Conversa séria

Baruc se levanta, e incrédulo com o que acabou de ouvir, ele começa a andar de um lado para outro, passando a mão na cabeça.

— A Eva?!

— Sim, chefe.

— Eu já estava desconfiando daquela filha da putå. Sabia que ela iria aprontar alguma. Ela sempre se dizia ser leal a mim, mas na primeira oportunidade, ela resolveu me apunhalar.

— Eu nunca confiei na Eva. — Ragnar se levanta. — Eu sempre deixei isso muito claro á todos. A Eva nunca foi minha pessoa favorita no mundo, porque algo não me permitia confiar nela. Sempre soube que uma nota de noventa reais é mais verdadeira do que a sinceridade que ela dizia ter. A mina andava coladinha com a sua ex mulher, cara! A mina já fez ménage com tu e com a sua ex mulher, e ela sempre quis o posto de primeira dama. Não se esqueça que antes da sua ex sumir na lapa do mundo, esse ménage que vocês fizeram foi o motivo de uma discussão feia, porque a sua ex ficou paranóica com a Eva, e todo mundo aqui sabia que a Eva só queria uma nova chance de sentar pra tu. A Rebeca apareceu, e tu já tirou a mina do apartamento que era alugado, deu uma cobertura pra mina, dava de tudo pra ela, fez pela Rebeca nesse quatro meses o que tu nunca fez pela tua ex, e acha que a Eva não ia crescer o olho? Baruc, eu te conheço desde menorzão, meu parceiro. Eu nunca vi tu sendo romântico, dando beijinho, dormindo junto, se preocupando, fazendo todos os gostos, como eu vejo tu fazendo com a Rebeca. Nem com a tua ex mulher tu dormia junto direito, porque tu sempre ia pra boca as três da manhã e amanhecia o dia lá. E, a Rebeca também fez por tu, tudo aquilo que nem tu ex, nem putå alguma desse morro aqui fez. Quando tu passou os dois meses lá privado, foi ela que ligou pro advogado, correu atrás de tudo pra lhe tirar de sentir da cadeia. Foi ela quem comprava tudo pra tu, organizava os bagulho tudo nos conforme pra entrar no presídio, dava quatro horas da manhã, num frio do caralhø, mas a mina tava lá na portaria do prédio, com comida feita na hora, com os bagulho tudo ajeitado pra um vapor pegar e levar pra tu. Tu caiu nessa ilusão de que vocês dois só estavam juntos para ter um filho, e ficou com várias minas aqui do morro. Quero ver como tu vai explicar pra ela, das duas visitas intimas que tu recebeu da Bárbara e da Estênia quando tu tava privado, e das vezes que tu fazia festinha aqui no morro e depois, ia pra casa dela, como se nada tivesse acontecido. Se tu for assumir um bagui com a mina, cê vai ter que ter uma conversa séria com ela, tudo nos conforme, tudo na ordem e decência e vai contar tudo o que tu fez pra ela, nessa época que cês tavam ficando, vai pedir perdão, porque tu foi cuzåo, e tu sabe que eu defendo pelas costas e xingo na cara, e vai ser feliz com a Rebeca, criar a neném que vem vindo aí, e parar de dar confiança pra putå. É ir atrás da Eva, da sua ex, corta o mau pela raíz, e vai viver com tua mulher.

Baruc apenas olha para os amigos e acena em afirmação. Após alguns minutos com eles, ele sobe para o quarto com uma bandeja, contendo algumas coisas a moça, que está despertando no exato momento em que ele entra.

— Já está acordada? Achei que fosse descansar mais um pouquinho.

— Eu até pensei em descansar, mas acabei acordando porque passaram gritando por aqui. — Ela ri.

— De fato, essa não é a rua mais silenciosa.

Os dois dão risada, e ele coloca a bandeja em cima da cama...

— Eu trouxe algo para você comer, meu bem.

— Hum... que delícia! Eu de fato estou bem faminta agora. O melhor de tudo, é que o nosso filho é bem comportado e deixa tudo no meu estômago. Nesses dois meses de gestação, eu não senti enjôo nenhum, e é exatamente por isso que foi uma surpresa para mim. Eu achei que os meus atrasos eram porque eu estava muito preocupada contigo, e não sabia o que fazer para lhe ajudar, mas eu fazia o que poderia no momento.

— Eu não te mereço, sabia? Você é uma pessoa maravilhosa! Eu não mereço tanto. As vezes, eu fico perguntando o que eu fiz de bom nessa vida para poder merecer uma pessoa tão gentil, tão linda já minha vida. — Ele acaricia o rosto de Rebeca, que fecha os olhos. — Rebeca, eu quero lhe pedir perdão.

— Perdão?

— Sim, minha branquinha. E, acho que você já sabe o motivo.

— Acredito que sim.

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