Correntes da alma

Presa ao seu mundo de dor não percebeu quando seu beta foi nocauteado e quando uma seringa com sonífero foi injetado no seu pescoço.

Ela sentiu seu corpo pesado e caiu em cima do corpo do seu pai.

E ela prometeu pelos céus e por todas as divindades existentes que ela mataria toda e qualquer criatura que esteve ligada directa ou indirectamente na morte de Miguel Black.

Ela faria o inferno arder.

Congelaria seus ossos.

Os devoraria.

E faria o céu sangrar.

Porque ela é um anjo...

Um anjo da morte.

E a morte caçaria cada alma e cada suspiro dos monstros em pele de homens.

...Angeline Black...

- Não tentarei te manter longe, será impossível a disposição. Afinal, estamos presos um ao outro. - Angeline Black.

Quando acordei está manhã, não imaginei que as coisas terminariam assim, de facto é impressionante como as coisas pioram de um momento pra o outro.

Seria vaidade dizer que estou chateada, na realidade estou com uma absurda vontade de arrancar a cabeça de um certo híbrido.

Está manhã, quando Rosa uma senhora dócil de olhar ameno que descobri ser a governanta do castelo avisou me que Kessy não apareceria para o pequeno almoço achei estranho, porque Kessiane Black odeia perder a primeira refeição do dia e evita a todo custo perde-la. É incrível como aquela garota come tanto e não engorda, é simplesmente impressionante.

Mas de certo que este não é o cerne da questão.

Momentos mais tardes estávamos todos na luxuosa sala de estar reunidos quando minha irmã chegou abalada, e o motivo de suas lágrimas estava bem ao seu lado. Seu companheiro.

Não foi preciso uma avaliação mais precisa no bheta do meu companheiro para saber o que realmente aconteceu, o fedor de sexo e sangue de uma fêmea já dizia por si só. Talvez eu entenda porque ele fez aquilo. Não digo que trair a sua mulher com outra e ela presenciar a cena é algo bom, longe disso, mas apenas que talvez entenda do que Steve quer poupar a minha irmã, ele pode até ser um mulherengo filha da puta mas ainda assim é só olhar em seus olhos pra saber que ele ama Kessy de verdade, e por ama-la que ele tenta se afastar, porque ele tem medo do monstro. Do monstro que ele é.

E como eu sei isso? Bem nada que uma boa equipe de investigação não poderia descobrir. Quer dizer eu investiguei todos do círculo íntimo do supremo e isso incluí também o meu querido cunhado, ou seja eu sei alguns dos seus segredos. Não me julguem, eu precisava saber quem era o cara lá no alto que mandava e desmandava na minha alcateia e saber se realmente é alguém que merecia o meu respeito.

O que Steve Kane precisa entender é que todos nós somos monstros e que Kessiane Black é uma bem pior que ele.

....

- Mamãe posso ir blincar no jardim com Lycanos? - Lya perguntou assim que Steve subiu as escadas seguindo a companheira.

- Claro meu amor, só tenha cuidado pra não te machucares - ela assentiu quando a coloquei no chão. Lya se virou e saiu correndo pelos corredores sendo seguida por Lycanos.

Não demorou muito para os gritos da discussão de Kessy e Steve reverberassem pelos quatro cantos. A voz de Kessy saia abafada e entrecortada, provavelmente estava chorando de novo.

- Ela vai ficar bem!

Suspirei, aquilo não ia ficar nada bem, ela está muito machucada eu vi isso quando olhei pra os seus olhos, são coisas demais acontecendo, problemas demais. Eu só espero que ela fique bem.

Ela vai...

Me sobressaltei quando ouvi sua voz em minha mente, olhei para Mikael me encarando seus olhos cinzas quase pretos amenos. Nunca ninguém entrou na minha mente, me pergunto como ele consegui.

Será por ele ser o supremo?

Ou por ser meu companheiro?

- Não sei, me diga você Angeline..- sua voz soou novamente na minha mente me dando a confirmação que ele estava sim me escutando.

- Não leia meus pensamentos Supremo!.

- Meio difícil fazer isso quando eles estão gritando - ele comentou sarcástico e com um sorriso divertido no canto dos lábios rosados.

De certo Mikael é enigmático, por muito tempo procurei saber como o supremo é, ou se ele merecia o meu respeito e estando em frente dele apenas poderia afirmar que eu lhe daria a minha vida se fosse preciso porque há algo nele que me move a confiar nele, a depender dele como se fosse o ar que eu preciso para respirar.

Talvez eu esteja ficando louca ou pensando besteiras mas ele atrai a minha alma, meu corpo e meu coração, sinto que pertenço a ele e ele a mim.

Ele é a calma antes da tempestade enquanto eu sou a tempestade, ele é a paz enquanto eu sou a guerra, ele dá vida enquanto eu a tiro, somos monstros, somos predadores, somos alfas, uma combinação tão insana mas que parece tão perfeita.

E eu me deixaria levar por ele como a brisa leva a folha, a guiando ao seu próprio ritmo, sem pressa, apenas duas almas presas uma na outra.

- Venha - ele pediu estendendo sua mão pra mim.

Apenas me dei conta que fiquei muito tempo o incarnado quando notei que estávamos sós e que os gritos tinham parado.

Me senti tentada a subir e ver como Kessy estava, mas me senti ainda mais tentada a aceitar sua mão, e foi o que eu fiz.

Sua mão é tão grande em comparação com a minha e tão mais quente, é macia e reconfortante. Seu cheiro agridoce me fez relaxar e me senti em paz, me sentia acolhida perto dele, me sentia em casa. Mikael é a minha casa.

Ele me guiou em silêncio pelo jardim do seu castelo ainda de mãos dadas e logo me dei conta que estávamos saindo da propriedade do castelo quando passamos os enormes portões de ferro.

Os guardas nos cumprimentaram com uma leve reverência e nós apenas demos um leve aceno de cabeça.

- Onde estamos indo? - perguntei enquanto caminhamos pela pequena trilha cercada por árvores.

Mikael olhou de soslaio pra mim e continuou me guiando enquanto respondia.

- Para uma visita guiada pela alcateia - ele respondeu - Acho que estavas entediada dentro daquela masmorra - ele falou enquanto sorria, me dando a visão de seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.

Não me contive e soltei uma risada.

- Masmorra? - ele confirmou e sorri ainda mais - Então é assim que você descreve o seu castelo supremo? - perguntei divertida.

Mikael também sorriu, um singelo levantar de cantos porém sincero.

- Não me julgue, mas ficaria surpreendida se descobrisse os diversos matérias de tortura que Analise e Cassandra plantaram naquele lugar - ele se defendeu enquanto me guiava por uma estrada de paralelepípedos azuis escuros e pretos.

- Devo me preocupar com isso supremo? - perguntei tranquila.

- Me diga você, está preucupada? - ele rebateu e eu sorri.

- Nem um pouco - respondi olhando em seus olhos tão escuros como a noite sem estrelas.

Uma imensidão de preto, tão profundo, encantador e cheio de mistérios. De certo eram os olhos mais lindos que já havia visto, já havia vislumbrado olhos de diversas cores mas as de Mikael eram de longe as mais bonitas e atraentes.

- Chegamos! - Meu companheiro avisou assim que as diversas casas rústicas e modernas apareceram no nosso campo de visão, era simplesmente lindo.

Confesso que estou curiosa pra saber como é a alcateia Moon beast, nunca estive aqui e as pessoas sempre diziam que era linda e quero ver isso com os meus próprios olhos.

Puxei a mão de Mikael para que pudéssemos ir mais rápido, estava animada em saber como sua alcateia era, como eram os lobos, como o tratavam, o respeitavam?.. não sei mas irei descobrir.

O supremo apenas apressou o passo, estávamos quase correndo mas isso não nos importava verdadeiramente, não quando estávamos juntos.

Ofeguei quando adentramos as ruas coloridas e organizadas da alcateia.

- É linda - soltei sem pensar observando as várias casas dispostas enfileiradas umas às outras. As cores azul escuro, verde, e brancas eram as cores temáticas daquele lugar, dando um ar mais vivo, as ruas estavam cobertas por flores, e pequenos jardins enfrente as casas. Havia também alguns prédios de 5 andares de cores escuras e hipnotizante, era simplesmente lindo.

As ruas estavam movimentadas, pessoas indo para o trabalho, algumas conversando, brincando e algumas estavam em pequenas lojas de jóias, roupas, comidas chamando a clientela animadamente.

A medida que caminhavamos as pessoas também começaram a prestar mais atenção em nós, nos mandando olhares nada discretos que caiam especificamente nas nossas mãos unidas. Algumas sorriam pra nós e eu sorria pra elas igualmente.

Várias crianças estavam correndo para uma roda de pessoas onde estava soando uma música agradável e aquilo foi o suficiente para atiçar a minha curiosidade. Puxei Mikael pela mão e comecei a abrir caminho dentre as pessoas, quer dizer elas começaram a abrir assim que virão o meu companheiro, quando cheguei em frente pude ver dois jovens cantando. Um rapaz de aproximadamente 20 anos segurava um violão enquanto o outro mais novo tocava uma flauta e bem no meio uma jovem mulher creio que de 15 a 16 anos dançava ao ritmo da música.

Ela é linda, seus cabelos escuros balançavam a medida que dançava, seus olhos azuis eram tão cintilantes e profundos que me fizeram lembrar os olhos da minha pequena. Nos seus lábios um grande sorriso estava formado, seus passos eram calculados, singelos, tão perfeita que parecia uma deusa. Parecia até que ela se tornava a própria música, como se cada nota a pertencesse a formasse.

Seus olhos azuis encontraram os meus e foi como se perder num oceano, tão cheios de dor, tristeza, mas também cheios de amor, carinho e determinação. Tão vividos como a natureza, ela é uma guerreira.

Quando a música acabou a ilustre dançarina deu uma singela reverência para o público e uma para mim e o supremo o que ocasionou vários olhares de curiosos, fiz o mesmo cumprimento pra ela e bati palmas, ela ficou um pouco surpresa depois sorriu.

- Obrigada a todos! - a bela jovem falou e todos bateram palmas.

Todos já estavam se dispersando mas eu ainda continuava ali observando os seus movimentos, Há algo nela que me chama atenção, apenas não sei o que é. Puxei Mikael que permanecia em silêncio apenas me observando e segui por entre as pessoas e encontrei a jovem que dançou e os músicos sentados em um banco de jardim conversando animadamente.

- Oi - falei assim que nós aproximamos e chamei sua atenção, eles rapidamente se viraram pra mim e seus olhos foram até ao homem atrás de mim, eles se levantaram e fizeram uma reverência mais que perfeita.

- Supremo, Suprema! - falaram em uníssono, pelos vistos as novidades correm rápido.

- Qual é o problema desse povo com mesuras? - Starlin comentou impaciente.

- Também gostaria de saber - Saphira respondeu despreocupada.

Apenas as ignorei porque se eu as prestasse atenção agora provavelmente irei acabar com a pouca paciência que tenho.

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