Capítulo 7

Estamos sentados nas cadeiras pretas do restaurante que Ellie escolheu. Nos olhamos a todo momento enquanto o vento quente do aquecedor nos atingia frequentemente, impedindo o frio do lado de fora entrar no local.

Já havíamos feito os pedidos e estávamos esperando o garçom trazer. Então, para não ficarmos somente em uma troca de olhares constantes, decidi puxar um assunto.

— O que você achou de Sophia e Anthony?

— Seus filhos são adoráveis, senhor Walkhen.

— Sério?— Questiono.

— Sim. Sophia é muito fofa e esperta. Ela sabe sobre assuntos que não são frequentes em crianças da sua idade, além de que ela sabe falar sobre vários assuntos, fiquei impressionada — suspira.— E Anthony é muito compreensivo. Ele tem as suas desconfianças, mas se abre aos poucos. Mesmo que eu tenha que conversar com o senhor frequentemente sobre ele por conta de suas ações na escola, Anthony é uma criança adorável que só não sabe reagir sobre os comentários sobre sua mãe.

Desvio o olhar. Minha ex-esposa é um assunto que eu não gosto de falar, para mim ela nem sequer existe mais, não consigo esquecer o que ela fez com àquela moça há três anos, antes mesmo de Soph nascer.

— Desculpa, senhor. Eu não queria te deixar desconfortável. Não toco nesse assunto novamente.— Ellie pareceu ficar preocupada demais, suas ações demonstravam isso.

— Tudo bem. Ela já é passado. E agora não estamos no trabalho, me chame pelo meu nome.

— Okay, sen... Christopher.

— Chris — corrijo.

— Tá, Chris — sorrio. Ouvir meu nome sendo pronunciado pelos seus lábios me causou uma reação estranha. Olho para os lados e vejo o garçom, que havia acabado de trazer os pratos. Ele coloca os pratos aos poucos na mesa.

— Obrigado — falo, quando ele acaba. Assim que ele sai, nós voltamos a atenção para nossos pratos.

Estávamos comendo em completo silêncio, até que uma notificação de um celular toca, era de Ellie. A garota fica um tempo olhando a tela do celular e depois volta a atenção para mim.

— Senh... Chris, uma amiga minha está aqui no Canadá. Será que eu poderia encontrá-la à noite?

— Logo no segundo dia de trabalho, Ellie?

— Eu sei… mas eu posso ir depois que as crianças dormirem, jamais sairia em horário de serviço.

— Okay, você pode ir, Ellie.

Enquanto almoçamos nós conversamos sobre vários assuntos e rimos bastante quando mencionamos as coisas engraçadas que vivenciamos. O fato de alguns olhares em nossa direção não foi nenhum problema, acho que pela primeira vez eu relaxei um pouco. Ter a convidado para um almoço me fez bem, e acho que para ela também.

Quando eu estava pagando a conta, que Ellie tentou pagar, mas eu recusei, eu recebo uma ligação em meu celular.

— Coloca a senha para mim, Ellie. Eu tenho que atender essa ligação.

— Ok, Chris.— Falo a senha para ela e atendo a ligação de Dylan.

— Alô?

— Onde você está, Chris?

— Estou em um restaurante. Eu e Ellie estávamos almoçando.

— Almoçando com sua secretária e babá, Chris? Você nunca fez isso.

— Cala a boca, Dylan.— Ele ri e Ellie se aproxima de mim.

— Pronto, Chris. Aqui está o seu cartão — ela me entrega e eu guardo.

— Vamos?— Ellie assente, então andamos até a porta de saída.

— Calma. Ellie está te chamando de Chris? Quais foram as reviravoltas?

— Não enche, Dylan. Não é nada de mais.

— Ok, ok. Os monstrinhos acordaram e estão procurando vocês. Já que me esqueceram aqui, vocês podem voltar rápido?— Passamos pela porta de saída e a mudança de temperatura juntamente com os altos barulhos sonoros do trânsito foram bem grandes, tanto que quase me esqueci de responder Dylan.

— Não te esquecemos, era somente algo da empresa.

— Ah, e eu não sou da empresa?

— Para de drama. Nós já estamos indo.

— É melhor virem rápido.— Desligo a ligação e entro no carro.

— Era algo muito importante, Chris?— Questiona Ellie.

— Anthony e Sophia acordaram e estão nos procurando. Dylan acabou de me informar.

— Então é melhor irmos rápido.— Ligo o carro e coloco meu celular em meu bolso, começando a dirigir até em casa.

Em questão de poucos minutos nós já estávamos dentro de minha casa. Não demorou para que notassem nossa presença e as duas crianças pararem e nos encararem.

— Até que enfim vocês chegaram.— Dylan deita no sofá e pega seu celular. Provavelmente estava conversando com alguma mulher.

— Onde vocês estavam?— Anthony é o primeiro a fazer a pergunta.

— Estávamos em uma reunião e depois fomos almoçar — respondo. Escorando na porta e analisando Sophia ir até Ellie. Elas realmente se apegaram, o que é bem estranho, já que a Soph é a mais desconfiada.

— Ah… pai, nós podemos sair hoje?

— Para onde?

— Tem um parque aqui perto. Vi quando estávamos vindo. Tem bastante coisas lá. Dá para Soph e Thony ficarem no parquinho e nós podemos olhá-los em um ambiente mais fresco.— Ellie sugere.

— Vocês querem ir?— Pergunto.

— Sim!— Assim, aproveitando que os dois já estavam bem agasalhados, saímos novamente e entramos no carro, enquanto Dylan olhava tudo da porta.

— Você não vem?

— Não. Tenho que cuidar de alguns assuntos urgentes.

— Okay.— Ellie foi me guiando o caminho inteiro até o parque. Não tinha muitas pessoas, o que era ótimo.

Quando estaciono, Ellie sai do carro e abre a porta de trás, pegando Sophia no colo, enquanto eu saía e segurava a mão de Anthony. Sendo honesto, eu nunca havia feito muito isso, estava sempre ocupado com as coisas do trabalho.

— Eu quero brincar logo!— Sophia reclama.

— Okay. Vão.— Ellie coloca Soph no chão e eu solto a mão de Anthony. Vendo os dois correrem até o parquinho.

Estava andando ao lado de minha secretária enquanto analisava as folhas das árvores caírem e se mexerem consoante os ventos que batiam. As pessoas estavam mais perto de uma barraca, que parecia vender cachorro-quente. Nunca gostei dessas coisas, mas, tenho certeza que Anthony e Sophia irão querer. É só questão de tempo.

Sento no banco mais próximo do parquinho e Ellie senta ao meu lado. Estávamos conversando enquanto olhávamos os nossos… quer dizer, os meus filhos brincarem.

— Nunca tinha visto eles tão felizes assim — comento.

— Pequenas coisas trazem grandes felicidades, Chris.— Ela olha para mim e coloca a mão na boca, parecendo estar surpresa, o que me fez sorrir de lado.— Perdão, senhor. Eu esqueci que estava no trabalho. Isso não se repetirá mais, senhor Walkhen.— Rio de sua correção.

— Tudo bem, Ellie. Pode me chamar pelo meu nome mesmo.— A garota me olha profundamente nos olhos e vejo um brilho de curiosidade surgir, de repente, em sua pupila preta.

— Ele é mesmo frio como todos dizem?— Franzi o cenho, continuando a encará-la.

— Sou, Ellie. É que você ainda não me deixou irritado ou desconfiado. Caso faça isso, estará ciente de minha frieza. Não quero ser frio com a babá dos meus filhos que, ao mesmo tempo, é minha secretária. Espero ter um bom relacionamento com você.— Quando termino de falar, ela ficou surpresa. Desviou o olhar e voltou a analisar as crianças.

— Eu pensei em voz alta, não foi?— Assenti.— Só eu mesmo.

Antes de podermos iniciar um assunto, Sophia e Anthony vêm até nós e começam a puxar Ellie, a chamando.

— Vem brincar conosco, Ellie!

— Se vocês conseguirem me tirar daqui, eu vou — ela atiça.

— Papai, nos ajude!— Soph implora.

— Tá, ajudo vocês.— Levanto do banco e os ajudo a puxar Ellie dali. Ela estava relutante demais e eu não estava usando toda a minha força.

— Vai, pai. Tire ela daí.— Anthony e Sophia se afastam e eu a puxo para a levantar, enquanto a mesma ria a todo momento. Quando a puxei, a mesma levantou abruptamente e trombou com meu tronco, a fazendo perder o equilíbrio. Em um instinto, que eu desconhecia em mim, seguro firmemente sua cintura. Achei que tinha conseguido equilibrar, entretanto, Ellie segurou em minha gravata, me puxando.

Assim que chego perto de seu rosto, perco totalmente o controle de meu corpo e despenco, caindo. Por sorte, coloco um dos meus braços ao lado de seu corpo, fazendo com que meu peso não a atingisse. Ellie estava de olhos fechados. Uma de minhas mãos se encontravam atrás de sua cabeça.

Ela abre os olhos aos poucos, fazendo seu olhar encontrar o meu.

— Você está bem?— Pergunto.

— Sim...

Nós continuamos nos olhando e eu senti um desconforto em meu estômago, não consigo explicar qual era a sensação.

— Papai!

— Ellie!— Os dois se jogam em cima de mim e eu me movo para o lado, saindo de cima de Ellie. Continuamos ali, deitados no chão, por um tempo enquanto Sophia e Anthony riam contando como caímos.

Meu celular toca. O tiro de meu bolso e atendo, era Dylan. Será que aconteceu algo muito importante?

— Al...

— Você viu as notícias, Chris?!— Ele pergunta, me interrompendo.

— Não vi. É algo importante?

— Vou te mandar.

Dylan desliga a ligação e a pequena demora para me enviar a notícia me deixou intrigado. Será que era algo da empresa? Era sobre Maitê? Era Sophia ou Anthony? Só tive a resposta quando a mensagem chega. Abro a notícia e, assim que leio a machete, fico boquiaberto.

...CHRISTOPHER WALKHEN, O CEO DO GRUPO WK, FOI VISTO COM SEUS DOIS FILHOS E NAMORADA....

— O que aconteceu, Chris?— Ellie questiona. Mostro o celular para ela, que, ao ver a foto de nós no aeroporto, fica do mesmo modo que eu.— O que iremos fazer?

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