Sexta-feira era um dos melhores dias de trabalho de Isabella. Logo depois de montar seu escritório, notou que tinha uma procura maior de clientes novos na sextas-feira, bem como fechamento de negócios nesse dia. Ela já acordava animada no último dia útil da semana.
5h30 em ponto já estava de pé. Fazia seus alongamentos matinais, tomava banho, ia para a cozinha preparar seu café que variava entre uma xícara de café ou cappuccino e uma torrada com geleia ou um ovo mexido. Naquele dia escolheu o cappucino e torrada com geleia.
Depois de se alimentar, escovou os dentes e se vestiu. Ela usava uma camisa de botões na cor marrom, calça jeans de lavagem clara e corte reto. Nos pés calçava sapatilhas bege e levava uma jaqueta de couro preta, caso sentisse frio ao longo do dia. Verificou a bolsa, pegou os óculos escuros e as chaves do carro. Sexta era dia de trabalhar de carro.
No caminho, Isabella colocava sua playlist pouco convencional para tocar. Entre as várias canções, tocou "I just can't get enough" e ela começou a cantar. De carro costumava pegar um certo trânsito no caminho de ida e a música era sua distração.
......................
Em seu quarto, Lucas acordou descansado, o que não era comum, devido à insônia que o atormentava. Ele se levantou sorridente, havia sonhado com a bela mulher que fotografou no dia anterior. Queria encontrá-la novamente.
Naquela manhã, Lucas tinha uma reunião para tratar sobre sua nova exposição. Ele sabia que levaria a manhã quase inteira, pois iria negociar patrocínio e essa tarefa era sempre muito trabalhosa.
Depois de tomar banho e se vestir, ele mandou uma mensagem para seu advogado confirmando a reunião e logo recebeu uma resposta positiva. Ele desceu pelo elevador, passou pelo porteiro cumprimentando-o e seguiu a pé até a estação do metrô.
Já lá dentro, parou na lanchonete pouco antes da plataforma, onde costumava comprar seu café da manhã.
Rapaz: Bom dia, Lucas! O de sempre? - O funcionário perguntou sorridente.
Lucas: Por favor, Fred. Hoje estou apressado, vou comer no caminho. - Respondeu.
Fred: É pra já! - Fred disse já preparando o café de Lucas.
Lucas ficou olhando os transeuntes enquanto esperava e poucos minutos depois ouvir Fred chamando-o.
Fred: Aqui está!
Lucas: Já fiz o pix. Qualquer coisa, se der errado, me manda mensagem. Um ótimo dia para vocês, Fred!
Fred: Já caiu aqui! Pra você também, Lucas!
Lucas correu para conseguir pegar o próximo trem. Apesar de ter carro, tinha preferência pelo transporte coletivo, por causa das inúmeras oportunidades de fotografar as situações cotidianas mais inesperadas enquanto aguardava pelo trem ou caminhando pelas ruas.
Ele entrou no trem que estava excepcionalmente "vazio", lhe dando mobilidade, ainda que em pé, para tomar seu café da manhã: café preto sem açúcar e pão de queijo, seus preferidos.
Chegando ao seu estúdio, ele cumprimentou Sandra, sua secretária, e se encaminhou para sua sala onde leria alguns e-mails e organizaria a agenda semanal antes da reunião que lhe tomaria toda a manhã. Concentrado na tela do computador, não notou quando o celular vibrou. Pouco tempo depois, o telefone de sua sala tocou.
Lucas: Oi, Sandra.
Sandra: Oi, Lucas. Dona Olívia está na linha querendo falar com você. Ela parece impaciente.
Lucas: Ok. Obrigado por avisar, Sandra. - Suspirou e continuou. - Pode passar a ligação.
Sandra: Ok. Boa sorte!
Lucas sabia que quando a mãe telefonava para o escritório ela já começaria chamando a sua atenção.
- Alô.
- Alô? É assim que você fala comigo, menino?
- Oi, mamãezinha linda do meu coração!
- Agora sim! Hum! Meu filho, você por acaso esqueceu que tem pai e mãe?
- Claro que não, mãe!
- Então por que você ignora quando eu te ligo e é preciso que eu telefone para o seu escritório para falar com você?
- Ah, mãe... Você sabe, eu fico entretido com o trabalho aí...
- Aí... aí... não tem desculpa, Lucas! Olha, eu sei que meu filho é ocupado, então não vou tomar tanto o seu tempo. Amanhã é o aniversário de 18 anos da sua prima Suellen e ela escolheu uma festa no Pub Litto II, você já sabe que não adianta dizer não, você vai.
- Tudo bem, mãe. Eu sei. Eu vou.
- Muito bem e, por favor, leve um fotógrafo da sua equipe, porque senão você passa a festa trabalhando e não vai nem se divertir.
- Pode deixar.
- Te amo, filho. Pra sempre!
- Também te amo, mãe. Manda abraço para o pai.
- Ele ouviu aqui.
Lucas desligou o telefone sorrindo. Sua "mãedrasta", como ele explicava para as pessoas que não conheciam sua história, era extremamente preocupada e dedicada. Ele lembra do dia em que se conheceram no estacionamento do laboratório onde fariam o teste de paternidade. Aquela mulher alta, imponente e, até então, indiferente não lhe inspirava confiança, apenas poder e determinação.
De fato ele não estava errado, Olívia era uma mulher poderosa e determinada, mas uma verdadeira manteiga derretida quando o assunto era Lucas. Ela se descobriu mãe do menino e o adotou como se tivesse saído de seu ventre, o que fez Lucas se sentir amado e acolhido no seio daquela família que ele acabara de conhecer.
Anos depois, sentindo que precisava ser honesto com seus sentimentos, perguntou à ela se poderia chamá-la de mãe e ela aceitou com muitas lágrimas e emoção. Desde então, Lucas chamava Olívia de mãe, mas nunca se esqueceu que teve uma mãe biológica, irmã de sua tia Alana e filha da vó Selma.
E era justamente a filha de Alana que faria aniversário no dia seguinte. Sua prima 8 anos mais nova "feita em Paraty" como sua tia gostava de dizer. Ele tinha um carinho especial pela prima que viu nascer e trazer alegria à família. Ela recebeu o nome de sua mãe, foi uma bela homenagem que Alana fez à irmã falecida e uma escolha que foi aprovada por todos.
Su, como ela chamada pelos mais íntimos, era afilhada de Olívia e Celso que babavam a menina tanto quanto o filho. Seu tio Thiago e Celso viviam discutindo sobre o futuro da menina, principalmente quando se tratava de namorados. Thiago era consciente de que não poderia amarrar a filha num quarto dentro de casa, já Celso achava que ela tinha que estudar em um internato para garantir que nenhum marmanjo se engraçasse para o lado dela.
Todo encontro de família tinha essa discussão e se não fosse Olívia para colocar Celso no seu lugar, o fim da diversão estaria decretado.
Lucas riu ao lembrar desses episódios familiares, mas logo voltou à tarefa anterior, pois logo mais teria a reunião sem fim.
Cerca de 1h depois, ele encontrou com seu advogado Juliano Alvim, filho de um renomado advogado que atuava na PGU, Victor Alvim. Os dois se encontraram no prédio onde ficava o escritório do seu futuro patrocinador. Eles trocaram umas ideias rapidamente antes de entrar no edifício e logo estavam na sala de reuniões da "Objetiva Comunicação".
Eles foram recepcionados pela secretária do CEO e levados até à sala de reuniões onde aguardaram pelo anfitrião. Gustavo Sobreira que não demorou a chegar.
Gustavo administrava a empresa da família há cerca de 20 anos. Era casado com Samantha, uma bailarina profissional que era dona do mais renomado estúdio de dança da capital paulista. Ele tinha pouco mais de 40 anos e uma vasta experiência na área de comunicação social. Atualmente procurava um empreendimento para patrocinar e recebeu uma indicação de um parceiro comercial, que o levou ao encontro de Lucas Rezende.
A reunião foi mais tranquila do que Lucas e Juliano esperavam. Eles negociaram os termos principais e fecharam negócios, ficando os respectivos advogados responsáveis por preparar a documentação para ser assinada na próxima semana.
Após se despedir de Juliano, Lucas olhou no relógio e viu que eram 11h50, daria tempo de correr até o Old Charm onde esperava reencontrar aquela mulher que ele havia fotografado no dia anterior. Sem demora, ele se encaminhou para o metrô ansioso para chegar ao seu destino.
Não muito longe dali, Isabella concluía mais uma reunião bem sucedida de uma nova obra que iria comandar: A reforma da ala pediátrica do hospital São Leopoldo. Ela se interessava especialmente por obras que tinham impacto social, embora se envolvesse com vários tipos de obras, mas como o São Leopoldo era misto, atendendo particular, convênios e serviço público, ela se sentia bem em trabalhar para eles.
Depois dessa reunião satisfatória, Isabella olhou na tela do celular uma mensagem de seu pai convidando-a para passar o dia em com os pais no sábado. Ela confirmou presença e se organizou para sair para almoçar. Nas sextas ela não comia no Old Charm, preferia almoçar num restaurante fast-food mais perto para voltar mais cedo e sair mais cedo do trabalho na sexta.
Ela pegou a bolsa e conferiu se a carteira, os óculos e o seu livro estavam lá dentro. Colocou os fone de ouvido e na sua playlist tocava "Perfec Strangers" que ela ouvia como se fosse a primeira vez, de olhos fechando tentando adivinhar os instrumentos e outros recursos utilizados pelos músicos na composição.
Para incômodo de Isabella, o elevador parou em dois andares no trajeto até o térreo. Em cada um entraram duas pessoas o que a deixou bastante incomodada, pois tinha preferência por estar sozinha no elevador. Naquele espaço pequeno, dividir o ar com mais 4 pessoas lhe era sufocante. Ela saiu praticamente correndo do elevador quando este chegou ao térreo. Ela precisava de ar.
Já na calçada, respirou fundo com as mãos apoiadas nos joelhos. Não percebeu que outras pessoas a olhavam preocupadas e outras desviavam.
Senhora: Você está bem? - Disse uma senhora tocando no ombro de Isabella.
Isabella: Não me toque! - Disse sem pensar.
A senhora se assustou e se afastou diante da reação exagerada de Isabella.
Isabella: Me desculpe, eu... - Me desculpe, senhora. Eu estou bem... - Falou desanimada.
Senhora: Tudo bem, menina. Você se assustou. Se você está em então, eu vou embora. Ok.
Isabella: Ok. - Respondeu sem olhar nos olhos da mulher.
"Preciso marcar minha terapia." Isabella pensou. E imediatamente anotou na lista de tarefas do celular que precisava marcar novamente com sua terapeuta para tratar dessas crises que parecem estar voltando, pois na semana anterior aconteceu exatamente a mesma coisa.
No Old Charm, Lucas esperou pacientemente até umas 14h30, mas Isabella não apareceu. Ele sentiu um incômodo no peito devido à frustração de não ter visto aquela bela mulher novamente. Ao mesmo tempo que brigou consigo mesmo mentalmente, pois nada lhe garantiria que ela estaria lá no dia seguinte, sua única pista era a familiaridade com que ela e o recepcionista se trataram quando ela chegou lá no dia anterior.
Ele voltou para o escritório um pouco desanimado, mas se ocupou com as tarefas do dia e saiu um pouco mais cedo dispensando Sandra e todos da equipe no mesmo horário. Ele precisava comprar uma roupa para o aniversário que iria no dia seguinte e um presente para a aniversariante.
Lucas primeiro passou em casa, tomou um banho e pegou o carro para ir ao shopping. Ele escolheu um caminho que não parecia ter muito trânsito, mas se arrependeu pouco tempo depois de sair de casa. Parado num semáforo em que o cruzamento estava fechado por carros que não conseguiram atravessar toda a pista, ele estava ficando impaciente quando olhou para o lado esquerdo e viu nada mais nada menos que a mulher do Old Charm no carro ao lado com o vidro baixo cantando algo que ele não conseguia entender. Ela parecia imersa na música e não viu quando Lucas baixou o vidro.
Ele não sabia bem o que fazer, mas teve então a ideia de segui-la, no entanto, quando finalmente o cruzamento foi aberto, ela entrou na esquerda e ele não podia ir atrás senão causaria um acidente. Frustrado pela segunda vez no dia, Lucas seguiu seu caminho sem conseguir encontrar a mulher que gostava de ler "Lua Nova".
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 117
Comments