Lucas não esperava por isso. Realmente os bens não lhe interessavam, no entanto, apesar dos anos distantes, ele ainda era capaz de nutri um sentimento fraternal por Jordi. Celso era seu pai e o amava incondicionalmente, mas Jordi foi a primeira figura masculina que ocupou esse lugar em sua vida. Ele sentia que devia gratidão a ele.
Lucas passou o dia tentando desviar seu pensamento do e-mail recebido, mas era inútil. Ele decidiu visitar a tia para conversar a respeito depois de sair do trabalho. Naquela noite ele não encontraria Isabella, pois a noiva estaria em um evento de negócios, então poderia desviar o caminho para falar com Alana.
A relação de Lucas com Alana sempre foi muito íntima e transparente. A tia jamais deixou de se preocupar com o sobrinho, mesmo depois que ele foi morar com Celso e depois que se casou e teve Suellen. Por esse motivo, Lucas se abria ainda bem mais com Alana do que com o próprio pai ou com Olívia.
Quando ele chegou à mansão Santorini, ela já esperava por ele. Lucas entrou aflito, mas tentava manter a compostura, só que foi logo rechaçado pela tia.
Alana: Pode parar que eu sei que você está com algum problema.
Lucas: Como você sabe?
Alana: Lucas Rezende, eu te vi nascer e fui sua mãe por um bom tempo. Eu sei tudo sobre você.
Lucas: Ah, tia... - Disse abraçando a mulher a sua frente e deixando as lágrimas rolarem.
Alana: Pode chorar, meu filho. Tia Alana está aqui. - Ela também derrubou alguma lágrimas, pois reviveu o dia em que Suellen faleceu e teve que amparar o sobrinho ainda tão criança. E foram essas as palavras que ela conseguiu dizer.
Lucas: Tia, o Jordi me encontrou e me mandou um e-mail. Parece que desenterrou algo do passado em mim. Eu passei o dia estranho. - Disse enxugando as lágrimas.
Alana: Venha, sente-se. Me conte essa história direito. - Disse levando o sobrinho até o sofá.
Lucas: Ele me mandou um e-mail dizendo que estava a procura de mim e da minha mãe, aí descobriu que ela faleceu há 20 anos.
Alana: E o que mais?
Lucas: Ele disse que está velho e doente, que está escrevendo o testamento e que gostaria que eu fosse visitá-lo, pois ele deixar alguns bens para mim.
Alana: Bens? Que coisa mais esquisita. Ele não teve filhos? Afinal, você não é nada dele, não faz sentido ele deixar nada para você.
Lucas: Eu também penso assim, mas ele disse que é uma forma de homenagear o tempo em que nós 3 fomos uma família.
Alana: É, o Jordi era muito apaixonado por sua mãe. Ele, inclusive, pediu para registrar você, mas ela não quis.
Lucas: Como? Eu nunca soube disso!
Alana: É porque ninguém da família concordava com essa história. Então não foi para a frente.
Lucas ficou em silêncio por alguns minutos tentando processar tudo em sua mente.
Lucas: Tia, eu acho que eu devo ir. Não pelos bens, mas para enterrar um passado. Eu nunca toco no assunto da nossa vida em Barcelona, nunca penso a respeito. Talvez tenha chegado a hora.
Alana: Só você pode decidir isso, meu filho.
Lucas: Pois decidido está. Vou aproveitar para treinar novamente meu catalão, amanhã irei responder ao e-mail.
Alana: Quando você pretende ir?
Lucas: Na semana que vem que estarei mais tranquilo.
Alana: E a Isabella? Vai com você?
Lucas: Não. Esse é o tipo de coisa que eu preciso fazer sozinho. É algo do meu passado que eu preciso mexer. Vai ser a primeira vez desde que começamos a namorar que ficaremos tanto tempo afastados... Vou conversar bastante com ela e explicar tudo.
Alana: Está certo. Se precisar de alguma coisa já sabe. Sua velha tia Alana está aqui à disposição.
Lucas: Obrigado, tia. Eu te conto amanhã se eu receber alguma resposta ao e-mail.
Alana: Tudo bem. Aguardo.
Lucas se despediu da tia e foi para casa. No dia seguinte ao chegar ao escritório não respondeu ao e-mail confirmando que iria ao encontro do padrasto. Preferiu primeiro conversar pessoalmente com a noiva. Na hora do almoço, ele encontrou Isabella no Old Charm já sentada em sua mesa predileta. No almoço ele contou a ela sobre a viagem.
Isabella: Uma semana! Meu Deus! Eu não vou aguentar! - Falou sem animação.
Lucas: Fica calma, meu amor. São poucos dias e poderemos nos falar por chamada de vídeo diariamente.
Isabella: Eu sei, mas desde que estamos juntos, nunca mais nos separamos. Por isso que eu não sei se vou aguentar.
Lucas: Vai sim e estará esperando por mim na volta. - Falou com um ar apaixonado.
Isabella: Desculpe, amor. Isso está fugindo da minha rotina, você sabe como eu fico quando isso acontece.
Lucas: Eu sei, Isa. E eu tô aqui para te passar segurança. Para te explicar que mesmo fugindo da rotina você vai tirar de letra.
Isabella: Você consegue ser encantador até para me dar notícia ruim! - Brincou.
Lucas: É porque o que eu mais quero é ver esse seu sorriso lindo!
Isabella: Eu te amo!
Lucas: Eu te amo mais!
Eles continuaram o almoço e na volta, Lucas acompanhou Isabella até o edifício onde ficava o escritório dela. Eles se despediram e Lucas voltou para o escritório preparado para responder ao e-mail do padrasto confirmando sua viagem. Ele aproveitou e informou um número de telefone para contato.
Pouco mais de 1h depois de enviar o e-mail, recebeu uma ligação internacional de um número desconhecido. Já sabendo do que se tratava, se preparou para atender falando em catalão.
- ¡Hola! ¿Qui parla?
- Fill meu, Lluc. Com t'he trobat a faltar.
- ¡Jordi! ¿Com estàs?
- Ara millor, fill meu. Estic molt content que hagis acceptat la invitació d'aquest vell conegut.
- Ens veurem després de tant de temps.
- Sí. Enviaré el meu jet privat per recollir-vos el dilluns. Ja ho he organitzat tot. Heu d'embarcar a l'Aeroport Campo de Marte a les 9 del matí.
- Puc enviar-me aquesta informació per correu electrònic?
- Ja ho tens al teu correu electrònic, fill meu.
- Gràcies, Jordi. Necessito desconnectar ara, estic avançant el treball per poder viatjar tranquil la setmana vinent.
- Jo agraeixo, Lluc. Bona feina i fins la setmana que ve.
(O resumo da conversa seria os dois comentando sobre o tempo que ficaram sem se falar e que Jordi enviará seu jatinho particular para buscar Lucas na próxima segunda-feira, às 9h e ele embarcará no Campo de Marte.)
Lucas desligou o telefone um pouco ansioso. Ele não pisava na sua terra Natal desde que ele e sua mãe voltaram para o Brasil. Ele já esteve na Europa outras vezes, mas a Espanha nunca mais foi um destino de suas viagens. Ficou pensando que deveria programar uma viagem para lá com Isabella para que ela conhecesse a cidade onde ele nasceu. Com esse pensamento, encerrou seu dia imaginando como seria o retorno à Barcelona 20 anos depois.
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Atualizado até capítulo 115
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