Capítulo 18

Tudo era tão verdadeiro, lindo e aconchegante. Me lembrava a minha casa, o som das gargalhadas e conversas agitadas. Rezei para que todos estivessem bem.

No caminho de volta algumas pessoas paravam o supremo para o cumprimentar e para nos felicitar por termos achado a outra metade da nossa alma, apenas agradecíamos e nos retiravamos para não prolongar mais as coisas.

...

Quando chegamos dois guardas vieram ter com Mikael dizendo ser importante e ele teria que se retirar.

Ele se virou pra mim e me deu um beijo que por Deus, senti que poderia cair a qualquer momento enquanto borboletas dançavam no meu estômago.

- Volto assim que possível. - ele falou segurando meu rosto com as duas mãos.

- Está bem - respondi - Você poderia ser mais discreto, sábias? - perguntei divertida observando os dois soldados que tentavam a todo custo não olhar na nossa direção.

Ele seguiu o meu olhar, e negou com a cabeça sorrindo.

- Eu não quero ser nem um pouco discreto - ele comentou divertido, e me deu um breve selinho - volto logo! - assenti com a cabeça o vendo se afastar de mim.

Quando Mikael desapareceu da minha vista, fui caminhando para o castelo. Mas um cheiro conhecido me fez caminhar até os enormes jardins, a figura de um homem surgiu sentado em um dos bancos brancos. Me aproximei e sentei do seu lado em silêncio.

Nenhum de nós ousou falar algo, me pergunto se há algo que deva ser dito, talvez eu devesse deixar quieto e esperar as coisas se resolverem. Não, não ía aguentar viver com essa inquietação e além do mais já está na hora dele entender as coisas.

- Se você acha que se afastar dela é a melhor coisa a se fazer, você está errado - comentei observando a lua surgir no céu.

Ele apenas ficou em silêncio, não ousou dizer nada, nem se mover, se você o visse assim tão quieto até achariam que ele está morto. Mas também não é como se não estivesse quase morto né.

- As vezes somos tão orgulhosos, que deixamos de dar um passo para sermos felizes por algo menor que a felicidade - comentei reflexiva.

- A vida e a segurança dela são mais importantes que qualquer coisa - Steve comentou.

- aí está o seu erro, tentar proteger ela de você, - felei o olhando reemprensiva - Você acha que pode proteger ela a mantendo afastada de você,mas e se ela não quiser que você a proteja? Você se considera um monstro mas esquece que ela também é - falhei - Você se envolve com outras pra evitar se descontrolar quando estiver perto dela, você deseja ela, deseja o sangue dela mas estás se afastando porque tens medo de deixar o seu lado sádico despertar com ela, fico realmente feliz por saber o quanto amas a minha irmã, mas você apenas está machucando ainda mais vocês os dois, se você não resolver isso logo, vais acabar perdendo ela e a loba dela se sentirá rejeitada, e você sabe o que acontece quando o nosso lobo se sente rejeitado, vocês dois podem acabar morrendo - falei olhando em seus olhos.

- Eu só quero que ela fique a salvo, que ela entenda o quão perigoso eu sou pra ela - ele comentou, seu rosto estava impassível. Mas seus olhos estavam devastados e me senti estranhamente triste também.

- Ela entende melhor do que ninguém, afinal ela é minha irmã - respondi e logo continuei quando ganhei sua atenção - Quando eu era mais nova era muito difícil controlar a sede de sangue tanto que acabei matando muita gente sem querer, tanto que quase matei Kessy uma vez. - confessei e ele me olhou abismado.

Você...quase a matou? - ele perguntou perplexo e eu assenti, a minha cara de boa moça realmente faz um óptimo trabalho.

- Eh, Quando eu tinha 16 anos depois de uma missão que fiquei muito tempo fora, encontrei Kessy no lago gelado que fica perto da alcateia, ela estava brincando no gelo quando caiu e raspou o joelho acidentalmente, eu corri até ela para lhe ajudar, mas, quando eu vi o sangue me descontrolei e a mordi. - respirei fundo, detesto lembrar essa memória - Não liguei pra os seus gritos ou as lágrimas que caíam do seu rosto, eu estava quase sugando todo o sangue dela quando Lex e meu pai chegaram e me afastaram dela.

Steve ouvia tudo em silêncio e ouso dizer que ele não piscava, nem respirava de tão focado.

- Tiveram que me deixar inconsciente por uma semana até eu voltar ao normal, quando realmente voltei a consciência achei que minha irmã estava morta e que eu tinha a matado, me culpei ainda mais porque ela ainda era uma criança, eu pensei céus eu matei a minha irmã de 6anos e chorei horrores, e quando descobri que ela estava bem. Fiz de tudo pra me afastar dela e proteger, mas aquilo só acabou nos afetando mais. Achei que ela me odiaria e que fugiria de mim - comentei sorrindo com a lembrança - . Mas Kessy apenas veio até mim e disse: Tudo bem, eu te entendo, afinal nós duas temos o mesmo monstro - dei uma pausa e olhei pra Steve tendo a certeza que ele realmente estava prestando atenção continuei - Eu fiquei impressionada como uma criança de 7 anos tinha mais maturidade do que eu, o que eu quero que entendas é que Kessiane não é fraca, muito menos idiota. Ela entende tudo pelo qual estás passando porquê nós duas também passamos por isso, matamos pessoas inocentes e isso nos marca até hoje, e se ela escolheu você independentemente das suas fraquezas é porque ela também tem as suas e quer que vocês se construam juntos, que juntem os cacos partidos juntos. Você matou pessoas inocentes? Sim, e ela também, mas não podemos deixar o passado se envolver no nosso presente, na nossa felicidade - comentei simplista.

- O que você comeu hoje? Por acaso comeu o fruto da sabedoria ou quê? - Starlin comentou perplexa.

- Nem eu sei, talvez eu apenas seja inteligente demais - respondi convencida.

- Que sabe nada, é aquele beijo gostoso que fez você ficar assim, isso sim - Saphira respondeu maliciosa.

- Talvez ela precise mais que simples beijos - Starlin falou provocativa.

- Sanguessuga se o beijo dele é assim, imagina o que ele pode fazer conosco naquela cama? - Saphira falou pensativa.

- Céus bola de pelos, ele deve ser bem selvagem, deve fazer bem gostoso. - a vampira comentou.

- Pelo amor dos deuses querem parar de comer o nosso companheiro mentalmente? - perguntei e ouvi o siso delas na minha mente.

Eh, infelizmente esse é o dia a dia da minha mente, minha loba e minha vampira fofocando da minha pessoa como se eu nem existisse.

Eu mereço.

Me levantei ajeitando o meu vestido quando começou a esfriar demais.

- Você nunca vai saber se consegue, se nem ao menos tentar direito - falei - Não fuja de tudo que não consegue fazer, tente.

- Obrigada - ele sussurrou fixando seus olhos azuis em mim.

- Ao dispor, ham, uma coisinha, se eu ver você fazendo ela sofrer de novo por sua culpa eu com certeza mato você! - falei com a voz fria olhando seriamente em seus olhos.

- Não acontecerá - ele respondeu simples.

- Espero que sim, não quero deixar Mikael com um bheta a menos. - falei me afastando - Até mais Conde. - me despedi caminhando para o castelo.

Deixei o clima gelado de fora e suspirei quando o ar quente aconchegante de casa me acolheu.

Casa.

Inconsciente já estava considerando este lugar a minha casa, de certo ela será, assim que firmar minha união com Mikael serei oficialmente a luna suprema e aqui será a minha casa. É tão estranho, até três meses atrás eu não pensava nem em encontrar o meu companheiro, mas agora já estava pensando em me tornar a sua luna.

Que reviravolta.

Esperava encontrar o som das conversas de Aurora e Analise e as gargalhadas de Diogo e Cassandra, ou a voz de Alexander, mas estranhamente estava tudo tão calmo. Apenas ouvia se o silêncio, será que aconteceu algo?

Só o pensamento de algo acontecer me deixou em alerta, procurei o cheiro de Lya e o encontrei no primeiro andar. Subi as escadas correndo sem me importar muito com o pequeno salto preto que estava nos meus pés.

Segui pelos corredores até parar em uma porta castanha, pude sentir o cheiro de canela e rosas de Kessiane e isso me acalmou minimamente. Bati delicadamente na porta até ouvir um entre abafado do outro lado.

Girei a maçaneta e adentrei ao luxuoso cómodo, as luzes estavam apagadas mas pude ver claramente a silhueta de Kessiane sentada em um sofá na sacada do quarto. A luz pálida da lua iluminava seu rosto impassível enquanto olhava para a lua, seus cabelos vermelhos estavam desarrumados, seu rosto e olhos estavam inchados e avermelhados, vestia um conjunto de pijama de moletons, a calça preta e a camisa longa também preta, seus pés estavam descalços. Pude ver Lya dormindo serenamente em sua cama e Lycanos dormindo no sofá do quarto.

- Algo urgente aconteceu numa alcateia vizinha, Cass e os outros foram ver o que se passava - minha irmã falou, sua voz estava arrastada e me doeu ver ela assim, mas aquilo não poderia continuar assim pra sempre - Ela brincou o dia todo e ficou exausta, el..ela queria esperar por você,mas...o sono venceu ela - ela falou olhando pra Lya dormindo serenamente no meio das cobertas.

Me aproximei dela e sentei ao seu lado observando suas expressões, seu rosto estava cansado, abatido, triste e deprimente.

Nunca achei que voltaria a ver ela assim.

- Entendo... - respondi e voltei a olhar ela séria - Até quando vais continuar assim? - perguntei.

Ela me olhou cansada e desviou o olhar.

- Angel...eu.. - ela tentou falar, mas logo as lágrimas rolaram por seu rosto. O cheiro salgado fez meu nariz arder.

- Você precisa se recompor Kessiane - falei e logo continuei - Eu sei que você está triste, está chateada, nosso pai morreu, eu fui sequestrada entre muitas coisas que aconteceram e você só queria que ele ficasse ao seu lado, mas já chega, nem tudo é como nós esperamos meu amor - falei limpando as suas lágrimas.

- Eu me sinto tão patética, tão inútil Angel...- ela falou soluçando.

- Você não é, você é uma guerreira - falei - E guerreiros não choram, uma batalha nunca é ganha quando se sente inseguro ou com medo de algo, por isso levante a cabeça, limpe as lágrimas e seja uma boa atriz. - falei levantando seu rosto com as mãos.

- Você tem razão.. desculpe. - ela falou limpando as lágrimas.

- Eu sempre tenho razão bobinha, agora vem aqui - a puxei pelo braço e a abracei forte - Eu te amo.

- Eu também te amo, meu anjo - sorri, quando ela me chamou pelo meu apelido de infância.

Nenhuma de nós ousou dizer nada. Apenas ficamos ali abraçadas até de madrugada apenas apreciando a presença uma da outra. Decidimos dormir juntas como sempre fazíamos.

Apenas nós três e Lycanos.

Afinal, as feridas da alma são curadas com atenção, carinho e paz.

***

- Σε αγαπώ, αιώνια ευτυχία μου - eu a amo, minha eterna felicidade.

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