Capítulo 5

Iga em frente.

A claridade no quarto é insuportável meus olhos ardem, sinto como se tivesse sido atropelada por um carro, todo o meu corpo estava dolorido e ainda sentia um gosto estranho na boca.

Amargo! Num piscar de olhos vejo mamãe deitada no chão desacordada e o papai.

_Papai! - Ai que sensação horrível. - Eu tentava entender porque alguem faria um coisa dessas, o meu mundo está desmoronando bem na frente dos meus olhos, será que de agora em diante seria sempre assim nada de bom aconteceria ?

_Ai meu Deus, que pesadelo. Que dor de cabeça, tem alguém aí? - Falo olhando em direção a porta que está entre aberta.

Alguém se aproxima. À é a Lucy. Graças a Deus ela está bem!

_ Cadê a mamãe?

Ela faz um sinal com a cabeça indicando a sala.

_ E a Isa ou o Cris?

Ela balança os ombros querendo dizer que não sabe.

_ Você não está muito falante hoje. O que foi?

_ Papai foi embora! -Disse com os olhinhos marejados. Caindo com braços abertos em cima de mim.

_ Ele disse que nunca iria deixar a gente, mais deixou! Por quê? Por quê? -Continuou a pequena.

_ Meu amor calma! Ele nunca deixaria você! Ele não teve escolha. Papai fez tudo que pode para manter a gente em segurança, mas tem muita gente ruim por aí!

O que dizer para uma menina de cinco anos que acabou de perder o pai? Isso foi o melhor que pude fazer naquele momento. Eu mesma estava anestesiada com o que tinha acontecido. Respirei fundo peguei Lucy no colo e desci a procura de alguém.

_ Que bom que você acordou!

_Lucy vc pode subir e fazer um desenho bem bonito para animar a mamãe? - Isa fala enquanto me entrega uma xícara de café. Despachando-a da cozinha.

_ Cadê a mamãe?- pergunto.

_ Tá sentada lá na sala com cara de paisagem!

_ Meu Deus Isa dá um tempo! - Fico chocada com a insensibilidade dela.

_ Nem quando uma coisa horrível como essa acontece, você não para, nem assim?

_ Não, eu não posso parar! Eu tive que ficar limpando essa droga de cozinha ensangüentada até quebrar todas as unhas, esfregando e fazendo tudo a noite pra não assustar a nossa irmã enquanto você dormia a noite inteira!

Fico pasma.

_Sinto muito, queria ter ajudado, e não deixar você fazer tudo sozinha. Sinto muito mesmo!

_Há... Para com essa perda tempo. Mamãe não fala nada, nem come, fica parada olhando pro nada nem me deixou limpar o ferimento dela. Caramba! O que a gente vai fazer?

_Não faço a menor idéia! Cadê o Cris?

_Aquele irresponsável! Nem me fale dele sou capaz de matá-lo

Com minhas próprias mãos se eu o encontrar!

_Por quê?

_Não é obvio?

_Ele te disse alguma coisa?

_Só que ia atrás do cara que tinha...que tinha... Você sabe feito aquilo.

Isa mexia na caneca com uma expressão desolada, tudo aquilo era demais até para ela, nem conseguindo falar que papai tinha morrido, do jeito dela estava sofrendo.Todas nos estávamos! Mas e agora? Quatro mulheres sozinhas sem nem um homem por perto para nos ajudar.

_ Nós podemos cuidar de nós mesmas! - Isa fala sem me encarar como se tivesse ouvido meus pensamentos.

_Afinal pra que serviram todas aquelas horas de treinamentos maçantes, podemos fazer isso.A gente consegue.

Ela se levantou e foi em direção a sala onde mamãe estava.

Nossa mãe sempre foi uma mulher forte, ela tinha um gênio indomável sabe, totalmente diferente de mim. Isa e Cris sairam exatamente como ela, ver que ela estava abatida e calada, me fez sentir um aperto no peito. Mesmo assim eu não iria me juntar a ela naquele luto silencioso , eu não tinha essa opção.

Todo o trabalho duro agora teria que ser feito por nós , e sinceramente cortar lenha e cuidar do trabalho do cris e papai não seria nada fácil.

_ A gente tava muito ferrada. - Isa comenta enquanto se senta em frente a nosso mãe.

Dias longos, noites curtas e uma carga extra de fazer qualquer um entrar em desespero, o que por um lado foi bom .Por causa disso não enlouqueci, ficar ocupada e cansada me mantinha lúcida.

Definitivamente eu não tinha tempo pra pensar em mais nada além dos meus afazeres.

O dia começou como todos os outros eu me levantei, acordei Isa e desci pra acender o fogo.

Minha mãe parecia inquieta passando de um lado para outro com alguns papéis nas mãos.

_Oi mãe , tá tudo bem?

_A querida sim está. -Ela sorri estranhamente pra mim.

_Então tá , eu to indo fazer o café, quer vir comigo?

_Não, vai indo que estou ocupada.

Achei estranho mais pelo menos ela não tava como uma assombração como nos últimos dias vagando em silêncio pelos cantos da casa.

Continuei a fazer o meu trabalho até Isa se juntar a mim no quintal depois de algum tempo.

O dia estava frio e nós estavamos cortando lenha e tentando acabar o mais rápido possível e entrar, quando o grito de mamãe nos assustou.

_Já sei ! - Ela abre a porta nos chamando e volta para sala.

_Vocês vão para a fazenda do vovô! - ela fala empolgada.

_Mãe acho melhor a senhora se sentar um pouco! Fique calma. - Tento tranquilizá- la.

_ Não quero sentar! Vocês precisam prestar muita atenção no que eu vou falar!

_ Meu pai tem uma fazenda bem longe daqui, ele ficou furioso quando eu fugi para casar com o pai de vocês, ficou tão bravo que nunca mais me viu, por isso vocês não o conhecem, é uma viagem longa mais tenho certeza de que vão conseguir. Levem tudo de valor que encontrarem! Tudo ouviram?- Ela abre uma parte falsa no armário mostrando uma caixinha de madeira talhada a mão muito linda .

Abrindo para nós e revelando algumas jóias de família , anéis e colares delicados e discretos mais com um toque de Sofisticação. Bem a cara da minha mãe.

Olho para ela depois para Isa sem acreditar no que tava acontecendo.

_ Mãe não acho uma boa idéia sair daqui agora! E o Cris?

_ Temos que esperar até que ele volte!

_ E se ele não voltar? - Retruca Isa.

_ Tem que voltar! Pela mamãe, pela gente!

_Meninas parem, olha essas são as únicas coisas de valor que eu posso dar a vocês.Mais não podem se desfazer de tudo , está bem? São heranças de família, cada uma de pode pegar uma peça para guardar e o resto usem com cautela.

Passem para suas filhas no futuro.

Ela sorri e nos abraça. Ignorando totalmente nossa opinião falando sem parar durante os dias que se seguiram. Motivada e determinada a concluir o seu plano.

No começo eu fiquei bem preocupada mais depois de 2 dois eu achei até bom, porque ela passava os dias ocupada e focada nesse plano doido.

Já não andava em silêncio pelos cantos ou deitada na cama o dia inteiro.

E assim ela concluiu e traçou nosso curso, tínhamos que atravessar o oceano com pouca coisa e praticamente não tinhamos nada de valor, achei pouco provável que conseguiríamos. Mas mamãe era muito persuasiva.

_ Prometa!

_ Mãe!

_ Ande Sofia me prometa! Não me faça repetir.

_ Tudo bem eu prometo. Está satisfeita?

_ Agora estou! - mamãe sorri pra mim.

Não tive escolha concordei se não ela não ia me deixar em paz. Mamãe era uma mulher doce e meiga mais quando metia uma coisa na cabeça ninguém nem mesmo papai que tinha tanta paciência consegui fazê-la mudar de idéia. E agora ela despejava sobre mim essa bomba. Estava cheia de preocupação, sobrecarregada com o peso de tanta responsabilidade, além de cuidar das duas eu tinha que levá-las e entregá-las para o vovô .

_Droga!

_Filha, depois você pode seguir com a sua vida.

_Que vida! -Grita meu subconsciente.

_Depois que elas estiverem a salvo, saía por ai procure um bom homem, case-se, tenha filhos, seja feliz. Isso é tudo que uma mãe quer para as filhas. Você e maior de idade e pode fazer o que quiser seus avós não vão interferir. - Mamãe se vira e olha para Isa e Lucy.

_Já vocês duas vão ter que obedecer o vovô! E eu vou logo avisando ele é muito rígido. ele deve ter se arrependido amargamente de ter dado permissão pro seu pai e eu namorarmos. Ele é mandão e autoritário porém tem um grande coração nunca se esqueçam disso! - Ela por um instante suspira fundo.

Eu a conforto e ela logo muda de assunto começando a contar como teve uma infância incrivelmente divertida apesar de todo o esforço do vovô em tentar manter ela segura em casa.

As semanas passaram voando e aí num dia chuvoso mamãe não acordou mais, ela estava deitada na cama com um semblante tranquilo como se ainda fosse acordar e aquilo de certo modo me fez sentir paz, uma paz estranha como se eu soubesse que agora ela poderia estar com o papai e mais nada de ruim poderia acontecer.

Eu e Isa levamos ela para o lugar onde Cris enterrou papai não conseguimos cavar tão fundo quanto ele, além de não termos forças estávamos com medo de encontrar os restos mortais de papai. Por fim deixamos ela ali naquela vala úmida e fria.

Foi triste, mais nem Isa nem eu choramos, era estranho, como podia ser? Presenciamos todo sofrimento, vivemos com ele, mais não conseguíamos colocá-lo para fora.

_Vamos entrar não quero deixar a Lucy sozinha. - quero sair o mais rápido possível dali.

_Posso ficar mais um pouco? Quero orar por ela! - Isa continua olhando para aquele monte de terra.

_Claro. Só não demore muito. Está bem?

_ Os mortos não precisam de oração Sofia.

Ouço nitidamente a voz do meu pai na minha cabeça.

Vou em direção a casa deixando Isa só com um dente de leão nas mãos, ela precisava se despedir e eu sabia que talvez não ia ter outra chance. Antes de passar pela porta olho de relance e a vejo assoprar aquela flor e várias floquinhos brancos se espalharem com o vento.

Entrei em casa deixando-a sozinha. Aquele momento era dela eu não tinha o direito de atrapalhar com nenhuma das minhas frases prontas.

_Vai ficar tudo bem! Tudo vai dar certo! Não se preocupe! Eu já não aguentava mais. Que estupidez a minha. Será que não passou pela minha cabeça que às vezes as coisas não dão certo e pronto, sem nenhuma explicação, que temos que nos preparar para qualquer coisa não importando se forem coisas boas ou ruins. Como eu pude ser tão ingênua, para uma mulher da minha idade é até um pouco estúpido.

Apesar de todos os recentes acontecimento agora era hora de seguir em frente, não podíamos nos dar ao luxo de sentar e chorar. Tínhamos trabalho a fazer e agora mais do que nunca tínhamos que permanecer juntas e unidas, pelo nosso próprio bem.

Mais dias foram passando e quando percebemos que Cris não voltaria conseguimos terminar de organizar tudo para a nossa viagem, pegamos tudo de valor que tinha na casa exatamente como mamãe nos falou separamos os itens mais leves coisas fáceis de carregar e colocamos em nossas mochilas, e as mais pesadas em um carrinho de carregar compras que achamos nos fundos da cozinha,depois escondemos tudo atrás do celeiro.

Era nosso esconderijo caso acontecesse alguma coisa e a gente tivesse que sair as pressas de casa? Além disso, e se alguém invadisse a casa e roubasse tudo? Ficaríamos sem nada e aqueles poucos objetos eram tudo o que tínhamos.

Não podíamos perder mais nada!

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Comments

Yamagutte Maria

Yamagutte Maria

Eu não sei se está é a primeiro livro li o outro O vazio que a em mim acho que é isso ótima história

2024-01-09

1

Lucimari

Lucimari

Nossa que suspense

2023-09-11

1

Ver todos

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