Capítulo Treze

DANTE

Eu estava puto, Jessica estava mentindo para a própria namorada? Eu não sabia porque isso me incomodava tanto, mas só de pensar nela com outro alfa, meu sangue fervia.

Não sentia isso ao imaginá-la com a suposta ômega que tinha um cheiro maravilhoso. Era como se eu não conseguisse sentir raiva... Mas pensar na Jessica com Alexander fazia meu estômago revirar.

— Maninho, eu...

— Eu não acredito, Alex, você disse que era solteiro! — Anna explodiu.

— Mas eu sou! — Ele se defendeu. — A Jessica é minha irmã!

— Como sua irmã, sua irmã não é ômega? — Dessa vez Matt, que o conhecia melhor, se pronunciou.

Era verdade, eu lembrava de uma conversa onde Alex saiu irritado após Matt querer saber mais sobre a irmã mais nova dele. Alex era muito protetor da sua irmã, mas o motivo não era conhecido por mim.

— Sim... Essa é outra irmã — Alex encarava Jessica como se fosse matá-la.

— O que tem a dizer, Jessica? — Cruzei os braços.

— Surpresa, maninho? — Ela sorriu para Alex e então lhe deu um abraço caloroso.

E eu não queria saber se era irmã ou não, não gostei nada do jeito como Jessica abraçava Alex. Era íntimo e confiante. Jessica gostava muito do Alex.

— Para com isso, Dante — Escutei minha prima sussurrar. Eu a encarei. — Seus olhos estão escuros.

— Como assim? — Pisquei. Isso só acontecia quando eu sentia muita raiva, ou seja, quase nunca. — Não estavam não.

— E você tem um espelho para saber disso? Estavam, eu vi e é melhor parar, você sabe como nossa família é.

Charlotte tinha razão. Não era permitido o namoro entre dois alfas ou dois ômegas na nossa família... Não que eu estivesse pensando em namorar a Jessica. Talvez eu estivesse com ciúme (o que eu não ia admitir nem sob tortura) mas era apenas porque ela era minha nova amiga, e eu era um pouco possessivo naturalmente.

Mas só porque eu estava com ciúme da sua amizade, não significava que eu a desejava ou algo assim.

— Não sei do que está falando — Também sussurrei.

— Está vendo a confusão que causou? — Prestei atenção na fala do Alex. — Deveria ter me dito que viria.

— Quis fazer uma surpresa — Jessica sorriu apesar de parecer que algo estava errado.

— Eu ainda mato o Alex — Anna ainda estava emburrada.

Alex deu um sorriso sem graça, puxou uma cadeira e sentou entre minha prima e Anna. Percebi que Jessica não tirava os olhos dele, parecia ansiosa.

— Você está bem, Jessica? — Perguntei a contragosto.

Eu estava preocupado e irritado. Não sabia muito bem especificar o que eu estava sentindo. Fui surpreendido pelo silêncio da Jessica, ela simplesmente virou o rosto e não me respondeu.

Se eu fiquei ofendido? Muito. Éramos amigos, ela não podia me ignorar, quer dizer era direito dela decidir se não ia falar comigo, mas eu estava apenas sendo gentil. E o mentiroso ali não era eu.

— Parece que alguém está irritado de repente — Matt sorriu para mim e depois olhou para Jessica nada discretamente.

— Não sei o que quis dizer, Matteo — Jessica respondeu num tom baixo notando o olhar sobre ele. — Alex, podemos conversar?

— Devemos, Jessie — Alex a encarou seriamente.

Os dois levantaram na maior naturalidade e saíram. Nem mesmo Anna se importou, mas eu sim. Eu era o irmão mais velho da Jessica na faculdade, não era justo outro alfa aparecer do nada e roubar ela assim.

— Dan, você está bem? — Anna questionou me encarando surpresa. Ela apontou para os próprios olhos. — Está bravo?

— Não — Respondi e levantei. — Perdi a fome, até amanhã.

Saí do refeitório. Pretendia ir para o meu dormitório, mas duas vozes conhecidas chamaram minha atenção. Jessica e Alex conversavam em um banco próximo ao refeitório. Era possível ouvir o que eles diziam.

Peguei meu celular e fingi estar mexendo nele enquanto escutava cada palavra.

— Ninguém sabe, Alex — Jessica ia dizendo. Tentei não me irritar mais. — Eu não sou burra.

— Não é? Foi só você ficar nervosa que eu senti seu cheiro — Alex retrucou. — Isso é muito perigoso.

Estranhei a conversa, por que o cheiro da Jessica seria perigoso? Era um cheiro sútil de terra molhada igual o do Alex, o que fazia sentido já que são irmãos.

— Eu sei me cuidar e também o Dante é legal.

Sorri ao ouvir isso. É, eu tentava. Talvez a Jessica gostasse de mim afinal, apesar de parecer irritada há pouco tempo.

— O Dante é? O Dante também é um lúpus.

— E daí?

— Não se faz de burra, Jessica, ele é mais forte que alfas comuns e talvez ele pareça controlado, mas acredite, perto de um lúpus ninguém é — Alex a repreendeu. — Além disso, sabia que ele é um dos poucos clãs que ainda é capaz de se transformar?

Como Alexander sabia disso era um mistério para mim, talvez Matteo tenha contado. Mas era verdade que após tantas gerações apenas algumas famílias conseguiam se transformar em seu lobo interior sem prática alguma. Eu fazia parte de uma delas.

— Mas você...

— Eu sou seu irmão, idiota, mesmo que de criação, nossos lobos descartam um ao outro quando o assunto é relacionamento.

Então eles não eram irmãos de sangue... Porém eram irmãos de consideração. Talvez fossem como eu e Matt era uma boa comparação.

— Eu sei me cuidar e não se preocupe, o Dante nem é atraente ou algo assim — Jessica o confortou. — Ele é só um alfa qualquer.

Pensei que a Jessica fosse alguém doce, do tipo que não magoa as pessoas, não por querer pelo menos. Mas saber que eu era um... Qualquer, tinha me machucado, e muito.

Me arrependi de ter escutado essa conversa estúpida, guardei meu celular e fui para o meu dormitório.

— Hey, Dan! Já vai embora? — Alex me viu.

— Já, boa noite — Respondi olhando para Jessica que não me encarava.

Que seja, eu não preciso de mais amigos mesmo, ainda mais uma falsa que só foi legal comigo para se enturmar.

— Boa noite — Alex acenou.

Acenei de volta e fui para o meu dormitório. Ao entrar felizmente não senti cheiro de ômega nenhum, isso era bom, não queria sentir nada que me lembrasse da Jessica... Por mais que ela não fosse a ômega, mesmo assim fazia parte dela.

E se dependesse de mim, nada relativo a Jessica faria parte da minha vida novamente. Essa era a primeira e última vez que eu deixava alguém me conquistar tão rápido e me magoar profundamente.

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