CAPÍTULO 20

Você está bem?

Pergunta Kyle do outro lado da mesa, levanto meu copo e ele bate delicadamente.

- Bem melhor.

Falo e viro o líquido âmbar que desce queimando pela minha garganta. Kyle viu que eu precisava de um tempo antes de ir embora e me convidou para beber mesmo viajando amanhã cedo. Depois de verificar que Margareth estava dormindo feito um anjo, nos permitimos uma dose, e agora, já estamos na sexta.

- Vou comprar uma casa.

Ele fala enquanto enche nossos copos mais uma vez, ele parece sóbrio, só um pouco mais falante que o normal.

- Sério?

Ele confirma com a cabeça e me fala o endereço, por coincidência ou não é na mesma rua que o Vicente morava, lá só tem casas enormes, é o quarteirão mais caro da cidade.

- Hum... Algum motivo especial?

- Só quero tirar minha mãe daqui, não acho que essa casa nos traga boas lembranças. Está na hora de mudar um pouco e já que ela quer tanto continuar em Boston, farei sua vontade...

- Ok, e qual é o verdadeiro motivo?

Ele ri.

- Ok, meu pai comprou essa casa, quando comprei de volta achei que me sentiria melhor já que foi com meu dinheiro. Mas não, tudo aqui me lembra dele e o quanto ele deixou claro que deixaria para mim caso eu desse errado como ele sempre achou. Quero um lugar meu, um lugar que me prove o contrário!

Levanto meu copo em sua direção.

- Um brinde aos pais problemáticos!

Ele me olha sério e logo depois sorri batendo seu copo no meu. Viramos a bebida ao mesmo tempo.

- Para onde você viaja amanhã?

- Sigiloso. O militarismo tem suas regras de merda.

- É perigoso?

- Não muito Anny, já fui para lugares piores.

Ele me encara e sorri de lado. Fico em silêncio tentando me lembrar se vi algo na televisão sobre guerras e invasões, mas não lembro de nada.

- Queria que conversasse com sua mãe sobre o que aconteceu hoje...

Ele diz baixo passando o dedo na borda do copo. Ele está lindo, bem despojado e relaxado, está usando uma calça de moletom preta e a camisa pendurada em seu ombro musculoso.

- Você prometeu não falar nada!

- Por isso estou falando para você contar.

Faço uma carranca em sua direção.

- Vamos mudar de assunto, por favor, deixa isso para quando realmente precisar enfrentar meus problemas, hoje não. Preciso que me distraia.

Ele sorri.

- Você ainda joga poker?

Olho para ele com animação lembrando da época em que ele me ensinou a jogar com toda calma e paciência do mundo.

- Só vai descobrir jogando...

Ele sorri maliciosamente e sai da cozinha em busca das cartas, quando volta embaralha como um profissional, mal consigo acompanhar seus movimentos. Espero estar afiada o suficiente, na faculdade jogava bastante nas horas vagas quando minha turma se reunia para beber e modéstia à parte, sempre dava uma surra no pessoal.

- Apostas?

Sugiro bebendo a água com gás que ele me serviu.

- Nada de apostas, não quero seu dinheiro.

- Nem começamos e sua bunda já está doendo da surra que vai levar é?

Provoco. Ele tira os olhos das cartas e me encara.

- Você fala demais Anny porém são só palavras... E já que a srta se garante tanto tive uma idéia. O perdedor tira uma peça de roupa em cada rodada.

Ok. Por essa eu não esperava, acho que o whisky acabou nos deixando um pouco mais ousados.

- Espero que suas bolas não congelem.

Ele gargalha.

...

Estou encarando seus olhos com desdém, as vezes olho para minhas cartas e sorrio vitoriosamente como um blefe, mas ele sabe me ler perfeitamente bem, sempre soube. Estou confiante nessa rodada, ele ganhou as duas partidas anteriores me deixando vestindo apenas minha calcinha e sutiã enquanto ele continua da mesma forma que estava.

Merda Anny, se ele ganhar você fica com os peitos de fora, recupera-se!

A última carta bate na mesa, ele me encara e seus olhos estão escuros, corro os olhos em seu corpo até a parte em que consigo ver por cima da mesa, passo a língua no lábio inferior e ele se remexe na cadeira, ele me quer assim como eu o quero.

- Se prepare para congelar suas bolas.

Ameaço lhe arrancando um sorriso. Revelamos nossas cartas ao mesmo tempo.

- Flush.

Digo analisando com expectativa suas cartas na mesa enquanto ele me olha sorrindo.

- Full House...

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