Capítulo 10

Diante de uma chuva em pleno verão, o príncipe herdeiro Liang estava aguardando indo por novas informações de forma presunçosa, o espião se levanta após ficar de joelhos. Ele olha fixamente a sua alteza e declara:

— Xue Ming-Yue está roubando comida dos aposentos de Meilin, ela... Não parece uma garota normal, ela é ágil como uma lebre e assim que notou minha presença, fez uma armadilha de melaço no caminho de volta para que eu caísse...— Yu Cheng era hesitante diante do olhar de seu mestre, dizia tudo com um leve desespero, afinal uma mulher foi mais rápida e esperta que ele que treinou a vida toda para proteger Qi Liang como um guarda fiel.

— Ora... — Ele parecia intrigado, afrouxou um riso rouco, essa mulher era realmente ávida e esperta. Percebendo as mãos feridas de seu soldado, questiona: — está ferido?

— Foi um arranhão, eu escorreguei na calha de uma das mansões, mas me segurei firme.

— Seja mais cuidadoso da próxima vez.

— Sim, alteza. Não pude deixar passar, mesmo sendo atingido... Eu a segui de volta, porque não sabia que era realmente a princesa Ming, ou se era alguém que se parecesse muito com ela... Então, quando ela colocou o saco de comida sobre a mesa e tirou a máscara tive certeza! Ela havia dito também disse ser de uma seita chamada Escarlate.

— Como? — Ele se levantou em choque, como poderia ser? Era a mesma seita que sua mãe pertencia, todos os manuscritos de estilos de luta e golpes... A antiga imperatriz confiava na Seita Escarlate com sua própria vida, como poderia Xue Ming Yue pertencer a esse grupo também? Eles não tinham desaparecido após o reinado do rei de Ming? Mas não era o imperador que havia dito que Ming era inimigo?

— As duas criadas mencionaram que era perigoso que o senhor soubesse, ambas estariam em apuros. Não entendo porque, já que o senhor respeita a Seita Escarlate e eles jamais invadiram nosso império a respeito de sua mãe.

— Será que elas não sabiam sobre minha mãe? — Ele reflete porém as peças não se encaixam, o único que poderia esclarecer tudo seria o imperador.

— Não poderia ser, ela não teria apoio militar na guerra se a Seita Escarlate estivesse de pé?

— Meu pai garantiu que não continuassem com a Seita depois que fizeram a minha mãe, contudo tudo que estou vendo são pontos soltos... A Seita Escarlate era aliada, mas ele disse que a culpa era de Ming. Então porque a princesa Ming seria parte dela? Isso me parece um mal-entendido, e eu não gosto disso.

Sem perder tempo, Qi Liang resolve visitar seu pai para saber mais a fundo essa história.

A princesa Ming-Yue estava sentada na grama de frente ao rio, assim que teve sua pausa inadequada, após um banho escaldante relaxou finalmente na paisagem de tantas flores. O silêncio a fez fechar os olhos e deixar a brisa secar seus cabelos úmidos, atrás dela Hu Ning hesitou em incomodá-la porém ele gostava tanto de a observar, não se importaria se sua esposa Niu fizesse uma pintura dela para ele de presente, pois assim estaria sempre a observar mesmo que Xue Ming não o pertencesse.

— Quem está aí? — A jovem questiona ao vento, não fazendo ideia de quem estava a espionando, mas sabia que havia alguém por trás dela.

— Sou eu...

Ela se vira e seu olhar delicado se ilumina, seus sobrecílios se erguem em surpresa — quarto príncipe? O que faz aqui?

— Se importaria se eu me sentasse aqui, ao seu lado? — Ele pergunta e Xue sorri com sua modéstia, afinal que príncipe pede permissão a uma criada?

— Sente-se, mas acho que estou proibida de ver a vossa alteza — desatou a rir sem jeito, ambos sabiam que foi implicância de Qi Liang proibir ela de falar com Hu Ning.

Ela dá de ombros, ainda olhando em direção ao rio, o som das águas jorrando era o único som predominante entre os dois. Hu Ning não saberia ao certo o que dizer a moça, e ela não estava com vontade de conversar, apenas queria descansar.

— Ninguém poderia te punir — adverte e ela sorri calorosamente, o quarto príncipe continua — e espero que você se alimente melhor daqui em diante...— e sobre a alimentação que ele mencionou, a deixou levemente preocupada por ter roubado alguns pratos ontem, seus olhos se esbugalharam em arrependimento, ele descobriu?

— Como?

— Soubemos que você não estava se alimentando bem, eu e o príncipe da coroa — Ning demonstra sua preocupação, e ela quase não acreditou que eles poderiam realmente se importar com isso.

— Uau! Eu agradeço muito por isso, príncipe Ning! — Sua bochechas coram de felicidade e ela oferece um riso alegre em direção ao rapaz, era inevitável, a presença dele despertava muitos sorrisos nela — isso é chocante, pois achei que seu irmão não pudesse resolver nada relacionado a mim. E, que importância eu teria agora, para que vocês se incomodassem?

— Você está enganada... Você é uma pessoa corajosa e importante, princesa. Sobre meu irmão, bem, sabe é uma pessoa boa. Qi Liang sempre foi o mais chorão dentre os príncipes, eu lembro, era o que mais apanhava também! Mas, depois que perdeu a mãe... — Ele suspira com compaixão olhando ao horizonte — ele simplesmente parecia ter morrido com ela.

Ela engole a seco, isso surpreendentemente golpeou seu coração. A moça curvou suas sobrancelhas — isso não seria justificável... Ele nem tentou superar isso, quanto tempo a antiga imperatriz teria morrido para que ele passasse a vida preso a uma vingança?

— Já faz algum tempo, éramos meninos quando tivemos que usar aqueles roupões brancos de luto, acender incenso e orar para que ela tivesse uma boa passagem ao mundo dos mortos... Meu irmão nem sequer chorou, eu achei que ele seria o que mais fosse chorar, mas Qi Liang não deixou nenhuma lágrima cair por ela. Então, tempos depois, o imperador o escolheu como o príncipe herdeiro de Zhao, ele iria ser o futuro imperador! O fardo de Liang era supostamente pesado para se carregar, ele apanhava muito mais para ter disciplina de um governante e vivia preso à livros, apenas quando Sue aparecia que eu o via no pátio para brincar.

— Isso é tão triste! — O coração de Xue amoleceu-se só de pensar em como Qi Liang tinha um passado doente e frágil — mas como eu poderia purifica-lo de seus erros? Ele tirou tudo de mim! Ming caiu em ruínas, eu não consegui fazer nada! — Ela lamenta de olhos marejados, sua voz torna-se embargada — se ele não queria nada de nós, então porque condenou a todos?! Como eu poderia não odiá-lo? Não importa se ele seja apenas um bebê chorão!

As mãos de Ning tocam as dela, tudo que o rapaz queria é consolar o coração partido da moça, dizendo-lhe:

— Quando você é criado para governar, sua fraqueza nunca deve vir à tona. Ele não é invulnerável, quando ele a salvou, não hesitou, mas ainda pensa se essa teria sido a melhor decisão... Foi imprudente, seguiu o coração dele, sabendo que não deveria sequer deixar os Mings vivos, e você está aqui! O imperador Zhao foi claro quando concordou que ele invadisse suas terras, só não estivesse previsto que seus pais seriam mortos antes que ele chegasse até lá.

Ela suspira.

O suicídio dos pais dela seria uma outra história, pensar em quão covarde foi seu pai, ela teve de aguentar tudo nas mãos, cada pessoa que teve a casa invadida e às tropas de homens que tiveram seu fim... Xue reprime o soluço controlando seus pensamentos, ela não iria desabar novamente.

— Ele falhou em matá-los, falhou em me deixar viva pra sofrer isso! — Ela fraqueja e ele junta as sobrancelhas totalmente rendido ao sofrimento dela.

Dessa vez, Ning se entristece olhando diretamente para Xue, ele toca seu cabelo sem achar palavras certas para consola-la, passivo observou as lágrimas recaírem quentes sobre o rosto pálido dela. O seu único desejo era que um dia todos os últimos acontecimentos fossem esquecidos, mas sabia que a princesa teria um longo caminho para superar o luto em seu coração. Hu Ning estava mesmo tocado, e não era só a aparência dela... Alguma coisa em Xue mexia com todo o seu ser. Estaria sempre disposto a mostrar-lhe o quanto o amor poderia lhe oferecer e curar suas feridas...

— Vossa alteza real, quem sabe um dia eu possa perdoa-lo e seguir em frente? Até quando meu coração vai carregar esse ódio?

— Quando você puder entendê-lo, e deixar ir... Não será mais escrava de seu rancor.

— Hu Ning, vossa alteza é muito gentil! Eu não queria incomoda-lo com isso... — Ela o chamou pelo primeiro nome, algo que só alguém muito íntimo naquela época poderia chamar-se, ainda mais quando aquele era um príncipe, filho do imperador. Ela não se importou, pois aquele tinha um coração gentil e não merecia ser destratado, muito menos desmerecido. Isto é, em uma terra desconhecida achar algo em que se reconfortar, era aconchegante.

Ali atrás deles, uma sombra dentre as árvores os observava, era uma criada vinda da primeira esposa de Ning, seria questão de tempo para que fofocas se espalhassem dentre o império, diziam que Xue estaria usando o quarto príncipe para fugir da função de empregada que lhe foi dada.