Quietude

Amara Harrys

Sinto alguém me sacudir e abro os olhos lentamente, uma dor de cabeça terrível me atinge como consequência do álcool em excesso.

Kirah:

Amara, acorda. — chama.

Eu me sento devagar, olho para os lados sem entender, mas e Elian? O que aconteceu entre nós... foi um sonho? É claro... Foi tão real, minha nossa eu tive um sonho erótico com Elian.

— Terra chamando Amara. — ela acena com as mãos.

Amara:

Hum? O que aconteceu? — eu esfrego os olhos.

Kirah:

Meu irmão chegou com você nos braços gritando aos quatro ventos, então ele te colocou aqui no sofá e você dormiu a noite toda. — Explica e eu arregalo os olhos.

Amara:

A... noite toda?

Ela assentiu.

Eu suspirei e me levantei indo para meu quarto, eu ainda estava com o vestido da festa e o meu cabelo um pouco bagunçado. Entrei no quarto e tomei um longo banho de água fria, coloquei um short preto fino e uma blusa preta de manga curta, sequei o cabelo no secador e deixei-o solto. Assim que me sentei na cama senti um enjôo, provavelmente causado também pelo excesso de álcool.

Me ajoelhei de frente para o vaso e vomitei, com os braços cruzados na frente da barriga eu estava um caos e de uma coisa eu estou convicta: Nunca mais vou beber álcool. Dei uma pausa e tossi, senti meus cabelos serem segurados, olhei para cima e vi Elian, Céus, eu tinha tanta vergonha de olhar em seu rosto, primeiro porque eu fiquei bêbada na primeira festa que fomos juntos e segundo por ter tido aquele sonho.

Elian:

Nem uma palavra. — ele disse com um tom de voz severo

Sim, claro, ele tem razão em estar bravo, eu fui irresponsável duas vezes. Virei minha cabeça para o sanitário de novo e vomitei. Depois de um tempo eu me encostei na parede do banheiro ofegante, enquanto Elian deu descarga, logo ele me ajudou a levantar e a sentar na cama, não olhei em seu rosto, não consegui por estar me sentindo horrível e meu estômago se embrulha só de pensar no meu estado ontem.

Ele pegou uma cadeira no canto do quarto e se sentou de frente para mim apoiando os cotovelos nos joelhos, dessa vez o cabelo dele estava totalmente preso em um coque. Ele me olhava de forma profunda eu sentia isso, coloquei as mãos cobrindo o rosto e me senti idiota por esperar algo de bom vindo dele, mesmo que não me dissesse nada, eu sabia que estava me julgando por dentro.

Elian:

O que são as cicatrizes nos seus braços e no pescoço? — ele perguntou com sua voz grave e rouca.

Sem olha-lo eu respondi a verdade engolindo em seco antes.

Amara:

São... São as vezes em que fui punida por... Contraria-las. — senti lágrimas molharem minhas bochechas enquanto abaixei o rosto cruzando os braços em volta da barriga.

Elian:

O hematoma fraco na testa? — continuou.

Amara:

Quando enfiaram minha cabeça dentro de um sanitário nos fundos da casa... — falei baixo, mas audível.

Notei suas mãos fecharem com força e de repente ele pegou meu queixo me fazendo olhar para ele.

Elian:

Elas não vão encostar um dedo sequer em você, nunca mais.

Eu desviei o olhar.

Amara:

Por que se importa?

Elian:

Por que me importo? Eu sou seu marido, devo me importar com tudo a seu respeito.

Amara:

Nem era para eu estar aqui... — eu disse cerrando os dentes.

Tentei baixar o olhar e ele levantou meu rosto pelo queixo de novo.

Elian:

É exatamente para você estar aqui. — eu o olhei nos olhos.

Tudo nele ainda me causa dúvidas, bem, nos conhecemos a pouco tempo, mas eu sinto que é muito além disso. Ele não tem obrigação de cuidar de mim, ninguém desta casa tem, eu nunca fora cuidada verdadeiramente por alguém, então por que? Por que ele se importa?

Sinto que a resposta não pode ser alcançada agora, o vi sair do meu quarto sem dizer mais uma palavra e então desabei, chorei porque ele se importava e chorei porque eu não me importo, ele não sabe nem da metade das cicatrizes, não sabe da metade do que passei e então por que me culpo tanto por esconder? Por que quero que nossa relação seja além do contrato sendo que mal o conheço, eu não sei como é o coração desse homem, não sei qual o propósito disso tudo.

Mas o principal, por que ele precisa se importar com tudo a meu respeito? Eu tenho tantas dúvidas que minha dor de cabeça piora. Eu me jogo para trás encarando o teto, esperando as lágrimas cessarem e fungo passando a mão nos olhos e respiro fundo.

Saio do quarto e vou na cozinha, como um pouco e depois vou para a piscina, mas não entro só coloco minhas pernas na água e fico balançando distraída. Deixando de lado as turbulências de ultimamente, hoje está quente então prendi meu cabelo com um coque como de costume e continuei com os pés na água.

Vejo Kirah se aproximar com uma toalha sobre o ombro e com um biquíni vermelho lindo, ela estende a toalha na espreguiçadeira e me levanto indo até ela.

Amara:

Vai nadar um pouco? — me sentei na espreguiçadeira ao lado.

Kirah:

Ah, sim está muito quente hoje. — ela solta os cabelos.

— Você pode me ajudar com o protetor?

Eu assenti e ela se sentou, peguei o protetor e passei nas costas dela, o resto ela fez. Logo Kirah deu um pulo na piscina que espirrou água para todo canto e eu ri me sentando na beirada novamente, a gente conversou bastante.

Amara:

Sinceramente?

Kirah:

Sim.

Amara:

Ahn... vamos ver... talvez eu tenha uma ou duas tatuagens bem escondidas. — eu ri e ela apoiou os braços na beirada me olhando chocada.

Kirah:

Sério?! Onde?!!

Amara:

Segredo. — ela fez careta e eu olhei para o céu.

Estava entardecendo e estávamos ali há um bom tempo. Eu e Kirah entramos na casa rindo, ela me disse que teve um namorado que queria fazer uma tatuagem do rosto dela em um lugar duvidoso e ela ficou muito brava, eu estava gostando da ideia de tê-la como amiga. Então subimos para o quarto dela e enquanto ela tomava banho eu estava falando sobre algumas coisas e acabei soltando um comentário sobre o sonho com Elian.

Kirah:

O que?!! Minha nossa, uma virgem teve um sonho erótico. — ela ri.

Sim, ela sabe que meu relacionamento com Elian não passa de um contrato e por isso posso falar a verdade, o fato de eu ser virgem é engraçado pra ela que já teve muitos namorados.... e isso me deixa um pouco constrangida.

— Me conta com quem foi! — gritou lá do banheiro.

E eu como não sou tão burra de gritar isso aos quatro ventos fiquei na porta do banheiro para dizer.

Amara:

Elian. — eu disse e ela desligou o chuveiro logo saindo de toalha e me olhou com um grande sorriso.

Kirah:

Você tá apaixonada, aí meu Deus!! — ela pega minha mão empolgada.

A gente se senta na cama.

Amara:

É loucura, não posso e nem quero me apaixonar por ele.

Kirah:

Amiga por favor, né?! Você sonhou com ele te tocando, queira ou não já aconteceu.

Eu suspirei, ela tinha razão eu querendo ou não já era tarde demais, eu já me apaixonei pelo meu... marido de mentira.

— Eu vou te ajudar, quero ver aquele paspalho com ciúmes de você ainda essa semana!

Eu ri da forma que ela o chamou...

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