JESSIE
— Eu vi você e o Dante conversando, você já decidiu contar para ele? — Meu irmão perguntou quando ficamos sozinhos no meu quarto.
Alex achava uma boa ideia contar ao Dante, disse que ele certamente entenderia e que seria melhor para nós dois. Para mim, pois eu não precisaria tomar supressores de cheiro e para ele pois esse "incômodo" pararia.
Mas eu não podia confiar tão facilmente em alguém que tinha conhecido há poucos dias, era loucura.
— Não, eu... Eu vou tomar os supressores e depois cuido disso.
— Jessie, isso é errado, você não vê como ele age?
— Não — Fingi que não tinha notado nada.
A verdade era que eu tinha notado demais como ele agia perto de mim, era da sua natureza bancar o protetor, podia parecer inconsciente para ele, mas para mim não.
— As íris dele mudaram, diversas vezes hoje, isso é preocupante isso só acontece quando um ômega e um alfa possuem uma ligação muito forte.
— Eu sei disso, Alex.
— As suas também mudaram algumas vezes.
— O que?
— É, ficam douradas... Brilhantes quando você o olha, acho que todos já perceberam.
— Mas meus olhos...
— Você é uma lúpus, é óbvio que mudam de cor — Meu irmão explicou. — Charlotte me explicou o significado das cores, por mais que seja óbvio.
Cruzei os braços. Até meu irmão estava me trocando pela Char. Ela era uma irmã mais nova melhor talvez?
— É? E o que ela sabe sobre isso?
— Ela é uma lúpus e... Por que está tão irritada? Seus olhos escureceram — Ele apontou para os próprios olhos. — A Char te disse algo?
— Não.
— Então você apenas decidiu não ir com a cara dela?
— Sim.
— Não acredito nisso, o que aconteceu?
— Se eu falar você só vai me encher mais ainda.
— Tem a ver com o Dante? —. Não respondi. Meu irmão deu risada. — Eu achei que estava ficando louca... Você está apaixonada por ele, Jessie?
— Claro que não! Eu mal conheço ele!
— Woah, eu só insinuei e é melhor falar baixo, ele tem uma audição melhor que a maioria.
— Não ligo pra porcaria de audição, eu quero distância dele e da Charlotte.
— Mas o que a Char tem a ver com vocês dois?
Respirei fundo, meu irmão não ia me deixar em paz até eu despejar tudo. De qualquer forma era meu irmão, ele não ia me julgar.
— Eu percebi que o Dante age diferente comigo, só que ele namora a Charlotte e...
— Você ficou louca? Eles não namoram.
— Como não? Eles vivem grudados.
— Porque são primos, Jessica, pelo amor de Deus.
Por mais que estivesse envergonhada, não pude deixar de sorrir. Então eles não namoravam?
— Dante é solteiro?
— Por que quer saber? Você tem seu ômega — Alex me provocou já que sabia da minha mentira.
— Não quero saber, minha ideia de manter distância não mudou.
— Sei, mas sim, ele é solteiro, na verdade eu nunca o vi ficar com ninguém.
— Legal — Sorri tímida. — Talvez eu possa ser amiga dele afinal, quer dizer, estava dando certo.
— Quando eu trouxer os supressores, até lá, distância.
— Mas por que essa insistência, até parece que ele é um monstro.
— Ele não é, mas é assustador igual, você sabia que ele...
Dante abriu a porta do meu quarto de repente. Eu estava deitada ao lado do Alex, pensei que ele fosse demonstrar alguma reação, mas tudo que eu encontrei foi sua face indecifrável.
— Anna está na sala, Alex, ela perguntou se vocês ainda vão sair hoje.
— Sim, nós vamos — Alex levantou e começou a colocar os tênis. — Pode avisar que eu já vou.
— Ela está esperando de qualquer forma — Dante deu de ombros.
— Se cuida, Jessie, mais tarde mando mensagem.
— Bom passeio.
Meu irmão acenou e saiu. Permaneci deitada na minha cama, sabia que Dante estava na porta me analisando, mas não disse nada.
— Jessica, você está bem? — Ele finalmente se aproximou e hesitante sentou na beirada da minha cama. — Está se adaptando bem?
— Matteo pediu para você perguntar isso?
— Por que de repente ficamos assim? Estávamos super amigos — Dante parecia magoado.
Pela primeira vez eu percebi que ele podia se magoar, talvez alfas não fossem tão insensíveis como pensei. Eu estava errada em achar que meu irmão e Matteo eram exceções.
— Aconteceram algumas coisas.
— Sim, aconteceram — Ele cruzou os braços na defensiva. — Mas eu sei o porquê de não querer ser minha amiga, porque sou um lúpus não é? Eu escutei sua conversa com o Alex.
— Você... Você escutou!? Quando!?
— Ontem, me desculpe, foi impossível não escutar.
Meu coração estava acelerado. Ele tinha escutado, sabia que eu era uma ômega e não ia contar para ninguém?
— E o que você acha disso? Você vai contar para alguém?
— Que você tem medo de mim? Não, eu não sou babaca assim e praticamente todos no campus não mexem comigo, é normal.
— Não isso, sobre...
— Eu fiquei feliz por dizer que apesar de você ser uma alfa comum e eu um lúpus, você não ligava para isso... Mas quando disse que eu era um alfa qualquer, pensei que eu fosse insignificante — Dante estava contando tudo o que sentia enquanto me encarava triste. — Eu sou insignificante para você?
Eu não sabia de onde estava vindo tantos sentimentos por parte dele... E pela minha também. Mas um suspiro de alívio escapou dos meus lábios quando percebi que ele não tinha entendido a conversa. Eu era uma alfa novamente.
— Você não é insignificante — Fui sincera. — Eu só estranhei algumas coisas.
— Como o que? Eu te chateei? Não foi minha intenção.
— Você me julgou antes de eu explicar que Alex... Era meu irmão.
Eu tinha feito a mesma coisa com ele sem nem perceber. Meu Deus, eu era muito idiota.
— Desculpe, eu fiquei irritado por você ter um ômega tão bom e supostamente o trair.
— Estava preocupado com... Com a minha ômega? — Não consegui conter o sorriso.
— Eu estava, não queria me meter no seu relacionamento, mas na hora... Eu não consegui evitar.
Evitar, controlar, Dante vivia dizendo essas coisas. Alex tinha razão afinal, eu deveria arrumar esses supressores logo.
— Peço desculpas também, você parece... Gostar muito da minha namorada.
— Não entenda mal — Ele piscou forte como se estivesse tentando conter algum sentimento. — Eu só nunca senti tanta atração pelo cheiro de alguém... E está por toda parte, Jessica, é insano.
Meu rosto esquentou. Se eu tivesse o conhecido sem toda essa mentira... Talvez fôssemos um possível casal?
— Eu prometo que vou evitar isso.
— Você não precisa fazer isso por mim.
— Preciso, é uma tortura para você se sentir tão... Atraído por alguém.
Ele continuou com uma expressão de desânimo, mas assentiu aceitando minha ideia. De qualquer forma eu afastar "meu ômega" não era grande coisa.
Senti vontade de abraçar o Dante, mas não me mexi, sentia que se o abraçasse não ia soltá-lo nunca mais.
— Amigos novamente ou...
— Amigos — Sorri.
— Que bom, Jessie — Ele sorriu largamente e fez menção de tocar meu cabelo, mas desistiu no caminho. Suas íris estavam brilhantes... — Vou ser um bom veterano, prometo.
Meu coração acelerou e eu esperava que Dante saísse logo do meu quarto antes que eu cometesse alguma loucura. Minhas preces foram atendidas quando ele levantou e saiu. Fiquei sozinha, sorrindo como uma idiota e com o peito quente novamente.
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Atualizado até capítulo 106
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