A Investigação

PONTO DE VISTA: ANTHONY

Quinze dias se passaram e não encontrei novamente a Sophia. 

Minha vida voltou ao normal, ou melhor dizendo, os meus pensamentos estavam mais centrados e eu não ficava alheio à realidade com tanta frequência. 

Os primeiros dias após aquele reencontro no hall do hotel, foram torturantes.

Dei voltas de carro pelas áreas mais nobres da cidade, olhando ao redor para verificar se havia alguma mulher ruiva na rua, mas nunca era ela.

Fui a shoppings, restaurantes mais caros e nada de encontrá-la.

Concentrar no trabalho parecia uma missão impossível.

Tudo que eu fazia, pensando em Sophia, dizia para mim mesmo que era apenas para aplacar a minha culpa...

"Será que ela foi embora novamente?" — Era um pensamento que me deixava apreensivo.

Neguei várias vezes a possibilidade de existir qualquer sentimento.

Tudo ficou no passado!

Após recitar repetidamente as mesmas palavras, consegui focar no meu trabalho para não pensar mais nela.

Passei a fechar os olhos durante o trânsito, com a desculpa que estava muito cansado.

Henrique, o meu assistente pessoal, até se acostumou com essa fase, pois ao entrar no carro, ele apenas dirigia e não falava comigo.

Para ficar cem por cento melhor, eu decidi que precisava encerrar esse ciclo de vez. Por isso, resolvi que teria que descobrir o que aconteceu com Sophia nesses 5 anos, talvez assim, aquela noite deixaria de ser lembrada com tanta frequência e possivelmente arrancasse a culpa que sempre senti. 

Se até eu fiquei mal com aquelas malditas palavras, fazia todo o sentido que ela tomasse aquela decisão repentina de pedir demissão.

Nunca me perdoei por ter sido tão insensível.

O que mais me torturou todos esses anos, foi lembrar do seu olhar de decepção e das suas lágrimas.

Será que ela se arrependeu de se entregar a mim? 

Posso me sentir culpado por ofendê-la, por ser o motivo de ter saído da empresa, ter remorso por trair a minha esposa, mas nunca arrependi de ter feito sexo com Sophia. Até porque, foi incrível!

Nunca entendi o motivo de não consegui deixar de lado essa história.

Quantas pessoas traem os seus companheiros diariamente e seguem as suas vidas como se nada tivesse acontecido? Por que eu era diferente? Por que eu me importava tanto?

Minutos depois, parei o que estava tentando fazer. 

Bati os meus dedos na mesa como se estivesse dedilhando ou digitando com uma mão, olhei para o sofá e o chão onde tudo aconteceu… suspirei e resolvi colocar em andamento o que havia decidido mais cedo.

Chamei o Henrique até a minha sala.

Depois do que aconteceu entre mim e Sophia, resolvi mudar o quadro de funcionários ao meu lado. As secretarias mulheres foram substituídas por homens. 

O motivo não era porque eu não confiava em mim mesmo, e sim devido às comparações internas que fazia entre as novas secretárias e Sophia. Sem perceber, sempre me pegava procurando um pouco da personalidade e do profissionalismo da ex-secretária nas mulheres que contratava. 

Ninguém se comparava a ela. 

Com a chegada de Henrique, a rotina voltou a normal, anos depois, no entanto sempre existia um "mas" ou um "porém" no meu coração...

Escutei uma batida na porta.

— Entre. — Eu disse.

Henrique foi investigador da polícia, mas deixou o cargo, pois o salário não era suficiente para manter a sua mãe, os seus irmãos mais novos e a sua vida de solteiro. Por isso, se candidatou à vaga de meu assistente.

Ele é extremamente profissional, discreto e muito competente, após anos de busca, achei alguém talentoso, porém sem o brilho, a beleza e o carisma de Sophia.

Não disse que existia sempre um "mas, um "porém"?

— Sr. Anthony em que posso ajudá-lo? 

— Preciso de um favor pessoal, mas que não pode sair dessa sala.

— Claro! 

— Se for possível, quero que investigue uma pessoa para mim. 

— Ok! Sem problemas.

— Quanto tempo você gastaria para trazer as primeiras informações?

— Depende. Posso encontrar as informações rapidamente ou não. Vai depender se essa pessoa tem redes sociais, pessoas próximas que posso procurar entre outras coisas...Há casos que eu possa solucionar em um dia e outros que levarei aproximadamente uma semana a 15 dias, dependendo de quem seja. No entanto, existem aqueles que vou demorar muito tempo. Sendo assim, não consigo fazer estimativa do prazo. Quem precisa ser investigado? 

— Há 5 anos, eu tinha uma secretária que se chama Sophia Ducan. Numa noite, após hora extra aqui na empresa, ela recebeu o telefonema da sua família e pediu demissão em seguida, sem dar nenhuma satisfação. Por muito tempo não a vi na cidade, porém no dia do aniversário do Gregory, avistei-a de longe no mesmo hotel onde foi a festa. Como sabe, o valor da diária de lá é altíssimo. O que me chamou a atenção foi o carro que ela entrou e por estar acompanhada de um segurança pessoal. Fiquei surpreso, pois, ela sempre foi uma pessoa simples aqui na empresa. Gostaria de descobrir tudo que aconteceu desde a sua demissão voluntária.

— Entendi. Você sabe de onde é a família dela? 

— Não sei. Nunca conversamos sobre a sua vida pessoal.

Eu sabia um pouco da sua adolescência, pois naquela noite falamos sobre isso, mas não poderia dizer toda a verdade, porém a maioria das palavras que disse foram de acordo com o que aconteceu.

— Vou procurar pela ficha dela no sistema do RH e em seguida começarei a busca pelas informações.

Henrique saiu da sala e eu continuei com o trabalho. 

Meia hora depois, ele ligou para o meu celular. 

— Senhor Anthony, não há nenhuma ficha cadastral da ex-funcionária Sophia Ducan no sistema. 

— Como assim? Ela trabalhou na empresa por quase dois anos e meio, primeiro como estagiária por um ano e depois foi promovida, ou melhor, foi efetivada como a minha segunda secretária pelos outros meses.

— O gerente lembra dela, porém a ficha dela parece ter sido deletada do sistema.

— Foi só a ficha dela ou de outros ex-funcionários também? 

— De alguns ex-funcionários, senhor. Vou averiguar quem são as pessoas e depois lhe informarei.

Desliguei e fiquei ainda mais intrigado. 

"Isso tudo é para que eu não possa saber do seu passado, Sophia? Foi você que fez isso ou só coincidência?" — Falei comigo mesmo como se estivesse falando com ela.

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