CAPÍTULO 6 - Mudanças

Com o passar de alguns dias, já havia virado rotina, sempre após o almoço, Mariana corria até a cozinha, já vestida com o uniforme da escola apenas para dar tchau para Priscila. Rute percebia como a menina estava à com vontade com a moça. A criança ia quebrando as barreiras gradualmente e agora ela recebia de volta um aceno de mão e um sorriso, mas quando o pai vinha junto, Priscila ficava de cabeça baixa olhando para o chão e não se movia, ficava paralisada.

Percebeu que aquela era uma reação de defesa, Priscila não se sentia bem com os homens por perto. A senhora percebia também e ela gostava de estar com Mariana e a presença de Roberto não a incomodava. Já estava pensando em tirá-la dos serviços gerais e deixá-la como babá das crianças, elas precisavam de uma presença jovem e feminina.

Já havia se passado dez dias que ela estava na casa, a moça agora parecia ter alguma carne envolvendo os seus ossos e até o rosto dela já estava corado, a sua pele parecia saudável.

Naquela mesma noite, Rute resolveu comunicar a sua decisão para Leonardo, queria transferir Priscila. Após o jantar, deixou a moça lavando a louça e foi falar com o patrão que estava no escritório. Bateu na porta e esperou pela autorização para entrar.

— Leonardo, meu filho, encontrei uma babá para as crianças.

— Se você conseguiu, traga a sua escolhida para uma entrevista. Eu confio no seu instinto, nunca falhou. — falou sem tirar os documentos que analisava.

Rute continuou parada, sem sair de onde estava, esperando assim ter a atenção total de Leonardo, ela conhecia-o.

— Mais alguma coisa Rute? — agora o homem ergueu a sua cabeça, dando total atenção para a sua governanta.

— A babá em questão é Priscila.

— Que Priscila? Não me recordo de quem possa ser.

— A moça que estava no jardim brincando com Mariana e muitas borboletas.

— Aquela criança desnutrida? Ela tem competência para tal ocupação?

— Ela não é uma criança! Tem vinte e três anos. Tem essa aparência por comer pouco, igual a um passarinho.

-- Provavelmente ela tenha alguma doença grave. Está pele e osso.

-- Não doença o mal que a aflige, creio que alguém a deixou assim. Ela carrega cicatrizes.

Isso chamou a atenção de Leonardo.

-- Mande-a falar comigo amanhã, logo após o almoço.

Rute ficou a olhar Leonardo enquanto ele estava distraído olhando o jardim através da vidraça. O seu menino cresceu, virou um homem muito bonito, mas o seu casamento fez-lhe muito mal, tornou-se frio, sem sentimentos, mas sabia que, no fundo, ele ainda era bom e não iria expulsar Priscila. Saiu do escritório fechando a porta atrás de si.

Foi conferir se a cozinha estava em ordem para poder descansar.Priscila estava terminando de guardar a louça quando Ruth retornou

-- Senhora, já terminei, posso ir para o meu quarto. -- Perguntou a moça montou baixo.

-- Não sou senhora, sou apenas Rute para você, minha menina.-- olhando Priscila nos olhos, perguntou:

-- Você gosta das crianças?

--Sim, elas são educadas e a pequena é muito carinhosa.

-- O que você acha de ter a função de babá? Seria responsável por cuidar das tarefas escolares, de ocupar os dois para não se meter em encrencas.

-- Não sei se seria capacitada para tal função.

-- Você apenas teria que ser como uma mãe para que eles não sentissem falta de uma. O amor de uma mulher muito é importante na vida dos pequenos. Apenas replique o amor que recebeu na sua infância.

Priscila ficou tensa. Não teve amor de mãe, nem de vó e muito menos de pai. Mas aí veio um sorriso no rosto e o seu coração encheu-se de amor, Irmã Dulce foi sua fonte única de amor.

-- Sim, eu aceito. Creio que possa cuidar das crianças.

Rute num rompante de contentamento, abraçou Priscila, que ficou paralisada com os braços caídos ao longo do corpo.

-- Ótima decisão! O seu salário terá um aumento substancial, mas o senhor Leonardo quer vê-la amanhã, após o almoço, no seu escritório.

As últimas palavras de Rute ainda martelavam na cabeça de Priscila e ela quase entrou em pânico, não conseguia nem se distrair com a tv. Não se sentia confortável em ficar com o patrão num escritório fechado.

Tentou se acalmar e não pensar em Nicolas e em todas as vezes que ele a agrediu. Resolveu tomar um banho demorado para espantar esses pensamentos sombrios. Tinha medo, mas seu patrão não lhe faria mau algum. Repetia para si mesma, esse pensamento, tentando fazer o seu cérebro acreditar nisso. Tentou dormir, mas o sono demorou a chegar e na manhã seguinte estava muito cansada física e emocionalmente.

Ao amanhecer, chegou pontualmente na cozinha e Rute insistiu para ela tomar um café da manhã reforçado, avisando que ela ficaria na cozinha naquele dia, ajudando com o almoço.

Priscila estava assustada e bastante ansiosa, ela que falou sempre muito bem em público, conduzia reuniões na loja enquanto gerente, agora estava com pavor de ficar com o patrão fechada num escritório.

Antes dos preparativos para o almoço ter início, Priscila lavou os sapatinhos das crianças, era o serviço que mais gostava, as vezes pensava no seu pequeno bebê que ela havia perdido por conta das agressões que ela sofria. Então vinha uma certa tristeza e se consolava a pensar que seria mais um acorrentado naquela casa. Logo em seguida sentia-se culpada por não ter protegido o seu filho. Esse sim, era o seu pesadelo, não foi uma boa mãe tinha dúvidas se poderia mesmo cuidar dessas duas crianças.

Enquanto ajudava Rute com almoço , a governanta ia lhe instruindo sobre a sua nova função.

-- Menina, as crianças são amorosas. Apenas Roberto que tomou para si a segurança da sua irmã e com isso ficou um pouco sério e reservado. -- a senhora mexeu em algumas panelas e em seguida continuou -- Roberto tem seis anos agora, quando a sua mãe faleceu ele tinha apenas 4 anos e Mariana dois. Nesses dois anos da morte da senhora Vilas Boas, essas crianças pouco tiveram carinho de mãe. Eu tento suprir essa falta, mas eu estou mais como uma avó.

Priscila ia ouvindo aquela senhora enquanto o seu coração se compadecia e enchia de tristeza pensando na dor daqueles pequenos.

Após o almoço, Priscila lavou a louça, organizou a cozinha e quando Rute a chamou para segui-la até o escritório, o seu corpo sofreu reação, as suas mãos começaram a suar e o medo do desconhecido tomou conta da moça.

Ao chegarem em frente à porta, Rute bateu e esperou.

-- Senhor, Priscila está aqui.

-- Pode entrar.-- aquela voz de trovão fez com que a moça ficasse mais temerosa.

Rute abriu a porta e logo que Priscila entrou, Rute sussurrou:

-- Tudo dará certo. -- disse Isso e saiu deixando os dois sozinhos...

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AMADINHAS...

ESPERO QUE EU ESTEJA INDO NO CAMINHO CERTO.

BJS DE LUZ.

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