Capítulo 18

O dia amanheceu bastante ensolarado na ilha, e ter um paraíso a sua disposição, apesar de tudo, era um privilégio. Shaira acordou cedo hoje e foi caminhar pela a praia, o calor estava dando as caras cruelmente.

Nesse momento Luna vem em sua direção correndo e parando sem fôlego, com as mãos nos joelhos.

Shaira - Aconteceu alguma coisa?

Luna - Espera... deixa eu recuperar o meu fôlego primeiro.

Shaira - Você é engraçada. Risos...

Luna - O... o seu Arthur está lhe chamando no escritório.

Shaira - Escritório? Onde fica isso?

Luna - Vamos, vou levá-la até ele.

Shaira - Não estou afim de falar com ele.

Ela volta a olhar novamente para o mar e Luna se desespera.

Luna - Por favor senhorita, não complique as coisas.

Shaira dá de ombros e solta um suspiro se levantando, tirando a areia do corpo com as mãos.

Elas vão caminhando de volta para a casa lentamente, Shaira olha em direção ao sol e fecha os olhos.

- Nossa\, está fazendo muito calor hoje.

Luna - Verdade, hoje um banho na praia seria uma medida necessária.

Shaira olha para a Luna e sorri.

- Vamos tomar banho de mar depois? Se eu não me engano acho que tenho um biquíni perdido em uma das minhas malas.

Luna somente sorriu e baixou a cabeça fitando a areia.

- Não me atreveria\, sou uma simples empregada aqui\, não tenho essa liberdade.

Shaira - Entendo.

Luna - Mas a senhorita pode, por mais que esteja sendo mantida aqui contra sua vontade, só tente encarar de uma maneira não angustiante, é o que resta.

Shaira - Obrigada de verdade por está do meu lado, eu sei que não pode fazer nada para me ajudar porque eles são poderosos e perigosos.

Luna - O seu Arthur não é um monstro.

Shaira - É sim Luna, ele tá me mantendo aqui.

Luna - Já pensou se não fosse ele aqui senhorita? O que o Matias ou um outro monstro desprezível fariam? Só consigo imaginar barbaridades. Por algum motivo especial o seu Arthur decidiu ficar, deve conhecer o pai o suficiente, se não seria outro que estaria aqui nesse momento.

Shaira - Sabe Luna, eu acho que o Charles Baker vai me matar mesmo depois de eu entregar esses arquivos. Nem precisa ser inteligente para deduzir que ele não vai me deixar livre sabendo que eu sei dos podres das empresas dele.

Elas ficam caladas por uns segundos e chegam na curta escadinha de quatro degraus da casa.

Luna - Eu juro que farei tudo que estiver ao meu alcance para ajudá-la.

Shaira - Obrigada, minha amiga!

Luna - É uma honra ser sua amiga, senhorita.

Shaira - Vamos combinar uma coisa?

Luna - O quê?

Shaira - Não quero que me chame de senhorita, somos amigas, se dirija a mim por "você" mesmo.

Luna sorriu meio vergonhosa e logo entram na casa, ela leva Shaira até o escritório e bate na porta.

Arthur - Pode entrar!

Luna - Com licença senhor, trouxe a senhorita Shaira como ordenou.

Shaira entra toda emburrada e fica em pé próximo a porta.

Arthur - Ok Luna, obrigado! Pode se retirar agora.

Ela sai da sala e encosta a porta.

Arthur fica olhando para Shaira que parecia uma onça o encarando, pronta para dar  um bote, ele sorri e gira a cadeira até a metade com a mão no queixo.

Shaira - O que você quer? Me chamou para ficar olhando para minha cara?

Arthur - Não, olhar para a sua cara é frustrante, pois está sempre de cara feia como se fosse um animal arisco.

Shaira - Gostei da definição, sou mesmo um animal selvagem pronto para se defender.

Arthur dá uma risada alta e volta a girar um pouco a cadeira.

- O seu dedo está melhor?

Shaira - Se estiver melhor não te diz respeito.

Arthur fecha a cara e engole a seco aquela patada.

- Sente- se!

Sharia - Não!

Arthur - Eu disse sente-se!

Aquela voz grossa e ao mesmo tempo suave saiu um pouco alterada com evidências de raiva. Shaira entortou os lábios e puxou a cadeira para sentar-se de frente à mesa.

Arthur - Assim está bem melhor!

Ela revira os olhos e o encara esperando ele falar.

Arthur - Os dias estão se passando e você não acaba esse martírio, não conta para onde enviou esses arquivos, e pelo o que estou percebendo não está mesmo disposta a contar.

Shaira - Eu já disse que não sei de arquivos nenhum.

Arthur - Para Shaira, já chega de mentir, porque está fazendo isso com você? Conta logo onde estão, e acabe com esse sofrimento.

Shaira - E depois? O que acontecerá comigo?

Arthur - Não sei, aí não será mais da minha conta.

Shaira - Você irá embora e seu pai decidirá o meu destino, né?

Arthur - Shaira, eu...

Ela o interrompe já com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Shaira - E eu Arthur?

Ele franze a testa e se levanta da cadeira indo para perto da janela, onde abre as cortinas e fica olhando para fora.

Shaira - Antes de você chegar eu estava sendo torturada, imagine depois quando você for embora, eu acredito que você não seja do mal e estar fazendo isso não é um prazer para você, dá para ver isso nos seus olhos.

Arthur - Dois meses, você tem somente esse tempo para contar, a metade de um mês já foi.

Ela apenas abaixou a cabeça e limpou as lágrimas. Foi mais uma conversa em vão e ela não estava disposta a contar nada.

Shaira - Vou levar para o meu túmulo então, nunca saberão onde estão os arquivos.

Ele se vira e olha para ela novamente.

Arthur - Saia!

Sem paciência ele manda ela sair do escritório, entretanto, antes de abrir a porta ela se vira e o olha novamente.

Shaira - Vai ter que me aguentar esses dois meses até o fim.

Ela sorriu com deboche e saiu da sala, Arthur ficou incrédulo com a audácia dessa garota.

Arthur - Meu Deus que insuportável!

Ele ficou indignado falando sozinho.

Arthur - Afrontosa e muito valente também, tenho que admitir que essa última qualidade é admirável.

Ele sorri e balança a cabeça, abre o notebook e começa uma reunião por transmissão de vídeo. Passou o resto da manhã inteira trabalhando bastante concentrado, inclusive pulou o almoço por estar bem atarefado. Tempo é dinheiro e o trabalho vem sempre em primeiro lugar para o Arthur.

…

Depois do almoço, Shaira estava na saga de insistir com a Luna deixar ela ajudar na cozinha, mesmo ela negando e dizendo que não precisava.

Shaira - Eu preciso me distrair de alguma maneira.

Luna - Mas limpar, não, esse é o meu serviço.

Shaira - Posso fazer um bolo de chocolate então?

Luna sorriu e balançou a cabeça que sim.

Shaira deu dois pulinhos de felicidade e a abraçou agradecendo.

Luna pegou todos os ingredientes para fazer o bolo e colocou em cima da mesa disponível para Shaira fazer sua arte culinária.

Shaira pegou a batedeira e fez uma massa bem bonita, untou uma forma redonda e despejou o conteúdo, em seguida levou para assar no forno.

Shaira - Agora vou fazer uma ganache.

Luna - Uau, vai ficar uma delícia esse bolo.

Ela colocou tudo que estava sujo na lava louça, depois tirou um sorvete de abacaxi do freezer para tomar com a Shaira, já que o tempo estava bastante abafado.

As duas ficam conversando sentadas à mesa na cozinha, esperando o bolo assar.

Shaira - Sinto muita vontade de patinar, saudades de praticar o meu hobby.

Luna - Sério? Eu nunca aprendi a andar com aquelas rodas nos pés.

Shaira - Risos... É fácil, só basta um pouco de prática.

Luna - Não é fácil coisa nenhuma, tenho é trauma de patins pois quando eu era adolescente levei uma queda e quebrei o nariz, por isso ele é meio torto, olha!

Shaira caiu na risada quase se engasgando com o sorvete, acabou engolindo o conteúdo da colher de uma vez e de tão gelado que estava, doeu a cabeça.

- Verdade\, ficou um pouco tortinho mesmo\, amiga! Risos...

Nesse momento o forno apita sinalizando que o bolo já estava assado, Shaira tirou do forno e enfiou uma faca para ver se estava bom.

Luna - Hum… que cheiro bom, vou pegar a boleira para você virar nela.

Shaira finaliza e coloca a ganache de chocolate por cima e deixa esfriar em cima da mesa antes de colocar para gelar.

- Prefiro geladinho.

Luna - Eu também.

Elas continuam no bate papo sobre a vida e sonhos, nessa hora Shaira volta a sua realidade se dando conta que não estava em uma situação favorável para pensar no futuro, já que no momento era incerto.

 A tristeza quebra aquela descontração a deixando vulnerável aos pensamentos negativos.

Shaira - Vou me deitar um pouquinho, de repente me bateu um sono.

Luna percebeu o porquê dessa mudança de humor e não comentou nada a respeito, não adiantaria falar.

Shaira entrou no quarto e ligou o ar-condicionado, apagou as luzes deixando o ambiente escurinho e aconchegante para tirar um belo cochilo. Então assim ela fez.

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