Décimo oitavo

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Alguns anos atrás…

No vilarejo de Linkan, dominado pela raça das bruxas, Morgana, uma das bruxas mais novas porém mais astuta dali, aprendeu um feitiço que seria muito importante para o futuro de Zerkir e das raças rejeitadas. Mas para isso, ela precisaria de uma força que ela ainda não tinha. Mas que em breve, iria alcançar.

— Que feitiço é este Morgana? — perguntou Salya, enquanto ajudava Morgana a escrever as runas mágicas para aquele feitiço, elas estavam sentadas em bancos de pedra enquanto preparam o altar.

— É um feitiço de selamento, mas eu ainda não tenho poder o bastante para evocá-lo. — explicou Morgana.

— O filho do imperador logo vai ascender ao trono, eu ouvi rumores de que ele iria tramar um golpe bem no dia de seu casamento — Salya olhava atentamente a cada expressão de Morgana.

— Ele vai tomar uma demônio como esposa — Morgana estava séria, Salya sabia o que aquele olhar intenso significava.

— Não pense nisso, sem chances dele tomar a mim, eu sou apenas uma serva e… sou fraca — Salya abaixou a cabeça por um instante — me deixe terminar de ler estas runas, eu preciso aprender alguma coisa, não podemos desperdiçar tempo.

Salya passou mais algumas horas estudando feitiços junto com Morgana, era a única maneira dela conseguir aprender pois o imperador havia proibido, ele não podia permitir que os servos conquistassem poder o suficiente para derrubá-lo. Essa restrição foi dada após um grupo de demônios se rebelarem contra o rei e tentarem atacar o castelo, liderados por uma demônio, que agora se encontrava presa no purgatório, esperando pela decisão final.

Caminhando cuidadosamente de volta para o castelo, com seus cabelos presos em uma longa trança e uma capa preta tampando sua cabeça, Salya passou por perto dos guardas do imperador e pôde ouvir eles cochichando.

"Vamos matar aquela maldita, quem ela pensa que é?"

" É isso mesmo, ninguém vai sentir falta daquela vadia, ela queria tanto revolucionar o mundo dos demônios e agora está no purgatório!"

"Vamos matá-la no dia do casamento, como presente para o senhor."

— Aquela menina… não bastasse terem cortado os seus chifres, agora querem matá-la de vez, mas o que posso fazer? — pensou Salya, quando escondida passou para dentro da cozinha do castelo.

Era bem comum ela sair às escondidas, era bem sorrateira e cuidadosa, e sua magia negra a ajudava a camuflar sua presença. Ela tinha uma grande quantidade de poder mágico, mas que era inexplorado pelo medo. Ela mesma não sabia de seu potencial.

Noland, o primeiro imperador dos demônios, tomou a mãe de Salya ainda grávida como dele, a tornando sua serva pessoal. Diariamente ela realizava tarefas domésticas e se tornou sua "amante", pois mesmo grávida ele a usava para satisfazer os seus desejos.

No dia do nascimento de Salya ela tentou fugir, para que sua filha crescesse longe dos domínios daquele maluco insano. Dois demônios de confiança de Noland foram mandados para buscá-la, ela tentou lutar e usou todo o poder que lhe restava pois tinha acabado de dar à luz, estando naquele momento ainda mais fraca que o normal. Sem sucesso na batalha, ela foi espancada por aqueles dois, Porthus e Ralf, que as levaram de volta para o castelo.

Salya foi entregue ao imperador e sua mãe foi executada em praça pública.

— Senhorita Salya… — aquele sussurro gelou até a alma da pobre demônio, que retirou o capuz de sua cabeça e fez uma reverência ao jovem Lucian — esteve passeando?

— Senhor, eu fui apenas tomar um pouco de ar fresco — ela permaneceu com a cabeça abaixada e em posição de reverência, até a presença de Lucian era amedrontadora.

— Não faz assim.

Ele se aproximou de Salya, lentamente. E então segurou no queixo dela e ergueu seu rosto, conectando o olhar dela ao dele, respirando profundamente e admirando cada traço do belo da demônio.

Salya mordeu o lábio inferior a fim de conter o tremor que nele havia, cada vez mais fundo ele olhava nos olhos dela, causando um misto de medo e ansiedade.

— O senhor irá me punir? — Mesmo que estivesse ansiosa pela resposta, ela permaneceu firme sem desviar os olhos um segundo sequer, fazendo Lucian sorrir.

— Eu te quero como minha esposa, Salya — disse Lucian com certeza.

Ele segurou no rosto de Salya e levou a mão esquerda até as costas nuas dela, sentindo sua pele quente, quase febril, puxando o corpo de Salya e o colando no seu.

— Senhor, nós crescemos juntos, isso seria um tanto inapropriado, somos como irmãos — ela tentou, com sua voz trêmula e fraca, seus olhos já estavam marejados mas ela precisava segurar tudo que estava sentindo.

— Isso não me importa, eu sempre quis você e te respeitei todo este tempo, agora… você será minha. De um jeito ou de outro — eram as palavras mais absurdas que ela tinha ouvido dele, durante todo este tempo ele tinha sido amoroso e amigável com ela, mas ela não queria se casar desta forma, a cada dia que passava ele se tornava algo que ela abominava.

— O imperador não vai se alegrar com isso, eu sou apenas tua serva senhor! — ela suplicou novamente, sua pele esquentando e tremendo cada vez mais debaixo das mãos de Lucian — Deveria se casar com uma demônio importante…

— Fique tranquila… — ele aproximou os lábios na orelha dela e sussurrou: — No dia do nosso casamento te farei a minha imperatriz.

Ele selou os lábios dela com um beijo, de fúria e paixão. Estava completamente obcecado por ela, pela beleza daqueles cabelos prateados que além dele, só ela tinha, naqueles olhos que mesmo negros ele ainda conseguia achar luz.

Aquela foi a única vez que ela correspondeu ao toque dele, se entregando ao beijo. Algumas lágrimas escorreram por seu rosto, ela sabia que ele estava totalmente corrompido e não teria mais salvação. Ela o tinha perdido.

Cinco dias depois, o tão aguardado dia do casamento chegou, Salya acordou mais cedo que qualquer um no castelo e se dirigiu até o quarto do imperador, era a última oportunidade dela, de acabar com aquela loucura de Lucian, ou melhor, de não a envolver na loucura dele.

Ela bateu na porta do imperador e aguardou, nenhuma resposta. Ela bateu de novo, aguardou alguns minutos e nada novamente. Pacientemente ela esperou, mas a aflição e o medo de alguém acordar e vê-la ali ficou maior, então ela decidiu bater na porta e entrar em seguida. Assim o fez, e deu de cara com Noland estirado no grande tapete carmesim.

— Senhor… — ela sussurrou, não podia chamar atenção. Se aproximou do corpo de Noland e foi então que notou, havia manchas negras por todo o corpo dele, algo que ela leu em algum dos livros de Morgana, ele tinha sido amaldiçoado, o que custou a sua vida.

Salya usou sua magia para camuflar a sua presença e saiu dali, voltou para o seu quarto e deitou como se nada tivesse acontecido, como se ela não soubesse de nada, definitivamente ela não levaria a culpa pela morte daquele maldito.

Mas de uma coisa ela estava certa, Lucian matou o pai e seria o próximo imperador. E agora, sem sombra de dúvidas ela seria forçada a se casar com ele.

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