PONTO DE VISTA: SOPHIA
Era final de tarde e estava na hora do meu filhote tomar banho.
— Oi, bebê mais gostoso da mamãe! Vamos tomar um banho bem quentinho?
— Mamãe, não.
— Sim. Está hora! Daqui a pouco é hora do jantar. A Lili já tomou banho e está esperando por você.
— A Lili?
O Igor Júnior chamava a irmã de Lili e era apaixonado por ela. Não perdia a Millie de vista quando estava acordado. Eu sempre brinquei que ele era o "rabinho" dela, sempre seguindo atrás.
Olhando para fofura à minha frente, sabia que tinha tomado a decisão certa quando propus realizar o último desejo do Igor, meu melhor amigo, filho do meu padrinho Celso.
Lembrança:
Há 5 anos…
Depois de sair do escritório e ir direto para o aeroporto, eu sentia que a minha vida tinha acabado junto com a partida do meu pai.
A dor no meu peito era intensa e sufocante.
O motorista de táxi tentou de todas as formas me consolar ao ouvir o meu choro sem fim.
Ele falou tantas palavras bonitas sobre a vida e a morte que ao chegar ao meu destino, aeroporto, o meu choro já havia diminuído, apenas lágrimas rolavam.
Ali, eu acreditei que o destino colocou um anjo na minha vida naquela madrugada para aplacar um pouco do desespero e da dor que sentia.
Peguei o telefone chequei a passagem já comprada on line por meu padrinho, fiz o check-in.
Paguei o motorista, o agradeci pelas importantes palavras de conforto e fui direto para o Portão de embarque já que não tinha mala para despachar.
Chegando no Rio de Janeiro, o meu padrinho me aguardava ao desembarcar.
Ficamos abraçados por alguns minutos e seguimos para o local do velório.
Nunca foi tão difícil despedir de alguém como foi do meu pai. A minha única família havia me deixado.
Eu estava sozinha no mundo.
Sem família, sem vínculo empregatício, longe da faculdade e dos meus amigos, sem motivação para seguir adiante.
Depois do sepultamento, eu fiquei sem forças por alguns dias.
Não fui para a antiga casa do meu pai, pois a minha madrasta começou a implicar comigo desde o momento que pisei na sala onde estava o corpo do meu pai no caixão.
Os dias passaram lentamente.
A dor no meu coração era contínua.
Quinze dias depois o meu padrinho e a assistente do meu pai na empresa, a Lídia me chamaram.
Comunicaram qual era a situação atual da empresa e perguntaram se eu seria capaz de assumir o cargo do meu pai.
Eu precisava me agarrar a algo para seguir em frente, então com a ajuda deles, eu me tornei a mais nova executiva da Extreme Tech.
Não foi fácil provar o meu valor, mas com muita determinação, eu consegui.
Três meses depois, após passar muito mal, vomitando e sentindo tontura, a Lídia foi comigo até o hospital e o meu mundo criou novas cores.
Eu não estaria mais sozinha na minha vida, estava grávida.
Com tudo que estava passando, além de ter um ciclo menstrual totalmente desregulado, nem me lembrei do atraso.
Lídia ficou preocupada, pois a minha reputação era crucial nesse momento de transição.
Depois de muito insistir, fomos conversar com o meu padrinho.
Naquele momento, me perguntei como seria se tivesse que contar para o meu pai que eu seria uma mãe solteira.
O meu pai ficaria muito decepcionado comigo, tinha certeza disso.
O pânico tomou conta de mim e o desespero veio, eu não conseguia parar de chorar.
Lídia contou ao meu padrinho e ele me abraçou com força.
— Não fique assim! O seu pai nunca sentiria decepcionado com você. Ele te amava mais que a ele mesmo. Tenho certeza que agora ele está em paz, pois você não estará sozinha. Não fique assustada, eu e a Lídia daremos todo o apoio que precisar. Você confia em mim?
Assenti, enxergando tudo embaçado devido às lágrimas.
— Eu vou achar uma solução. Não se desespere. Mas para isso, vai ter que contar quem é o pai.
Ao ouvir isso, chorei ainda mais.
Não contei quem era o pai, somente que era um empresário comprometido.
Uma semana depois, veio a solução.
O meu melhor amigo desde criança e também, filho do meu padrinho, lutava com um câncer terminal.
Já não tinha mais esperanças. No entanto quando ele me ligou naquela madrugada, eu pensei que fosse Igor, quem tinha partido.
Assim como eu, o meu padrinho estava lutando para não se entregar a dor, passava por uma situação tão triste, desoladora. Talvez pior, pois dizem que a dor de um pai e uma mãe ao perder um filho é ainda maior.
A solução foi que eu me casasse com o Igor e diríamos a todos que eu estava realizando um dos seus últimos desejos, que era ter um filho.
O que mais me doeu foi que realmente essa parte era verdade.
Ao terminar de correr todos os documentos no cartório, claro que com muito dinheiro foi fácil antecipar tudo,
realizamos a cerimônia de casamento no próprio hospital, não teve quem não ficasse emocionado. Até mesmo o juiz chorou.
Quando finalizou a cerimônia com a famosa frase "os declaro como marido e mulher", recebemos os cumprimentos das poucas pessoas presentes e em seguida nos deixaram sozinhos no quarto da enfermaria.
— Sophia, você não tem noção de como estou feliz. Obrigado por aceitar a proposta do meu pai.
— Igor, sou eu que tenho que agradecer. Você está salvando a minha reputação, apesar de não merecer e ainda dará o seu sobrenome para o meu bebê.
— Já que você é a minha esposa, então eu posso confessar agora. Eu sempre te amei desde que éramos criança. Eu te amo Sophia!
Eu não sabia o que fazer ou dizer. Éramos inseparáveis quando eu morava ali, mas nunca desconfiei, pois ele sempre fazia muitas brincadeiras, então, nunca levei a sério.
— Igor, porque nunca me contou?
— Tinha medo de te perder.
Ele começou a chorar e eu também.
— Agora que consegui, eu não ficarei ao lado como sempre sonhei.
— Não é verdade, você estará dentro do meu coração para o resto da minha vida. — Disse com lágrimas rolando pelo rosto como uma cachoeira.
Eu levantei da cadeira que estava sentada, fui até ele e beijei os seus lábios.
— Passaremos todo o seu tempo restante juntos. E tem mais, o seu pai disse que você congelou o seu material genético antes de começar o seu tratamento. Então, assim que eu der à luz ao meu bebê e tiver em condições de ter um novo filho, vou fazer inseminação artificial e vou ter um filho seu, ou melhor nosso.
— Você faria isso?
— É uma promessa. — Eu garanti a ele.
— Eu te amo tanto! Eu vou tentar lutar para permanecer vivo até o nosso primeiro bebê nascer.
Como eu gostaria de dizer que o amava, ele já considerava o meu bebê como nosso!
Chorei ainda mais.
Igor chegou para o lado na cama, fez sinal para deitar com ele.
Deitei de lado olhando para ele e ficamos ali conversando até adormecer devido à medicação.
O destino tem os seus propósitos e muitas vezes são assustadores.
Estava com 28 semanas de gestação quando Igor ficou ainda mais debilitado.
O Médico já havia nos informado que o Igor estava sofrendo muito e que os medicamentos paliativos já não faziam mais efeito. Ele estava cada vez mais fraco e não restava muito tempo.
Dois dias depois, eu tive um sangramento e Millie nasceu, indo direto para a incubadora na UTI Neonatal.
Com a presença de um médico e duas enfermeiras, Igor foi colocado numa cadeira de rodas e foi levado até a nossa filha, como ele sempre dizia.
O Médico autorizou a entrada dele para dentro da sala isolada e ele ficou lá olhando e conversando com a Millie por uns 10 minutos, conforme o meu padrinho contou.
Como estava muito cansado e fraco pediu para levá-lo até onde eu estava internada.
Ele me parabenizou, beijou a minha mão, disse que me amaria para sempre e que nos protegeria de onde estivesse.
Meia hora depois, ele foi a óbito.
Quando Millie fez dois anos, porém um anos conforme registro, eu cumpri a minha promessa e fiz inseminação artificial para dar vida ao nosso filho, Igor Albuquerque Júnior.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
MagnoliadeLourdes Carneiro
Nossa muito emocionante. se continuar assim com essas fortes emoções até terminar o livro já estou desidratada. Mas vamos continuar a leitura 😜
2025-03-12
3
Zeni De Assis
que li do e segunda história boa que estou lendo só que a primeira não pude terminar pois foi bloqueada
2024-12-20
0
Lucia Carneiro
Meu Deus,que emoção,que ato lindo de amor,chorando muito com essa história linda! 😪❤😪❤😪❤
2024-12-15
0