Capítulo 04

_Anastácia_

Depois da minha rejeição, eu me senti um lixo descartado e horrível, eu não queria mais viver. Estava decidida que não iria lutar e me entregaria ao gelo mais profundo, até que de repente depois de muito tempo sem forças deitada na neve e quase morrendo de hipotermia, a minha loba despertou me trazendo um instinto de sobrevivência.

Diane- Você não vai morrer aqui!

Uma luz forte irradiou do meu corpo me aquecendo completamente, minhas carnes que tremiam com o frio agora já estavam aquecidas.

Olho ao redor e percebo já ser dia, fios de cabelos meus repousam na neve e só agora eu percebo. Meus cabelos estão brancos...

* A neve me congelou tanto assim? *

Diane- haha não bobinha! Essa é a cor original do seu cabelo.

Anastácia- Como assim? Que esquisito...

Diane- Não chama de esquisito! É a sua origem, tenha orgulho. Por anos eu vi você sofrer calada, você é humilde e mansa, merece ser feliz...

Anastácia- Origem? E o nosso companheiro?

Diane- Manda ele para o inferno!

Anastácia- Hahaha... Você é incrível loba!

Diane- O lobo dele está choramingando e me chamando, mas não vou deixar ele me localizar enquanto ele não controlar aquele humano imbecíl dele!

Anastácia- E como vamos sobreviver sem ele?

Diane- Tenho uma ideia do que fazer.

Anastácia- O que você vai fazer?

Diane- Só preciso que vá para o mundo humano.

Anastácia- Eu até queria, mais não sei o que fazer para chegar lá, tudo é cercado com magia e é restritamente proibido para um lobo entrar no mundo humano.

Diane- Depois de tudo o que fizeram com você, ainda vai obedecer às malditas regras deles?

Anastácia- Pensando por esse lado, não, não vou mesmo!

Diane- Ótimo! Vamos chegar lá simplesmente nos teletransportando.

Anastácia- Hahaha você é boa em contar piadas. Isso não existe! Só se eu fosse uma bruxa ou um mago para conseguir fazer isso.

Diane- Não são só as bruxas e magos que conseguem fazer isso linda!

Anastácia- Como assim? Eu estou completamente perdida, afinal o que eu sou?

Diane- Um dragão.

Anastácia- Hahaha você continua me surpreendendo loba.

Diane- Não estou brincando. Você é um dragão!

Anastácia- Espera, sério? Como isso é possível? Os dragões foram extintos a milênios...

Diane- Não posso te explicar a sua origem aqui Anastácia! Só preciso que confie em mim e feche os olhos.

Fecho os olhos e ela diz:

Diane- Se imagine no mundo humano que você viu.

Anastácia- Como você sabe?

Diane- Se concentre!

Tento fazer isso, mas sem sucesso...

Diane- Relaxa, você está tensa!

Tento relaxar mas é impossível com o peito estraçalhado por ter sido rejeitada, e se eu voltar? Afinal somos companheiros e ele não vai poder fugir desse laço.

Diane- É sério que está pensando em voltar para aqueles crápulas?

Anastácia- Eu não conheço o mundo humano, posso acabar morrendo lá ou virando uma aberração "que precisa ser extinta".

Diane- Sou a sua loba, precisa confiar em mim...

Sinto algo quente no peito e de certa forma isso acaba me consolando...

Tento novamente e sinto os meus pés flutuarem, me desespero e acabo caindo com a cara na neve.

Diane- Continua a mesma bocoió de sempre...

Anastácia- O quê?

Diane- O quê, o quê?

Anastácia- Isso que você disse...

Diane- O quê?

Anastácia- "Continua a mesma" porque tenho a sensação de já te conhecer?

Diane- Não temos tempo para isso! O nosso companheiro vai acabar nos sentindo se continuarmos tão perto dele, estou fazendo o meu máximo para bloqueá-lo mas ele está ficando mais desesperado ainda. Preciso que você reaja!

Com o desesperado de encará-lo eu acabo sentindo os meus pés flutuarem e de repente aparece um flash branco, fecho os olhos e quando abro eles me vejo em uma estrada movimentada e cheia de veículos... Olhei igual uma rodada para todos os lados completamente perdida até que...

- CUIDADO!!

Sou empurrada com brutalidade no chão fazendo ambos cairmos e escuto o homem que quase me atropelou gritar:

- VÊ SE OLHA PARA ONDE ANDA SUA DOIDA!!

Que humano ousado, se eu estivesse na minha forma lupina eu estraçalharia esse automóvel brega dele.

- Você está bem?

O rapaz humano que me salvou me olha procurando arranhões. Ele é loiro de olhos azuis e me encara com admiração, anseio e... Desejo?

* Mais porquê diaxos eu estou vendo as emoções dos humanos? *

Diane- É porque você é um dragão.

Anastácia- Agora você aparece, né? Quase morri ali...

Diane- Foi mal... Com tanta energia eu acabei apagando. Resumindo, você precisa se distanciar para ele não ver os seus ferimentos se curarem na frente dele.

Anastácia- O quê?

Diane- Olha o seu joelho.

Olho para o meu joelho e percebo ele sangrando... Eu não estou sentindo dor, na verdade não estou sentindo nada!

* Aaahh o quê está acontecendo?? *

Diane- Calma, não enlouquece. Vai assustar o humano!

- Você está bem?

Olho para o indivíduo à minha frente e penso:

* Até que os humanos são bonitos...*

Diane- Nem vem! Você já tem companheiro sua bocó.

Anastácia- Dá para parar de me chamar desses apelidinhos grosseiros?

Diane- Força do hábito.

- Ei...

O menino percebendo o meu transe tentou chamar a minha atenção para ele...

Anastácia- Oi...

- Você está bem?

Anastácia- Só um pouco dolorida...

Minto tampando o joelho que por incrível que pareça já estava totalmente cicatrizado. Normalmente lobos se regeneram, mas demoram minutos ou até horas. Eu mesma só me regenerava depois de longas 5 horas por ser fraca e incapaz...

Afasto esses pensamentos e me concentro no rapaz à minha frente.

- Me chamo Guilherme, mas pode me chamar de Gui e você?

Anastácia- Me chamo Anastácia...

Gui- Muito prazer Anastácia...

•Guilherme tem 22 anos...•

Gui- Porque estava parada aqui no meio da rodovia?

Anastácia- Tive um contratempo...

Falo me lembrado de ter me teletransportado do nada.

Gui- Desculpa te dizer isso na cara, mas você é tão linda que chega a doer as vistas.

Fiquei completamente constrangida com aquilo, não estou acostumada a ser chamada de linda por ninguém.

Diane- Pois se acostume!

Gui- Desculpa se te deixei constrangida, é que eu estou espantado com o quão surrealmente linda você é...

Sinto as minhas bochechas esquentarem...

* Merda eu com certeza estou corando...*

Gui- Não precisa ficar com vergonha. Vem aqui...

Falou ele me estendendo a mão para me levantar, peguei na mão dele e me levantei. Seu olhar para mim não passou despercebido pela minha loba...

Diane- Já não gosto desse humano.

Gui- Você tem familiares aqui?

Falei ríspida:

Anastácia- Não. Todos morreram pra mim!

Gui- Desculpa...

Anastácia- Não precisa se desculpar.

Ele olha ao redor passando as mãos no cabelo e diz:

Gui- Você pelo menos sabe onde está?

Falo com sinceridade:

Anastácia- No mundo humano?

Gui- Haha você é engraçada.

Gui- Estamos nos EUA Nova Jersey...

* Ou seja, mundo humano...*

Gui- Tem para aonde ir?

Anastácia- Na verdade não.

Gui- Se você quiser pode ir para a minha casa.

Olhei incrédula pra ele e falei:

Anastácia- Eu não sou dessas não...

Gui- Haha me expressei mal desculpa. Eu não fico lá e na maioria das vezes só vou lá para pegar algumas coisas, eu moro no dormitório do meu trabalho. Se você quiser eu te empresto o meu apartamento até você resolver a sua situação aqui...

Anastácia- Tudo bem, eu aceito, obrigado!

Gui- Eu não sou um crápula que deixaria uma moça perdida numa rodovia.

Anastácia- Haha mais uma vez obrigado!

Segui ele até o seu automóvel e agora eu me permiti perceber as diferenças do meu mundo para esse, lá na alcatéia as ruas são feitas de pedra e os automóveis são completamente diferente desses e quase ninguém tem, já que não precisamos muito disso.

Agora é com você, Diane...

Diane- Estou procurando a sua irmã...

Anastácia- O quê? Não, não. Minha irmã é uma cobra e vai me matar quando me encontrar, simplesmente por ser a companheira do Alfa.

Diane- Não, essa irmã. A sua verdadeira irmã!

Anastácia- Agora eu estou mais perdida ainda...

Diane- Calma, com o tempo as peças vão se encaixar.

Gui- Então, vamos?

Segui o Guilherme até um automóvel perto da estrada que parece ser dele, entramos dentro do carro e ele começou a dirigir. Durante o trajeto eu fico impressionada com o quanto os humanos são evoluídos, edifícios enormes parecidos um pouco com o castelo do Alfa junto com lojas de vidros chiques parecem ser algo comum aqui. Na alcatéia, apenas famílias nobres podem ter lojas assim...

Gui- Algum dia vai me falar como veio parar aqui?

Anastácia- É complicado...

Gui- Eu entendo... Se algum dia quiser me falar, eu sou todo aos ouvidos.

Permaneci em silêncio me lembrando de todas as humilhações que passei na minha terra natal. Injúrias, perseguições, inveja, mal entendidos e ódio era tudo o que me cercavam! Nunca recebi amor de ninguém e sempre fui tida como um monstro. O que pode ser diferente aqui? Afinal, como a minha beleza voltou? Por que ele está sendo tão gentil? Essas perguntas rondavam a minha cabeça e eu só consigo chegar a uma conclusão. Ele está sentindo pena de mim, apenas isso!

Diane- Você é a única que sente pena de si mesma.

Gui- Você gosta de apartamentos?

* O que é isso?...*

Merda como eu respondo?

Diane- Só fala que sim...

Anastácia- Sim, eu gosto.

Gui- Ufa, que bom...

Não entendi ao certo até ele chegar a um edifício que parecia mais um castelo porém reto e alto, segui ele e entramos dentro desse edifício. Começamos a andar até chegar em uma coisa parecida com uma porta enorme de metal.

As portas dessa coisa se abriram e ele entrou dentro dessa coisa, era algo como um mini cômodo. Fiquei meio receosa mas acabei entrando, até que de repente essa coisa começou a se mexer fazendo eu ficar apavorada e me sentar no chão com as mãos no peito.

Gui- Está tudo bem?

Ele se abaixa e coloca as suas mãos na minha testa.

Gui- Você tem claustrofobia?

Anastácia- O que é isso?

Gui- Você não sabe o que é claustrofobia?

Perguntou ele com um misto de surpresa no olhar. Apenas assenti com vergonha...

Gui- Bom, é quando você tem medo de lugares apertados...

Isso serve como uma bela desculpa mas não consigo mais mentir.

Anastácia- Não, eu não sou.

Gui- Então porque está com medo?

Pensa rápido Anastácia...

Anastácia- Estou ansiosa, só isso.