A princesa Ming despertou assustada se deparando com sua mais fiel criada, a expressão de preocupação dela e a dor latejante em sua cabeça a fez perceber que nada daquilo fora um sonho.
— Eu fiquei preocupada com você, estava apagada faz um tempinho, pensei que iria me deixar... — A menina lamenta sobre o lençol de Xue e ela acaricia sua cabeça, com uma expressão triste em sua face, decepcionada com o rumo que teve sua vida nas últimas horas.
Entrando pela porta da cabana, uma senhora com vestes rosa claro de corpo arredondado, pigarreia para que elas notem sua presença. Presunçosa, faz um bico com os lábios e declara:
— Deixem de dramas e façam seus trabalhos, caso não queiram uma boa punição. E você — aponta para a princesa — sua preguiçosa, se fingindo de doente! Irá ficar com o banheiro e o chiqueiro de porcos para limpar!
Sombria, a jovem apenas ignorou aquilo com um olhar amargo. Estava zonza devido ao esgotamento emocional que teve, Hanluang a ajudou e disse:
— Senhora, não se esforce muito, eu irei fazer tudo em seu lugar.
Xue Ming-Yue ainda que tivesse com um gosto amargo em seus lábios aceitou de bom grado no fim, afinal não seria os filhos a pagar pelos erros dos pais? O príncipe herdeiro de Zhao condenou a sua vida e agora de princesa fora rebaixada para uma criada qualquer, sem dotes, terras ou títulos, não havia nada além de Hanluang. Ela suspirou e respondeu a sua ex-serva:
— Luang... Ela pediu a mim, escute, não sabemos como as pessoas aqui são, podemos ser sabotadas e o príncipe parece não se importar caso sejamos torturadas... — Lembrava-se do olhar denso e frio do príncipe Liang, seu corpo todo estremece — Hunf, aquele..! Ele me jogou numa cova de leões, não tenho mais poder aquisitivo como antes para te proteger.
— Senhora, não subestime seu charme! Não há nada que Meilin, aquela senhora possa fazer, ninguém iria te punir severamente, o príncipe herdeiro deixou explícito que não devem tentar contra sua vida porque você merece viver! - Ela disse esperançosa e Ming-Yue sorri um pouco, achando graça, chega a pensar em como aquele homem é cretino porque só por ela ter pedido para que ele a mate, e ele resolve fazer esse alarde para a manter sã e viva, isso pode soar muito errado para todos os outros criados... A vida dela agora não vale mais que a deles, mas ele insistia em ressaltar isso.
— Muitos pensam que você é favorecida aqui, mas pense pelo lado bom, você teve a segunda chance de recomeçar mesmo que de forma mais simples... Olhe pra você, é perfeita, pode achar um homem gentil que te salve dessa situação.
Xue Ming-Yue sabia seu valor, porque que precisaria de um homem para salvá-la? A jovem também pensou também no fato de muitos interpretarem que ela poderia ser um caso romântico do príncipe, porém porque ele a deixaria como criada, se fosse alguém importante para ele? Talvez seja uma vingança dele!
As pessoas falam muito sobre os arredores, isso não intimida ela, fofoca é o que mantém os empregados integrados à rotina de seus mestres, como se fossem motivados a cuidar da vida alheia, cujo a qual sonham em ter. E estava longe dos boatos serem reais, o príncipe herdeiro a odiava e amaldiçoava toda sua família, e talvez houvesse uma única razão para ele ter a salvado: as relíquias escondidas pelos seus ancestrais mais antigos.
O poder monetário sempre resultou em poder, e assim ele teria mais tropas, terras e conforto para derrotar inimigos, já que as terras Ming se tornaram dele agora que ela foi derrotada.
Refletindo sobre tudo isso, ela conclui que seria difícil achar um homem que a amasse a ponto de libertá-la da vida de escrava, não apenas isso, ele deveria ser mais imponente que aquele desprezível príncipe, isso é apenas o imperador ou alguém que o imperador preze muito. Resumindo: zero chances da situação atual mudar.
— Alguém mais poderoso que o príncipe herdeiro, só o imperador ou generais, como poderia fugir disso? Porque eles teriam interesse numa escrava?
— Porque você é a princesa guerreira de Ming. Apenas isso para que se torne interessante aos olhos deles.
— Luang... Não sonhe demais! — A jovem resmunga numa expressão entediada e a outra ri de sua careta.
De sobrancelhas juntas, arrastava-se pelo solo até a porta com a ajuda de Hanluang, do lado de fora avistou o quão imensa era a mansão que pertencia ao tirano príncipe herdeiro, árvores bonsais, flores de ameixa rosa e lindos pessegueiros tornavam o jardim da mansão um lugar pacifico próximo a algumas montanhas, o palácio de Qi Liang era repleto de colunas vermelhas e um telhado dourado, uma ponte ligava a mansão com os arredores do palácio de sua majestade e um canal para o lago. Um lago muito bonito e rodeado de gramas, havia também um conjunto de flores, só alguém muito sensível iria cultivar belas folhagens e raras pétalas...
— Eles realmente são bons cultivadores aqui.
— Não é de admirar que as pessoas aqui sejam metidas, gostam de exibir quase tudo. Enquanto a senhorita estava adormecida, o príncipe Liang pediu para que eu avisasse você que ele estaria de olho em suas ações, pediu para que você não tentasse fugir ou criar tumultos indesejáveis, também para falar com ele, só quando houver solicitação... — Hanluang solta e Xue Ming Yue desconfia no mesmo instante, um de seus olhos diminuem.
— Não posso nem acreditar! Ele se acha superior a mim, apenas porque... E até parece que eu iria querer falar com ele... Ele pode esperar morto, jamais vou ter essas intenções, quanto mais longe de mim, melhor! — Uma leve carranca surge em seu rosto, e ela olha severamente em direção a sua ex-serva, e logo cruza seus braços, Haluang sorri sem graça e para aconselhar sua princesa toca seu braço demonstrando respeito.
— Acredito que sua alteza apenas quisesse a provocar, vejo que há muito mais em suas intenções do que ele revela... Talvez ele tenha um jeito sútil de mostrar misericórdia.
— Eu não acredito que seja isso, os tesouros nacionais de Ming estão ocultos, talvez essa seja a real intenção dele...
"Ele me quer viva, para se apossar dos tesouros dos meus ancestrais" Ming Yue estava cegamente certa disso, caminhando devagar até o grande chiqueiro de porcos com sua amiga, ela aperta o punho tendo grandes convicções e travando um objetivo de fugir assim que tiver a oportunidade, afinal todos seus dotes marciais não foram em vão... Ainda que tenha falhado na guerra.
— Depois dele ter o que ele quer, vai me matar... É aí que devemos fugir, ou eu morrerei tentando! - Concluiu, e então olha para Haluang que parece perdida, Ming-Yue reflete em como seria egoísta se matar e deixar Hanluang lidar com tudo sozinha num lugar tão sórdido.
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Em seu particular lugar, Qi Liang estava a escrever num papel seus próximos passos, seu irmão tinha razão, ele se vingaria da "dinastia Ming" e ainda poderia ganhar mais poder em cima de novas terras, a chacina de soldados fez com que perdesse muitos homens, poderia ser ruim, no entanto ele não queria se importar mais, sabia que os cidadãos de Ming ganharam tempo para fugir e os que ali sobreviveram permanceram de criados assim como a princesa deles, a moça de olhos negros e intensos que fulminaram até mesmo sua alma... Como que ele pode ter poupado uma descendente e pura Ming?
Passa as mãos pelos cabelos, intrigado...
— Vossa alteza real, o seu chá verde fresco... — Na tentativa de conquistar novamente o coração de Qi Liang, a moça recatada adentra no escritório do príncipe, sua túnica era clara destacando a cor suave do laranja, já o vestido hafu antigo era um límpido azul bebê. O rapaz nem sequer ergueu seu olhar dos papéis, porém aquela cujo estava com a bandeja em mãos continuava com um olhar dócil, seus lábios estavam rosados por conta da maquiagem antiga de frutas e sua franja curta depostas sobre sua sobrancelha tornava sua aparência harmoniosa, grandes flores enfeitavam sua cabeleira negra e sedosa, se inclina para colocar sobre a mesa. Ela era sua concubina Xi-Wang, a filha do primeiro-ministro Dorgon, cujo a qual não via a tempos, depois que estava de viagens e guerras. Não chegou a tocá-la novamente depois da noite de núpcias, não porque não a achava atraente o suficiente ou havia se cansado dela... Mas talvez por ser cheia de cinismo, já que ela resolveu acender um incenso afrodisíaco naquele momento e arremessou seu corpo sobre o dele.
O príncipe Liang era detalhista, talvez estivesse incomodado com o fato dela entrar sem ser anunciada em seu escritório ou de colocar chá sobre a mesa tendo o risco de molhar suas conotações importantes... Ou talvez por ela ser presunçosa já que seu pai havia forçado esse casório, ou por ela sempre se gabar de seu casamento como se ela fosse a princesa da coroa do reino de Zhao, coisa que ela não seria. Isso era um ponto muito claro em sua mente conturbada.
Ele toca a testa na tentativa de relaxar para não criar intrigas desnecessárias com a sua concubina.
— Xi-Wang, você recebeu minha última carta? — Ele pergunta ainda relendo todas aquelas grandes quantidades de papéis sobre sua mesa.
— Er, recebi. Precisamos falar sobre isso... Na verdade, já fazem três meses, Qi, porque não veio me visitar novamente? Tudo parecia tão certo. Não consigo entender.
— Estava pensando como eu tinha perdido o controle com uma pessoa que não conhecia, até meu guarda observar que havia um incenso afrodisíaco lá. Ainda não pode entender? — Seu olhar frio sobe ameaçando os dela, ela treme e curva a cabeça, ambos sabiam exatamente qual o verdadeiro problema, ela o drogou para que ele tivesse uma noite com ela e Qi Liang não parece ter apreciado essa atitude. Porque foi sem seu consentimento, como ela pode colocá-lo numa posição vulnerável? Ela teve sorte de ter sido poupada.
A coitada ficou com olhos marejados "porque seria errado se você é o meu marido?!" Como ela queria lhe dizer o que pensa, contudo não poderia ultrapassar a linha, então apenas se contentou em chorar e lamentar, assim ele pudesse sentir pena de sua dor. Afinal ele era um príncipe e justamente o herdeiro numa época de 200 a 500 anos antes de Cristo, um tempo onde ter herdeiros e muitas mulheres era sinônimo de poder. Mas Qi Liang estava focado em sua vingança esse tempo todo, e diferente dos outros príncipes que atingiram a maioridade ele só se casou com uma, que nem era tida como esposa e sim concubina que significava o mesmo que uma amante assumida e respeitada.
— Sua alteza real, por favor, me perdoe! Tudo que sempre quis foi te agradar, eu preciso de você, não há nada que eu não faça sem ao menos pensar que esqueceu-se aquilo...
Ele fecha os olhos tentando não demonstrar seus verdadeiros sentimentos, como ninguém Qi Liang mal se lembrava daquela noite, mas nada daquilo aconteceu com seu consentimento, esse casamento não passava de política. Ele suspira — Xi-Wang... — ela congela diante da mesa dele, toda estática observando-o se levantar , o rapaz continua com um semblante rígido, mas puxa o queixo dela para cima assim que ficou cabisbaixa — se não tivesse me drogado naquele dia, eu não iria trocá-la tão brevemente, pra ser sincero, eu nunca iria ultrapassar essa linha. Não tenho sentimento algum por você.
O coração dela se partiu mais uma vez, Xi-Wang quase perdeu o ar.
Os braços dela encostaram nos ombros dele, depois da morte de sua mãe ele sequer queria saber de amor, se surpreende quando seu corpo é abraçado pela curvatura baixa de Xi-Wang.
— Eu iria te amar mesmo que nunca me olhasse novamente... — Ela sussurra deixando mais lágrimas caírem sobre a túnica azul do príncipe.
Qi Liang prefere não dizer mais nada, a fim de evitar futuros conflitos, já que ela poderia desabafar a sua tia, que era a Concubina Chefe Imperial de Zhao.
Xi-Wang convivia com essa indiferença mesmo não podendo entender onde exatamente teria que errado quando lhe ofereceu sua pureza, ainda que não tivesse manchado o lençol de sangue, o príncipe mostrou uma parte de si gentil, amável e muito sensível naquela noite, o seu toque e seus lábios revigoraram todas expectativas dela sobre o amor, porém pela manhã, ele já parecia distante, desculpando-se sabe lá o porquê! Qi Liang não queria ser como seu pai, o imperador Zhao e então deitou-se com uma mulher, mas não se lembrava exatamente se ambos queriam, por isso a culpa e o frieza para com Xi-Wang. Fora que ela usou o corpo dele só para poder tentar ter filhos e subjugá-lo mais tarde...
Atualmente, se sente completamente insensível com os sentimentos dela. Ela deveria ser a esposa principal para ser a verdadeira princesa da coroa. Felizmente para o povo, o príncipe Liang desejava alguém com pulso firme para administrar o palácio e todas as mulheres importantes do reino, isso incluía as concubinas... Quem sabe se isso seria uma prioridade para ele, mas viveria com isso para o resto da vida, afinal Xi-Wang conspirou para o casamento... Jamais seria uma esposa principal, muito menos a princesa herdeira.
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Atualizado até capítulo 167
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