Fome de Viver

Ao abrir os olhos mais uma vez, sinto o peso dos dias que se passaram sobre meu corpo frágil e desnutrido. Doze dias se passaram desde a última vez que consegui engolir alguma coisa, desde que percebi que eles estavam envenenando minha comida. A fraqueza consome cada fibra do meu ser, deixando minha pele pálida e meus lábios ressecados. Cada batida do meu coração é um lembrete doloroso da minha luta pela sobrevivência.

— Noah, você precisa se levantar. Temos uma missão hoje — Garrett ordena, sua voz cortando o ar pesado do quarto.

Tento me erguer da cama, mas minhas pernas tremem sob meu peso, incapazes de me sustentar. As tentativas deles de me matar lentamente estão me levando ao limite, corroendo minha vontade de continuar lutando.

— Não sei se consigo... — murmuro, minhas palavras mal audíveis em meio à fraqueza que me consome.

— Você não tem escolha, garota. Ou você se levanta e faz o que é preciso ou... — Garrett ameaça, seu olhar duro me cortando como uma lâmina afiada.

Mas suas palavras se perdem no vazio enquanto me afundo cada vez mais na escuridão da minha própria desesperança. Será que vale a pena continuar lutando? Será que há alguma esperança de escapar desse pesadelo vivo?

Os dias se arrastam em um borrão indistinto de dor e sofrimento, cada momento uma batalha contra a fome e a fraqueza que ameaçam me consumir por completo. Aos poucos, a ideia de desistir começa a parecer cada vez mais tentadora, uma saída rápida para acabar com esse sofrimento interminável.

Mas então, em meio à escuridão da minha própria angústia, uma pequena luz de esperança surge dentro de mim. Lembro-me dos rostos dos meus amigos na instituição, do apoio e da camaradagem que compartilhamos nos momentos mais sombrios. Eles me ensinaram que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há uma razão para lutar, uma razão para continuar seguindo em frente.

Sinto falta deles, e quero continuar vivendo com eles, tenho que aguentar mais um pouco.

Com um esforço sobre-humano, ergo-me da cama, minha determinação renovada pela lembrança daqueles que me amparam. Não importa o quão sombrio o caminho à minha frente possa parecer, sei que não estou sozinha. Enquanto houver uma centelha de esperança dentro de mim, continuarei lutando, mesmo que seja só para provar que ainda estou viva.

Respiro fundo, reunindo todas as minhas forças restantes, e encaro Garrett com determinação.

— Estou pronta. Vamos fazer isso — declaro, minha voz firme apesar da fraqueza que me consome.

Garrett me lança um olhar de desdém, mas não diz mais nada. Ele sabe que, por mais que tentem me derrubar, não vão conseguir me quebrar completamente. Enquanto houver vida em mim, continuarei lutando, lutando pela chance de um dia me reunir com meus amigos novamente, mesmo que isso signifique enfrentar os horrores que ainda estão por vir.

O sol escaldante castiga impiedosamente nossas peles enquanto nos aproximamos da rua desolada, nosso refúgio temporário em meio ao caos pós-apocalíptico. Garrett lidera o grupo com sua habitual aura de autoridade, enquanto Jake, Mason, Natalie e eu seguimos em silêncio, cada um absorto em seus próprios pensamentos sombrios.

— Vamos lá, Noah, mova-se mais rápido! Não temos o dia todo! — Garrett ruge, seu tom impaciente ecoando no ar abafado pelo calor

Engulo em seco, uma sensação de apreensão apertando meu peito enquanto observo os outros membros da equipe se preparando para a missão. Jake ajusta sua arma com um sorriso sádico, enquanto Mason troca um olhar cúmplice com Natalie. Sabendo o que está por vir, sinto meu estômago revirar em antecipação nervosa.

À medida que nos aproximamos da rua desolada, percebo algo estranho: um beco sombrio à nossa esquerda, um local perfeito para uma emboscada. Meus instintos gritam de advertência, mas antes que eu possa reagir, sinto uma pancada forte na nuca e tudo se torna escuridão

Quando finalmente desperto da escuridão, a noite já se instalara e eu me encontro sozinha, cercada pelo silêncio macabro da noite e pela ameaça constante dos zumbis que rodeiam minha frágil existência. Cada movimento é uma agonia, cada suspiro um lembrete doloroso de minha vulnerabilidade nesta paisagem distópica.

A dor lateja em cada fibra do meu ser, enquanto me levanto com dificuldade, meus membros protestando contra o esforço. Minha boca está seca, meu estômago roncando de fome, mas é o meu psicológico que está verdadeiramente abalado, uma sensação de desamparo e desespero me envolvendo como uma mortalha sombria.

Enquanto meus olhos vasculham o entorno em busca de uma saída, percebo que estou em uma poça de sangue de zumbis, o por que os mortos-vivos não se voltaram contra mim.

Com um facão em mãos, a única arma contra o mar de mortos-vivos que me cerca, avanço lentamente, Meu coração bate descontroladamente no peito, a incerteza me corroendo por dentro.

É então que avisto uma casa, suas janelas cobertas com papel e cortinas, um sinal claro de que há sobreviventes escondidos dentro.

Opto por não chamar nem bater na porta, consciente de que isso poderia atrair a atenção indesejada dos zumbis. Em vez disso, sento-me silenciosamente diante da entrada, aguardando pacientemente pela luz do amanhecer que trará consigo uma chance de contato.

Quando os primeiros raios de sol iluminam o céu, os habitantes da casa finalmente emergem, empurrando-me com brutalidade, convencidos de que sou mais um cadáver ambulante. Mas antes que possam se afastar, abro os olhos, revelando minha humanidade e minha necessidade desesperada de comida.

O choque e o medo pintam seus rostos enquanto se dão conta de seu erro, suas vozes ecoando em gritos de surpresa. Eles se afastam rapidamente, como se temendo que eu possa de repente me transformar em uma zumbi.

—Meu Deus, o que é isso?!— exclama um deles, sua voz carregada de pânico e incredulidade.

—Será que ela foi mordida?—questiona o outro, sua voz trêmula de apreensão.

Eu os encaro com olhos cansados, tentando transmitir toda a urgência da minha necessidade.

—Não, não fui mordida—eu respondo rapidamente, minha voz fraca e rouca pelo desgaste e pela fome. —Por favor, eu só preciso de comida. Qualquer coisa.

Os dois sobreviventes se entreolham, um conflito visível em seus semblantes.

—E se ela estiver mentindo? E se ela estiver infectada?— sussurra um deles, os olhos arregalados de terror.

—Não podemos deixá-la morrer de fome. Ela parece humana o suficiente—responde o outro, sua voz vacilante, mas tingida de compaixão.

Depois de muita hesitação, os sobreviventes finalmente decidem me dar algo para comer. Eles me oferecem o pouco que têm, mas para mim é um banquete. Devoro cada pedaço com voracidade, sentindo minhas energias se renovarem lentamente.

Enquanto me alimento, um jovem rapaz se aproxima, sua expressão preocupada e seus olhos gentis transparecendo compaixão. Ele tem cabelos castanhos ondulados que caem desalinhados sobre a testa, olhos azuis como o céu em um dia claro e um sorriso tímido que ilumina seu rosto. E aparentava ter 20 anos.

—Você está bem?—ele pergunta suavemente, enquanto cuida das feridas em meu rosto e mãos com uma gentileza reconfortante.

Eu suspiro, sentindo-me aliviada pela primeira vez em dias.

—Não, não estou. Mas estou melhor agora, obrigada.

Ele parece intrigado.

—O que aconteceu com você? Por que uma soldada como você está nesse estado?

Eu hesito por um momento, relutante em compartilhar meus tormentos com estranhos, mas a sinceridade em seus olhos me encoraja a falar.

—É uma longa história—começo, minha voz falhando um pouco. —Estamos em uma missão de resgate, mas meus colegas de equipe... eles não têm exatamente boas intenções.

Os sobreviventes ouvem em silêncio, absorvendo minhas palavras com expressões de choque e compaixão.

—Mas por que você continua com eles então?—pergunta o jovem rapaz, sua voz repleta de curiosidade e preocupação.

—Porque tenho que estar lá para impedi-los. Eles têm um plano para matar todos os sobreviventes depois de atingirem a meta de 500 pessoas. Minha missão é detê-los antes que seja tarde demais.

Há um silêncio pesado enquanto meus ouvintes processam minhas palavras, suas expressões refletindo uma mistura de medo e determinação.

—Então você vai voltar lá?—pergunta um deles, sua voz trêmula

Eu assinto, meu rosto endurecido pela determinação.

—Tenho que voltar. Eles não podem ser detidos a menos que eu esteja lá para impedi-los. Mas eu entendo se vocês não quiserem vir comigo.

— Não acho que você deva ir agora, está muito fraca.

Eu assinto, reconhecendo a lógica em suas palavras, mesmo que meu desejo de agir imediatamente seja forte.

—Você tem razão. Não adianta muito ir sem estar forte o suficiente para enfrentar o que está por vir.

Enquanto ele continua a tratar das feridas em meu rosto, minha mente vagueia para lembranças dos dias anteriores, quando Finn e Mike estavam ao meu lado. Recordo-me vividamente de Mike, seu toque gentil e palavras reconfortantes enquanto cuidava de mim, contrastando com a atitude brusca e protetora de Finn.

Finn, sempre o protetor obstinado, insistindo em tratar das minhas feridas pessoalmente, afastando Mike com sua presença imponente. Eu consigo visualizar claramente sua expressão furiosa ao ver o garoto cuidando de mim agora, sua mandíbula tensa e olhos faiscando com desaprovação.

—Você está bem?—o garoto pergunta, interrompendo meus devaneios.

Eu balanço a cabeça, tentando afastar as lembranças e me concentrar no presente. —Sim, estou bem. Só pensando em algumas coisas. Obrigada por cuidar de mim.

Ele sorri gentilmente. —É o mínimo que posso fazer. Vamos esperar até amanhã para decidir o que fazer.

Enquanto o garoto cuida das feridas em meu rosto, meus pensamentos vagam para Finn novamente. Sinto um aperto no peito ao lembrar de sua ausência, desejando que ele estivesse ao meu lado neste momento, como costumava estar. Imagino-o limpando meus machucados

Sinto falta das brincadeiras bobas que compartilhávamos, sinto falta das provocações dele,das risadas que compartilhávamos mesmo nos momentos mais sombrios .

Uma onda de saudade me atinge com força, fazendo-me desejar sua presença mais do que nunca. Mas então uma vozinha interior questiona: "Por que estou pensando nele agora?" Será que é apenas a nostalgia dos dias melhores ou algo mais profundo?

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