Cap. 7 - Primeiro dia de trabalho

Quando Sofia desceu do carro no estacionamento da distribuidora de tecidos, nao conseguia parar de analisar Heitor tentando descobrir se ele realmente estava chorando.

_ Vamos entrar, chegamos em cima hora. Chamou Bruna antes que Sofia pudesse descobrir que sim, Heitor estava chorando.

_ Bruna, você percebeu se o Heitor estava chorando? Perguntou Sofia quando se afastaram do carro.

_ Chorando? Ela riu da pergunta de Sofia. Por que ele estaria chorando?

_ Vi o Heitor secar o rosto, e os seus olhos pareciam vermelhos.

_Pode ser apenas um cisco que caiu nos olhos dele fazendo ele lacrimejar já que estava dirigindo com a janela aberta.

_ É, pode ser... Concordou, mas Sofia sabia o que tinha visto.

Heitor tentava conter a emoção que sentiu ao escutar Sofia falar da mãe.

_ Ela conhece o trabalho da minha mãe... Falou tentando não chorar outra vez, esforçando para lembrar apenas de momentos bons que passou ao lado dela. Marie sempre foi uma excelente mãe e fazia tudo o que pudesse para ver o filho bem e feliz. O seu único erro foi ter se casado com Marcus, que a principio parecia um homem encantador, romântico e carinhoso, mas que após o casamento se revelou um cara frio, violento e possessivo, chegando a agredi-la diversas vezes sem se importar com a presença de Heitor que fazia de tudo para defender a mãe, mesmo também sofrendo as consequências. Heitor não conseguia entender porque a mãe nunca conseguiu se separar de Marcus e denunciá-lo a polícia, após as agressões ela sempre prometia ao filho que se separaria, mas permaneceu ao lado de Marcus até a sua morte.

A visita a distribuidora de tecidos durou mais tempo do que Heitor imaginava. Quando se aproximava da hora do almoço, Sofia e Bruna voltaram trazendo algumas amostras de tecido, e Heitor prontamente abriu o porta malas para guardarem os tecidos.

_ Dessa vez eles acertaram, esses tecidos são perfeitos. Elogiou Sofia.

_ Tenho certeza que a nova coleção vai conseguir superar o sucesso das anteriores, mostrando para todos o quanto você é talentosa.

_ Tomara, estou cansada de ter que provar que eu sou capaz só porque sou jovem. Falou olhando para Heitor vendo que ele parecia normal._ Heitor, antes de voltarmos para a empresa, preciso passar em um joalheiro que tem uma loja no centro especializada em concertos de joias, tem dias que estou tentando deixar uma peça para consertar e não consigo.

_ Está bem senhorita.

_ Por favor, chame de Sofia.

_ Está bem, tentarei me acostumar a chama-la pelo nome.

Quando chegaram ao joalheiro, Bruna e Heitor ficaram no carro enquanto Sofia entrou na loja para deixar o relicário para limpeza e conserto do fecho que estava com defeito.

_ Heitor, gostando do seu primeiro dia de trabalho? Perguntou Bruna enquanto aguardavam a volta de Sofia.

_ Sim, é mais calmo do que a rotina de trabalho como motorista de aplicativo, tive bastante tempo livre enquanto aguardava vocês. Estou pensando em fazer algum curso online nesse tempo.

_Boa ideia, tem tantos cursos bons, gratuitos e com preços acessíveis na internet. Mas não é sempre que terá tanto tempo livre como hoje. Quando estamos muito apertados, principalmente na fase em que a Sofia está definindo os materiais que serão usados nas próximas coleções, vamos a vários fornecedores, a fabrica onde as costureiras confeccionam as peças, a algumas lojas, mas o dia que eu  mais gosto, e quando vamos o estúdio de fotografia da minha namorada fazer as fotos para os catálogos de divulgação.  Ah, como eu amo aquela mulher. Falou suspirando.

_ Estou percebendo.

_ Amo... mas eu tenho uma boa noticia para você. Falei com a Sofia, e se tudo der certe no período de experiência, quando estivermos na empresa voce pode trabalhar no setor administrativo, vamos precisar apenas alterar o seu contrato de trabalho.

_ Obrigado Bruna, você é um anjo. Agradeceu feliz pela oportunidade.

_ Sou nada. Falou vendo Sofia voltar da loja de joias. _ Oh, Sofia já está voltando.

_ Pessoal, já conseguimos uma vaga para estacionar, que tal almoçamos por aqui, tem um restaurante de menu executivo muito bom que fica no outro quarteirão, podemos almoçar lá.

_Você está falando daquele restaurante que tem petit gateau de sobremesa? Perguntou Bruna empolgada.

_ Esse mesmo.

_ O que estamos esperando, estou morrendo de fome. Disse saindo do carro enquanto  Heitor permanecia no mesmo lugar. _ Vamos Heitor...

_ Eu? Almoçar com vocês?

_ Claro, por acaso pensa que a chefinha e eu deixaríamos você aqui, ou está com vergonha?

_ Não é isso, estou apenas surpreso. Falou olhando para Sofia que o chamou com a cabeça. _ Vamos.

Chegaram ao restaurante e fizeram os pedidos. Heitor almoçava em silencio enquanto Bruna e Sofia conversavam sobre trabalho e outros assuntos, sem parar de observar Sofia encantado pelo seu jeito, pela sua voz e pelo sorriso que quase o fez suspirar.

_ Estou vendo que gostou de almoçar com a gente, não é Heitor? Bruna chamou atenção de Heitor depois observar a forma doce dele olhar para Sofia.

_ Sim... respondeu envergonhado depois de pego em flagrante.

_ Não vejo a hora da sobremesa ser servida. Amo petit gateau, chego até salivar. Bruna estava ansiosa pela chegada da sobremesa

_ Tem muitos anos que eu não como petit gateau. Minha mãe costumava preparar petit gateau nos dias que ela tinha tempo para cozinhar, normalmente aos domingos, e o que ela fazia era muito bom.

_ Ela parou de cozinhar, ou mora em outra cidade? Perguntou Sofia despois de perceber nostalgia na voz de Heitor

_ Minha mãe faleceu há alguns anos. Respondeu Heitor deixando Sofia sem graça.

_ Perdão se minha pergunta foi indelicada.

_ Imagina. Falou sem olhar para ela.

Depois do almoço voltaram para a Lamoda. No final da tarde, Bruna ainda se lembrava do petit gateau.

_ Poderia comer três sobremesas daquele restaurante que ainda não estaria satisfeita.

_ Depois não pode reclamar do peso. Falou Sofia para Bruna depois do seu comentário.

_ Não me preocupo com peso, não sou modelo e olha como eu estou magra. Falou dando uma voltinha e sentando novamente, fazendo Sofia achar graça.

_ Temos alguma reunião nos próximos dias?

_ Não, mas a sua mãe ligou solicitando uma reunião para quando ela chegar de viagem, disse que precisa falar dos ganhos mensais dela com você e com os demais acionistas.

_ De novo essa história de que ela precisa de mais dinheiro... Mas ela não quis falar comigo hoje?

_ Eu ate perguntei se ela queria falar com você, mas ela disse que não. Respondeu Bruna que não conseguia mentir.

Não era nenhuma novidade para Sofia que a mãe nunca ligava para conversar com ela, mas mesmo assim ficava chateada sempre que sabia que ela ligava para a empresa.

_ E o que você pretende fazer se ela exigir ganhos mensais maiores?

_ Não autorizarei, a empresa acabou de sair de uma grave crise financeira, e o quantidade de dinheiro que ela recebe por mês, dá para ela viver tranquila. O que ela tem fazer é parar de viajar com a Debora para o exterior, o dólar e o Euro estão caros.

_ Você conhece a sua mãe, vai te atormentar todos os dias por causa disto.

_Estou acostumada a lidar com ela nessa questão, desde que ela não tente me casar com o Julian outra vez, isso eu posso aguentar.

_ Se ela está voltando, a Debora também.

_ Provavelmente, as duas sempre estão juntas. Respondeu triste, a distinção que a mãe fazia entre ela e a irmã a magoava. _ Bom, eu já vou para casa, estou cansada.

_ Depois dessa noticia, você está péssima.

_ Bruna, você continua muito sincera.

_ Vou morrer assim. Até amanhã, e aprecie a beleza do seu motorista, ela pode te distrair até em casa.

_Não vou dizer nada sobre a sua fixação por ele. Falou pegando a bolsa para ir embora.

No estacionamento, assim que Heitor viu se aproximar, abriu a porta para que ela entrasse.

_ Obrigada.

_ Para onde vamos agora, senho... quer dizer Sofia.

_ Para minha casa, sabe o endereço?

_ Não.

_ Está bem, vou te passar o endereço e se precisar te indico o caminho que costumo fazer na volta para casa. Heitor ligou o carro, e seguiram em silencio. Pelo retrovisor Heitor observou que Sofia estava com os olhos fechados e parecia desanimada, pensou em perguntar o motivo mas desistiu, não gostaria de parecer intrometido, era apenas um funcionário recém contratado apesar de terem se conhecido na festa da Ceus-pes.

Quando chegou à casa de Sofia, desceu rapidamente para abrir a porta para ela.

_ Não precisa fazer isso, está bem?

_  Desculpe se ...

_ Não precisa se desculpar, é que realmente não precisa. Sofia tentou tranquiliza-lo quando escutou o latido do seu cachorro vindo na direção da garagem. Como de costume, sempre que Sofia chegava, Luck corria para vê-la. Teve medo de que o cachorro estranhasse Heitor. _ Entra no carro agora...

_ Por que? Perguntou Heitor sem entender porque Sofia estava mandando ele entrar no carro.

_ Luck... falou o nome do cachorro que já havia chegado a garagem e parou olhando para Heitor correndo na sua direção em seguida. Sofia desceu do carro correndo para segurar o cachorro, mas Luck pulou em Heitor feliz lambendo sua mão.

_ Hei, meninão... você gostou de mim pelo visto. Heitor conversava com Luck fazendo um carinho em sua cabeça.

_ Que susto você me deu Luck. Sofia colocou a não no peito tentando se acalmar.

_ Então o seu nome é Luck... Luck saiba que eu gosto muito de cachorro. Heitor interagia com Luck que começou a correr sem parar, em seguida pulando em Sofia.

_ Eu sei que você está cheio de energia e que eu estou em falta com você, tem dias que eu não te passear, mas amanhã em prometo que levo, e hoje a noite vamos brincar de bola. Luck pareceu gostar da ideia.

_ Então, eu já tenho que ir... só preciso saber que horas devo estar aqui amanhã.

_ Pode chegar às sete meia da manhã.

_ Ok, nos vemos amanhã Luck, e boa noite Sofia.

_ Boa noite Heitor. Despediram evitando se olhar.

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