Isabella ouviu aquelas palavras como se fossem música. De olhos fechados, ainda com a cabeça apoiada no peito de Lucas, ela sorriu e o movimento de sua bochecha foi percebido por ele. Mas ela entendia que não poderia ficar em silêncio. Aquela afirmação exigia alguma resposta.
Isabella: Lucas... suspirou. Eu não sei explicar, mas também sinto algo. Eu me sinto confortável com você. Você é... aconchegante!
Lucas soltou uma gargalhada ao ouvir esse elogio tão incomum.
Isabella: O que foi? Eu não sei me comportar direito, não é? Eu sou esquisita! Eu sei! - Disse olhando para ele, mas sem se soltar do abraço.
Lucas: Eu já fui chamado de lindo, de simpático e até de patife. Mas essa é a primeira vez que eu sou elogiado como se eu fosse um sofá! E eu adorei, Isa! Não fique preocupada, sua forma de interpretar o que sente, o que é abstrato é única! Você deixa tudo mais concreto e mais palpável. Eu quero ser o seu sofá sempre que você precisar.
Isabella corou ao ouvir aquelas palavras e era possível sentir a tensão no ar quando os olhos dos dois se encontraram no silêncio. Lucas não estava disposto a perder nenhuma oportunidade com Isabella então mais uma vez abriu seu coração.
Lucas: Eu quero tanto te beijar, Isa. Eu posso? - Disse baixinho no pé do ouvido dela, provocando um arrepio que a fez estremecer antes de responder.
Isabella: Eu... eu também quero!
E essa foi a deixa para que ele se aproximasse lentamente de modo que ela pudesse antever seus movimentos. Apesar do desejo pelo beijo iminente, Lucas não se esqueceu que tudo aquilo era excesso de estímulos para Isabella, então se pudesse ser mais suave e permitisse que ela soubesse cada passo que ele fosse dar, seria melhor.
Seus lábios roçaram suavemente nos dela, um gesto de ternura que refletia o carinho que ele nutria. Cada selinho era uma promessa, um juramento silencioso de estar sempre ao seu lado. Os selinhos se transformaram em beijos mais intensos, ainda sem língua, mas com um toque de paixão que arrebatou o coração de Isabella, os lábios se moviam em perfeita sintonia, como se fossem feitos um para o outro.
E, sem perceber, eles se perderam naquele momento, deixando para trás todas as preocupações e incertezas. Não havia nada além deles, do que sentiam e da paixão que os consumia.
Ele parou quando os dois não tinham mais fôlego para continuar e sorriu, sem tirar os olhos dos dela que incomumente conseguiu sustentar o olhar. Lucas encostou sua testa na dela e fechou os olhos, sendo imitado em seu gesto. Ele ainda sorria, os óculos embaçados pelo arfar de seus pulmões em contraste com a noite fria.
Lucas: Isso foi... incrível! Isa, namora comigo? Eu sei que nos conhecemos pouco, eu posso ir até seus pais formalizar um pedido, comprar um anel de compromisso, mas eu não quero esperar. Namora comigo?
Isabella se afastou com os olhos arregalados. Por essa ela não esperava. Ele se preocupou, foi impulsivo e a deixou incomodada, pelo menos era o que pensava.
Lucas: Isa, me desculpe! Eu não queria exagerar, eu só estou... eu só estou sentindo. Mas eu vou entender se você não quiser. Por favor, me desculpe!
Isabella se virou de costas e começou a andar de um lado para o outro torcendo a ponta do casaco nas mãos. Ela não achou ruim o pedido, mas isso a fez lembrar da humilhação que passou na época da escola e a qual a fez desistir de se relacionar com alguém.
Lucas: Isa... - Tentou lhe tocar o braço.
Isabella: Lucas!
Ele travou onde estava. Tinha medo de fazer algum gesto que a deixasse mais incomodada.
Isabella: Eu preciso te contar uma coisa e se eu não falar, eu acho que vou explodir!
Lucas: Então fale, por favor! Eu vou ouvir você!
Isabella: Vou falar tudo de uma só vez!
Lucas: Tudo bem, eu não irei te interromper.
Isabella: Eu nunca namorei! Sempre fugi de relacionamentos, porque na primeira vez que eu decidi revelar meus sentimentos para um garoto da escola, ele me humilhou e disse que não ficaria com uma esquisita como eu!
O brilho de Lucas se foi com essa revelação. Ele entendeu o quanto aquilo poderia ser doloroso para ela lembrar e falar. Mas ele queria algo sério com ela, não queria diversão e se sentiu na obrigação de reforçar isso.
Lucas: Isa, eu não estou aqui para brincar com seus sentimentos. Eu gosto de relacionamentos sérios. Eu já disse que sei que mal nos conhecemos, mas eu estou disposto a conhecer você melhor, quero conhecer seus pais, quero que você e eles me conheçam e conheçam os meus pais. Eu quero ficar com você, não só hoje ou mais algumas vezes. Eu quero que seja pra sempre.
Isabella: Isso é a coisa mais linda que alguém já me disse. Eu temo não corresponder à altura, Lucas. Você sabe, o autismo pode me impedir de interpretar os sentimentos e emoções dos outros e isso realmente pode atrapalhar um relacionamento.
Lucas: Isa, eu sei. Eu convivia com pessoas com autismo na época da escola e faculdade, mas sei também que a adaptação não pode vir somente de vocês, precisa vir de nós, além disso você já está de volta com seu tratamento, sei que conseguiremos. Por favor, me dá uma chance, Isa. Eu estou aqui de peito aberto para você!
Isabella olhava nos olhos de Lucas e via um brilho diferente, algo que a cativava a fazia acreditar em suas palavras. Ela não podia resistir a isso. Tinha muito receio, mas a vontade de viver aquele sentimento que também brotava dentro dela era maior do que qualquer medo.
Isabella: Sim, eu aceito namorar você!
Lucas: Pois hoje você me fez o cara mais feliz do mundo, Isa! Minha namorada!
E eles selaram aquele compromisso com mais um beijo cheio de carinho e suavidade. Lucas acariciava o rosto de Isabella sorrindo e olhando em seus olhos transmitindo toda a felicidade que sentia de ter seus sentimentos correspondidos pela mulher que lhe tirou do rumo desde aquele encontro inesperado no Old Charm há pouco mais de uma semana.
Antes de se despedirem, Lucas combinou de levar Isabella para conhecer seus pais no dia seguinte e queria conhecer os pais dela e pedir a permissão deles para namorá-la no dia seguinte também. Ela concordou com as duas programações e cada um ficou responsável de avisar a família que eles receberiam visita no domingo.
Já em seu apartamento, Isabella estava sorridente e ao mesmo tempo envergonhada. Ela colocava os dedos nos lábios como se quisesse ter certeza de que aqueles beijos foram reais.
"Lucas, meu Salvador!" - Ela dizia para si mesma sorrindo, ao se lembrar de como ele surgiu em sua vida e realmente agiu como um salvador.
Pensando em cada beijo, cada toque e cada palavra dita por ele, Isabella tomou banho e se ajeitou para dormir, colocando o ar condicionado na menor temperatura como gostava e se cobrindo totalmente com o edredom. Sem demora nenhuma, ela pegou no sono pensando nos momentos incríveis que acabara de viver.
No caminho de volta para casa, Lucas ia cantarolando acompanhando a música no rádio enquanto pensava no beijo de Isabella, no perfume delicioso e na beleza insuperável que ela exibia. Ele se sentia o homem mais feliz e mais sortudo do mundo. Pela primeira vez estava se envolvendo com uma mulher que não sabia quem ele era, nem a origem de sua família.
Lucas não era rico, mas seu pai era casado com uma herdeira. Olívia era uma Santorini e isso dava ao casal um status que os colocava na camada mais alta da elite paulistana. Então, o rapaz estava acostumado a ser assediado apenas pela sua condição social.
Ele sequer se lembra de ter namorado alguma moça que não tenha se aproximado dele com o mínimo de interesse em fazer negócios entre as famílias. Mas agora isso mudou, ele conheceu uma jovem que não tem ideia de quem ele é e que realmente não se importa com isso.
Essa mesma sensação era vivenciada por Isabella, pois era folha de um renomado engenheiro, dono de uma da maiores construtoras do estado e da dona da maior franquia de roupas e materiais esportivos do país. Pouco depois da adoção, Leonardo saiu da incorporadora em que atuava e abriu sua própria construtora com um sócio. Os dois tinham tino para o negócio e logo prosperaram de tal forma que começaram a pegar contratos cada vez maiores. Um cliente levou a outro e depois de 20 anos, já eram uma das maiores do estado.
Isabella não gostava de falar sobre isso, porque via muitos meninos que fingiam interesse nela apenas pelo seu sobrenome Motta Alves que trazia consigo muito peso e prestígio, mas que não eram capazes de compreender suas idiossincrasias. No entanto, dessa vez pareceu conhecer um alguém que não estava nem um pouco preocupado com sua origem.
Naquela noite mágica, Lucas e Isabella descobriram que o sentimento verdadeiro era mais do que palavras ou gestos, era uma conexão profunda que transcendia o tempo e o espaço e as convenções sociais.
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Atualizado até capítulo 115
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