A semana passou se arrastando para Lucas e Isabella. Apesar de terem vários compromissos, os dois estavam ansiosos para que chegasse logo a sexta-feira e eles pudessem se encontrar. Isabella estava duplamente ansiosa, pois tanto o espetáculo quanto a companhia de Lucas lhe eram interessantes.
Na quarta-feira, ela passou na consulta com a Dra. Kátia e recebeu a indicação de voltar a tomar o ansiolítico. Apesar de não querer, entendia que até para manter uma relação mais amistosa com as pessoas era necessário estar totalmente regulada. Sendo assim, passou na farmácia e comprou o medicamento que começou a tomar naquela mesma noite.
A semana inteira Gisele ficou perturbando querendo saber para onde ela tinha ido, pois passou no prédio dela depois da festa e o porteiro avisou que ela não havia passado a noite em casa o que deixou Isabella enfurecida, pois os porteiros não poderiam ficar passando esse tipo de informação sem autorização do morador.
Segundo Gisele, Matheus havia gostado muito dela e queria reencontrá-la novamente. Só de ouvir aquele nome, Isabella tinha ânsia de vômito e disse para a amiga que não queria ver o rapaz nunca mais.
Gisele e Isabella se conheceram no Ensino Médio. Zenjiro Nakamura, adotou o nome Gisele, para ser chamada por brasileiros, era a segunda filha de uma família de imigrantes japoneses que residiam na Liberdade e tinham uma loja no comércio local.
Embora não fosse da mesma classe social de Isabella, Gisele e sua irmã mais velha Mari, frequentavam a mesma escola que Isabella, pois tinham bolsa. Diferente de Gisele, Mari se chamava Mari mesmo, e, por isso, nunca precisou de um codinome brasileiro. Gisele foi estudar na mesma sala que Isabella e logo ficaram amigas. Já Mari frequentou a mesma escola que elas apenas por 1 ano, o último é quis mudar para o Japão depois que alcançou a maioridade.
Gisele estava presente quando Isabella foi humilhada pelo garoto de quem gostava na escola. Ela estava apaixonada por um menino da outra turma e eles tinham uma certa proximidade. Quando Isabella revelou seus sentimentos ele a ridicularizou na frente dos colegas, falando que jamais ficaria com uma "doida" como ela, que era toda esquisita.
Aquilo minou as esperanças de Isabella se envolver com alguém um dia e desde então, entendeu que amar era para quem gostava de sofrer. Ela não gostava de sofrer, portanto, não precisava amar ninguém. Foi daí que surgiu sua vontade de morar sozinha, ser independente e acabou conquistando tudo isso. Gisele acompanhou a luta da amiga para superar a humilhação e se reerguer, mas nunca ficou satisfeita e achava que Isabella precisava de um amor.
Mas o futuro reservava outras coisas para Isabella e ela estava corroborando para que tudo desse certo, a começar pelo espetáculo de dança. Finalmente chegou a sexta-feira e logo pela manhã Lucas mandou mensagem para Isabella perguntando se estava tudo certo para aquela noite.
- Oi, Isa. Bom dia! Tudo certo para hoje à noite?
- Oi, Lucas. Tudo certíssimo!
- Ótimo, passo para te buscar às 19h. Ok?
- Ok.
Ele estava animado, pois passaria algumas horas ao lado daquela mulher incrível. Ele a achava tão especial que ficava com dificuldade sobre como se comportar com ela. Tentou pensar em ser o mais natural possível, de modo que ficasse claro que ele estava à vontade com ela e queria que fosse recíproco.
Às 19h em ponto Lucas parou na frente do prédio onde Isabella morava e não demorou muito ela apareceu no hall de entrada. Ele abriu a porta do carro para ela como um gesto de gentileza, embora sua vontade fosse de abraçá-la e beijá-la, ele sabia que não deveria avançar o sinal.
Lucas: Você está lindíssima, Isa!
Isabella: Obrigada. Você também está muito bonito! - Respondeu enquanto entrava no carro.
Lucas: Preparada?
Isabella: Siiiiiim! - Confirmou animada.
Ele deu a partida e os dois seguiram todo o caminho conversando. Quando chegaram ao teatro, Lucas apresentou os ingressos e eles foram direcionados à frisa direita de onde se tinha uma visão privilegiada do palco.
Isabella: Quando eu era bailarina, meu sonho era me apresentar aqui.
Lucas: Pelo menos hoje você consegue ver uma apresentação aqui. Mas fique sabendo, nunca é tarde para se realizar um sonho.
Isabella: É, pode ser. Veja, vai começar!
A apresentação de dança demorou cerca de 1h30 em 3 atos e desenrolou a história de uma jovem em busca de sua identidade através da dança.
O palco estava escuro quando a música clássica começou a tocar. Uma jovem entrou, vestida de preto, com uma luz suave iluminando-a. Ela se movia com graça e emoção, representando os altos e baixos da vida.
Conforme a apresentação continuava, a jovem se uniu a outros dançarinos, todos vestidos de preto, representando diferentes partes da alma humana: paixão, dor, amor, raiva e esperança.
A dança se materializou em um espetáculo de movimento e energia, com os dançarinos exibindo técnicas de dança moderna, contemporânea e clássica. A cada movimento, a jovem expressava suas emoções de maneira poderosa e cativante.
No final, a jovem encontrou sua verdadeira voz através da dança, mostrando que a alma humana é complexa, multifacetada e sempre em movimento.
Isabella terminou o 3°Ato com os olhos marejados. Ela nunca mais esteve numa apresentação nem como espectadora. Estar ali era muito mais do que um presente.
Isabella: Nossa, Lucas. Muito obrigada! Foi tudo perfeito!
Lucas: Fico feliz que tenha gostado, mas não para por aí.
Isabella: Como?
Lucas: Venha comigo que eu lhe mostro. - Disse pegando na mão de Isabella sem lembrar que isso poderia causar desconforto. Mas não causou, ela mesma estranhou isso, mas acompanhou o rapaz, pois sentia-se muito confortável na presença dele.
Ele a guiou por entre as pessoas e corredores até o camarim dos dançarino, onde tinha acesso autorizado. Eles pararam em frente a uma imponente porta onde tinha uma placa escrito S. M. Camarim. Lucas conversou com os seguranças na porta e pode entrar.
Quem abriu a porta foi ninguém mais ninguém menos que Sammy Motta, para delírio de Isabella que colocou a mão na boca aberta do susto de ver sua antiga professora ali na sua frente.
Sammy: Olá! Boa noite! - Cumprimentou o casal com um sorriso gentil.
Isabella: Meu Deus! Professora Sammy! Não acredito!
Sammy: Tudo bem, Isa? Quanto tempo! Vem cá me dar um abraço! - Disse puxando a jovem para um abraço apertado.
Isabella: Professora! Que felicidade estar tão pertinho de você de novo! O espetáculo foi lindo! Perfeito!
Sammy: Obrigada, querida. É uma honra reencontrar você.
Isabella: Obrigada pela oportunidade!
Sammy: Agradeça ao seu namorado, foi ele que "me descobriu" e pediu que eu recebesse vocês hoje.
Isabella: Namorado? É... não somos namorados. - Disse olhando constrangida para Lucas.
Sammy: Ah, não? Nossa, desculpe a gafe, gente! Quando você foi falar comigo, rapaz, a forma como falou dela, eu jurava que eram namorados.
Lucas sorriu um pouco sem graça, ele realmente adoraria que essa impressão da Sammy fosse uma verdade. O que ele não sabia é que Isabella adoraria a mesma coisa.
Elas duas conversaram por uns 20 minutos sob o olhar atento de Lucas que ficou maravilhado de ver como Isabella entendia de dança e o quanto ela ficava bela imitando os movimentos graciosos dos bailarinos enquanto falava com a professora. No final, elas tiraram algumas fotos, trocaram telefones e se despediram com a promessa de marcarem um reencontro.
Já do lado de fora do teatro, dentro do carro, Isabella agradeceu a Lucas pela surpresa.
Isabella: Lucas, muito obrigada pelo convite! Eu amei a apresentação! E, claro, muito, muito obrigada pela surpresa de me colocar no camarim da professora Sammy! Eu estou muito feliz!
Lucas: Não foi nada, Isa. E o que eu puder fazer para ver esse sorriso no seu rosto todos os dias, eu farei!
Isabella corou ao ouvir essa última afirmação e ficou sem graça sem saber o que responder. Decidiu então mudar de assunto.
Isabella: É... Bom, agora é hora de ir pra casa.
Lucas: Não quer comer alguma coisa antes?
Isabella: Eu adoraria! Estou com fome!
Lucas: Então vamos! - Disse dando a partida e se direcionando ao centro da cidade.
Isabella reconheceu o lugar onde estavam indo e sorriu ao constatar que jantariam no seu restaurante de quinta-feira. Eles estavam indo ao Old Charm.
Chegando lá, o recepcionista da noite os recebeu.
Recepcionista: Boa noite, senhor e senhora. Mesa para dois?
"Com certeza!" - Isabella e Lucas responderam ao mesmo tempo e riram da coincidência.
Recepcionista: Por favor, queiram me acompanhar. - E entrou na parte interna que era iluminada suavemente por lâmpadas amarelas o que dava um ar mais romântico ao ambiente.
Já sentados à mesa, Lucas pediu um vinho tinto e carpaccio de carne de entrada e um antepasto de frutos do mar. Não demorou muito para que a bebida e as entradas chegassem e eles fossem servidos.
Isabella: Eu adoro este lugar! Almoço aqui todos as quintas-feiras.
Lucas: Hum... somente às quintas?
Isabella: Sim! É um dos meus rituais. Você sabe... a rotina...
Lucas: Entendi. Isa, você me contou um pouco sobre isso, mas hoje, por exemplo, saímos, fomos ao teatro, estamos aqui. Isso é mudar sua rotina, não? Mas você não me parece ter desregulado com isso.
Isabella: Então, eu já estou tomando meus remédios tem uns dias e estou fazendo exercícios de respiração e meditação. Isso ajuda muito a manter meu equilíbrio.
Lucas: Entendi. Eu vou fazer o que for possível para você ficar sempre bem, Isa. - Disse enquanto olhava no fundo dos olhos de Isabella e colocava a sua mão sobre a dela que estava pousada sobre a mesa.
Ela não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo e desviou o rosto, sentindo uma sensação de alívio enorme ao perceber que o garçom vinha com os pratos para serví-los.
Isabella: Olha, nossos pratos chegaram. - Falou sem animação.
Lucas retirou sua mão de cima da dela para que fossem servidos. Eles começaram a comer e continuaram conversando sobre amenidades. Depois do jantar, pediram um tiramisu para dividir como sobremesa e apreciaram o doce juntos.
Já de volta ao carro, aquela sensação angustiante de um momento tão bom chegando ao fim, ficava mais forte. Isabella estava realmente muito à vontade com Lucas e isso até para ela era surpreendente. Já ele, queria estar cada vez mais perto, mas tinha receio de ser invasivo demais e acabar afastando-a.
Quando chegaram à frente do edifício em que Isabella morava, eles se despediram do lado de fora do carro. Lucas quis ousar e pediu um abraço.
Lucas: Hum, Isa. Eu... eu poderia te abraçar.
Ela não esperava por esse pedido, mas gostou do que ouviu.
Isabella: Sim. Pode.
Ele então a envolveu em seus braços e ela repousou a cabeça em seu peito. Lucas pode sentir novamente o aroma delicioso da pele dela e a maciez dos seus cabelos enquanto Isabella ouvia as batidas aceleradas e descompassadas do coração dele.
Lucas: Isa...
Isabella: Sim? - Disse sem sair de onde estava.
Lucas: Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo e você não sabe nada sobre mim, mas... Eu estou sentido algo diferente por você.
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Atualizado até capítulo 115
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