Se sentindo suja.

Zayan

Se há alguém mais idiota nesse mundo, desconheço. Como pude ser tão burro? Que canalha! Se pudesse me punir com algum tipo de castigo para compensar todo o mal que lhe fiz, seria a solidão. Conviver com isso seria pouco diante do tamanho do sofrimento que talvez tenha lhe causado.

Observo Cecília deixar o auditório da formatura apressadamente e me levanto para ir atrás dela, mas foi em vão. Ela já tinha ido embora. Não posso me aproximar se o pai dela descobrir a canalhice que fiz. Acho que ele seria capaz de me matar.

Deivis: Zayan, o que faz aqui fora?

Zayan: Nada, eu... Deixa para lá! – digo, olhando para longe.

Deivis: Perdeu alguma coisa?

Zayan: É, não é nada!

Deivis: Então, vamos para a casa da Pietra. Proponho comemorarmos a formatura lá hoje à noite!

Zayan: Talvez mais tarde eu apareça lá. Tenho um assunto pendente para resolver.

Deivis: Está bem. Vê se aparece lá!

Zayan: Está bem, agora tenho que ir! – falo, entrando no carro.

Não demora muito, e em instantes, estou em frente à casa de Cecília, tomando coragem para chegar à porta e tocar a campainha, aguardando que ela me atenda. Após ver como ela ficou zangada, não espero que ela me trate bem. Depois de muito refletir, decido descer do carro. Toco a campainha duas vezes, e a porta logo se abre. Vejo que sua expressão não é das melhores. Ela parecia um vulcão prestes a entrar em erupção.

Zayan: Oi!

Cecília: Como você é descarado, aparecendo por aqui!

Zayan: Vejo que está de mau-humor.

Cecília: Você acha?

Zayan: Me desculpe, não queria ter...

Cecília: Achou que podia ficar em sigilo, e ninguém saberia de nada?

Zayan: Não é isso, eu só não sabia como...

Cecília: Ficou com medo de ser zoado por ficar com a nerd. Vocês e seus amiguinhos pensaram: "vai lá tirar a virgindade dela e depois descarta-la".

Zayan: Não, Cecí, não contei para eles. Eu...

Cecília: Não me chama de Cecí! Fala sério, Zayan! Vi muito bem como vocês riram e debocharam da minha cara! Foi algum tipo de aposta para ver quem perderia a virgindade da nerd?

Cecília me questiona extremamente zangada, e permaneço em silêncio. Minha covardia já foi longe demais. Não tive coragem de mentir. Em meio ao meu silêncio, Cecília tira suas próprias conclusões.

Cecília: Vocês são sujos! Odeio todos vocês! Nunca mais ouse bater na porta de minha casa! Se voltar a colocar os pés aqui, chamo meu pai para você! Eu te odeio! Some da minha vida! Você me causa repulsa! – BANG! Após receber uma portada na cara, não foi isso que mais doeu, as palavras do ódio que ela proferiu sobre mim foram piores. Não sei bem o que sentia por ela, mas aquilo foi como se ela tivesse enfiado uma faca bem no meu peito e torcido para abrir uma ferida maior. Entro no carro. Meus sentimentos eram de ódio, mas era de mim mesmo! Fui um covarde em brincar com seus sentimentos. Queria ir para bem longe e esquecer tudo aquilo. Em instantes, saio dali.

Cecília

Como ele foi capaz de me machucar assim? Estou me sentindo suja e usada. Nem as palavras que ele disse no colégio me machucaram tanto ao saber que me usou como uma aposta idiota. Como fui tão burra em cair naquele papinho dele. Esse meu corpo traidor que não soube se controlar e caiu nas garras daquele moleque imundo.

Com meus pensamentos revoltados em meio ao ódio e amargura e meu coração quebrado pela dor, entro no banheiro, pego uma bucha e começo a esfregar meu corpo para tentar tirar toda aquela imundície do meu corpo. Me sinto suja, como se tivesse rolado na lama em meio a um monte de porcos. Sob a água do chuveiro, começo a chorar descontroladamente, dá para ouvir em qualquer canto da casa. Por sorte, meu pai não estava em casa, caso contrário teria que dar explicações a ele. Não queria ter aquela conversa porque ele me acharia uma burra, já que é assim que me sentia naquele momento.

Tentava me afogar entre as lágrimas e a água do chuveiro. Não queria mais existir, queria morrer, pois a dor era insuportável. Sem forças para continuar em pé, me sento no chão enquanto minha dor vai pelo ralo, junto com a água do chuveiro. Minha dignidade e a água do chuveiro também física e emocionalmente.

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