Capítulo 17

Aquele tapa que Meilin lhe deu fez um estralo dramático que no mesmo instante fez com que Xue ficasse surpreendia pela audácia dela, de olhar severo ergueu sua mão para lhe retribuir o tabefe quase não considerando sua posição de criada, quando do telhado um homem pousou num pulo clássico e belicoso, tinha vestes simples e negras, cabelos amarrados num rabo de cavalo curto e com uma espada sobre sua bainha.

— Você não pode fazer o que quer com a garota de Ming! — respondeu Meilin ficando entre ambas — eu estou aqui para proteger Ming Xue e pelo fato de sua alteza me dar essa tarefa, você não pode nem sequer pensar em ferir ela, caso contrário eu quem tomarei as providências! Ajoelhe-se e peça desculpas pelo tapa que lhe deu!

Estupefata, Meilin toca os lábios com a mão direita e Xue olha desconfiada ao guarda como se o reconhecesse de algum lugar, levanta uma de suas sobrancelhas tentando recordar-se de quem ele era.

— Vamos Meilin, peça perdão a princesa Ming, antes que eu chame o primeiro príncipe Liang para puni-la devidamente! — Mo Rhan era um guarda-costas leal e não deixaria que a princesa fosse humilhada dessa forma, ciente de que ela tinha o coração de seu mestre.

Meilin rangeu os dentes como um cachorro selvagem tendo de engolir seu orgulho, diante de todos os servos ajoelhou-se diante Xue Ming e curvou a cabeça, mas o seu punho ficou fechado enquanto ela suprimia no seu âmago o ódio por aquela criada.

A princesa Ming por um instante fica desconfortável com a atitude, olha para baixo sem grandes reações, todavia Meilin resmunga um "desculpe" de seus lábios que saiu quase mudo.

— Não ouvi muito bem e você princesa Ming? — Mo Rhan pisca em direção à jovem, que acaba dando-lhe um riso amigável. Era ele quem esteve a espiando todo esse tempo por cima do telhado, o mesmo que ela quase derrubou da calha quando roubou os alimentos e agora ele também estava a protegendo por ordens de Qi Liang.

— O príncipe herdeiro é atencioso em mandar-me um espião! — A jovem não parecia muito grata com a presença do guarda-costas quase em todos os lugares, ela mal tinha privacidade com um carrapato desses na sua cola, por isso diversas vezes tentou despista-lo, mas o quão longe iria estando presa no complexo do palácio? Mas, todavia, em todo caso, poderia sentir-se segura já que teria alguém para acoberta-lá.

— Eu me chamo Mo Rhan, princesa! — Os olhos puxados dele e o riso solto trazia simpatia a sua feição — sirvo ao primeiro príncipe Liang, e desde que me conheço por gente eu não sou um espião!

— Não seria como se você fosse o admitir, Mo Rhan!— Xue sibila fazendo um biquinho e sorri voltando-se a Meilin que permaneceu ajoelhada nesse tempo amaldiçoando a garota em seus pensamentos.

— Desculpe! — Meilin disse um pouco mais alto e Mo Rhan assentiu.

— Não retorne a tocar na princesa Ming, se não quiser sentir a minha lâmina traspassar seu pescoço! Ela é a protegida do meu mestre e o meu dever é protegê-la!

— Entendido! Eu entendi perfeitamente, isso não se repetirá, afinal o que uma velha pode fazer contra uma bela jovem que seduz os outros? Alguns tem mais sorte que outros, uma criada de guerra nem deveria estar entre nós e sim no lixo! Mas por um rosto bonitinho é poupada! — Dizia com amargura invejando a proteção que a jovem possuía, mesmo sendo um nada, Xue tinha o poder de colocar uma governanta de joelhos.

— Você pode se levantar, não fique com raiva... Eu torço pelo meu mestre e se ele finalmente achou uma mulher a altura para se casar, eu irei o ajudar! — Mo Rhan esclarece fazendo a princesa Ming corar só de pensar que estaria com o príncipe herdeiro algum dia como sua consorte, deixando bem claro as subentendidas intenções do príncipe para todos ali presente.

A velha mulher resolve ir embora após receber tais ordens e se colocar de pé, os outros servos ficaram em silêncio enquanto ela passou em passos pesados e nariz dilatado, não faltaria muito para jogar o ácido na cara daquela princesa para destrona-la de toda a proteção dos príncipes.

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Dentre assuntos políticos, não foi difícil desperdiçar aos arredores que "a princesa estrangeira que virou criada é uma mulher que seduz príncipes", os criados nunca tiveram a boca tão cheia para falar da vida alheia. Xue foi alvo de fofocas, o comportamento de Qi Liang quando se tratava dela e a proximidade dela com Hu Ning a faziam ser mal vista, sua reputação não era algo que deveria importar tanto quanto, mas também, Qi Liang havia sido ameaçado pelo pai, e por mais que quisesse esconder seus sentimentos de seu próprio coração, não podia. Ela era responsabilidade dele, em todos os termos, seja em mantê-la viva e trazê-la, não tinha sido muito "inteligente" da parte dele - isso é o que diziam ao pé de seus ouvidos.

O príncipe herdeiro esteve mais uma vez no Salão de Governança ao lado de grandes generais e ministros que administravam todo o reino, diante do trono do imperador. O motivo do tribunal em sua maioria ter se reunido eram dois fatos: a presença de Xue Ming Yue era uma ameaça pois ela era o estopim para uma nova guerra vinda dos "aliados" de Ming, e as ações imprudentes do príncipe herdeiro e sua sede por vingança, os rumores de uma nova guerra, o que era de extrema importância no momento ao conselho imperial.

— Vossa majestade, tenho objeções muito bem fundamentadas sobre o comportamento temperamental do príncipe herdeiro — Zeng Guofan toma a frente assim que tem a sua permissão para falar, coçou sua barba longa e demonstra oposição às atitudes de Qi Liang, que parece indiferente a ele até então.

— Me dê razões para que eu veja o erro do príncipe herdeiro — o imperador parece interessado em ouvir seu ministro, ainda que seu filho preferido estivesse errado seria acobertado por simplesmente ter sido instigado a ideia de atacar Ming pelo próprio imperador.

— O general Dorgon presente aqui e seus homens testemunharam a presença do exército de Tang nas terras Ming, há soldados em volta da cidade, eles tomaram o controle do reino. Isso é uma grande ameaça, primeiramente a única herdeira daquele reino se encontra como uma mera criada de sua alteza Qi Yu Liang Zhao... Poderia ser um grande indício que irão lutar por aquele mísero reino, já que os poucos homens deixados lá por nós foram aniquilados! E essa garota, ela pode se aliar a eles, ela estando aqui é uma ameaça. Ouvi dizer que luta como um homem, até mesmo melhor que seus guardas-costas, sua alteza! — O homem persiste, Xue era um assunto delicado, jamais Qi Liang havia se compadecido por uma mulher antes, as pessoas tinham dúvidas quanto à essa questão... Mas claro, toda sua ânsia vinha em prol do que havia presenciado de seu pai, a única mulher que ele havia deitado-se era Xi-Wang e ele não parecia estar são de si mesmo, nem sequer comentou sobre isso novamente.

O maxilar do imperador se demarca em uma expressão extremamente irritada, seu olhar se dirige ao seu filho mais velho e ele espera que o rapaz diga algo em sua defesa.

— Qi Liang, já decidiu o que vai fazer com aquela garota? — Suas sobrancelhas arquearam-se.

— Vossa majestade...— Formalmente, Qi Liang atende ao pedido de seu pai tomando a frente para chamar a atenção de seus apoiadores — a princesa fica, viva e em Zhao, isso é muito mais que uma estratégia!

A oratória de Qi Liang era admirável para o seu pai, naturalmente ele era um líder nato, mas teimoso o suficiente para ainda insistir numa mulher que ele não conhecia, Zhao sabia que seu filho um dia seria seduzido e morto por conta de Xue Ming, ele tinha a convicção disso, por isso defendia a tese de que morta, não seria um problema. Ela seria a ameaça ao seu trono, e ao seu herdeiro.

Diante de todos, o príncipe herdeiro continua — a princesa Ming conosco é o principal triunfo, ela tem o conhecimento daquele lugar com a palma da mão e sabe onde estão os tesouros nacionais mais valiosos, os quais pertenciam a nós no passado. Eu tive razões pessoais para acabar com o rei Ming Huan, mas também tive motivações maiores para finalmente invadir aquela terra.

Ming teve sua queda porque Qi Liang declarou guerra, sua intimidação colocou a prova a coragem de Ming Huan, o falecido rei e pai de Xue, que infelizmente para ela, se acovardou.

— Diga-me que esses tesouros nacionais são "algo" para se botar em jogo tantos homens, por um motivo trivial?

— Você quer aquelas terras, Zeng Guofan? Todos nós seríamos recompensados, estamos expandindo o império para meu filho mais velho herdar tudo isso! — O imperador chama a atenção do general, sua sutileza impõe para que o homem não questione mais as razões do príncipe.

— Isso é ótimo, Vossa Majestade! — O sujeito se curva, recuando dois passos, não havia outro modo a não ser se render, mesmo não concordando com os meios políticos que Qi Liang prosseguia em seu futuro reinado.

— Então cale a boca! — Zhao ordena em desagrado — uma guerra é o que menos me preocupa, isso é fácil de resolver Tang vai perder muito mais se resolver vir contra meu império!

— Vossa Majestade, sei que somos um império potente e com um exército imbatível, mas subestimar o inimigo é o maior erro de um homem! — O homem riquíssimo e excepcional de cabelos longos e um olhar afiado declara, ele era muito despreocupado com a intimidação do príncipe herdeiro, aquele era o filho do general das tropas da retaguarda, Jin Zhen. — Majestade, permita-me dar uma sugestão ao seu filho preferido. — Jin sorri de lado de um jeito infame a Qi Liang, assim que o imperador acena, ele promove sua ideia:

— Vamos usar a criada/princesa, como moeda de troca. Aposto que assim não haveria guerra, e nos livramos da ameaça de que ela leve informações sigilosas à eles, e em bônus levaríamos o legado Ming à extinção.

A capa dourada de dragão do imperador era ilustre, Zhao moveu-se na poltrona e concordou apesar da hostilidade no tom do rapaz.

— E porque eu deveria concordar com isso? — Qi Liang deu um passo à frente de Jin, olhando de cima a baixo — sua sugestão é ignorante.

— Vossa alteza real, cabe apenas ao imperador decidir!

— Jin Zhen, quanto que você quer para não se envolver nisso?

— Eu acredito que ela é muito mais do que pensávamos, você a protege é isso nunca aconteceu antes! — Ele dá de ombros — Vossa majestade, ela já o seduziu.

— A garota além de ser útil como um guia, ela parece agradá-lo sua alteza! — O general Sun Shin reflete em um longo tédio, curvando a cabeça em arrogância.

Em uma vertente, era possível ver o príncipe herdeiro vacilar, praticamente hesitando para não tropeçar em suas próprias palavras, o imperador estava ali olhando cada um de seus movimentos, Jin Zhen parecia se divertir, Qi Liang deu de ombros também, ele precisava ser indiferente... Xue Ming não deveria ter tanta relevância, ele deveria abrir mão do que permanecer nisso, ela não queria viver, desejava fugir, então porque não devolvê-la ao seu noivo de Tang? Ele a trataria bem melhor, quem sabe ela não seria feliz?

E se ele abrisse mão dessa situação cujo ele a colocou, talvez Xue pudesse o perdoar um dia? Quando ela estivesse longe o suficiente para não lembrar-se do fatídico dia que tiveram que se conhecer...

Qi Liang parecia inerente ao assunto, dando um passo para trás, ele estava caindo novamente em todos seus pensamentos ruins, afogando-se em culpa, mas por fora, ele parecia ser esculpido como gelo, olhando fixamente para Jin.

— Faça o que preferir, majestade — sua postura havia mudado em segundos, Jin sentiu-se neutralizado, Qi Liang não cedeu facilmente, não poderia mostrar franqueza.

Um silêncio pairou entre todos no ambiente, alguns pontos ficam claros, Jin Zhen era contra o futuro reinado de Qi Liang, talvez por inveja, ambos eram nobres que herdariam títulos absolutos e importantes, um teria uma fortuna e o outro seria o regente de uma nação. A rivalidade era grande, mas Liang estava familiarizado com esse tipo de provocação, já que seus outros irmãos também cobiçavam seu poder e influência.

— Solicito que a reunião pare por aqui, estamos conversados, todos estão à postos. A garota tem um destino traçado, espero que seja mesmo valiosa a ponto de ser quem irá trazer paz, porque Tang não veio salvá-la antes. E sua alteza, se me permite dizer, não se leve por anseios. A imprudência é inimiga do sucesso, e que eu me recorde, o antigo general morreu na guerra que o senhor iniciou contra os Ming! Não me decepcione novamente. — Deixando bem claro que o apoio dele estava em jogo, Sun Shin tomou um rumo para fora da sala cheia de homens importantes.

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