Capítulo 18

Gabriela

Eu estava diante do túmulo que deveria ser o meu, lá estavam minha data de nascimento e a suposta data de morte embaixo do meu nome. No entanto, a pessoa ali naquela gaveta não era eu e também, não estaria lá, se eu não tivesse tentado tirar a minha vida.

___ Encontrei você\, Rafaela!

Ouvi a voz da mãe da Rafaela e me virei lentamente, até vê-la.

“ Porque ela veio até aqui? Isso só faz eu me sentir pior ainda.”

Não consegui dizer nada.

___ Vamos para casa.

Ela me puxou pela mão, mas eu não saí do lugar.

___ Rafaela?

Uma lágrima escorreu por um de meus olhos.

___ Você é a Rafaela\, não é? Você é a minha filha!

Balancei a cabeça em negação.

___ Para com isso\, Rafaela!

Começou a me bater nos braços.

___ Para com isso! Pare de brincar assim!

Ela começou a chorar também e deslizou até o chão, caindo sobre meus pés.

___ Não pode ser! A minha fila está viva! Minha Rafaela não morreu!

Falou aos prantos, enquanto olhava para o nome escrito no túmulo.

Me agachei, abraçando-a, numa tentativa de consolá-la.

___ Eu sinto muito!

Foi tudo o que consegui dizer em meio às lágrimas, meu peito doía de tanto chorar e parecia que eu estava sufocando.

___ MINHA FILHA! A MINHA FILHINHA!

Os berros dela tornavam a situação ainda mais difícil e dolorosa, eu me sentia a pior pessoa do mundo.

****

Estávamos no carro e eu não conseguia evitar me sentir desconfortável, embora ela segurasse minha mão.

___ Você deve ter vivido uma vida tão difícil\, para ter tomado uma decisão como essa! Tinha dois empregos\, mesmo ainda sendo tão jovem e ainda por cima sofria bullying.

Assenti.

___ Pode me ligar sempre que precisar de algo\, está bem?

___ Sim.___ Forcei um sorriso.___ Eu tenho que ir agora.

O carro estava estacionado em frente à casa do amor. Embora eu tivesse aberto a porta e colocado o pé para fora, eu não conseguia levantar e sair. Ela também parecia não querer que eu fosse embora dali, provavelmente por causa da minha aparência.

___Tchau\, desejo sucesso a você\, em toda a sua vida.

___ Não foi minha intenção\, mas… ___ Comecei.___ Eu sinto muito por tudo.

___ A culpa não foi sua\, não pense mais nisso!

Forcei um sorriso e saí.

___ Tchau\, obrigada por tudo.

Comecei a caminhar em frente ao abrigo, cada passo ficava mais pesado que outro.

___ Espera!

Márcia veio correndo e me abraçou.

___ Você não quer esquecer essa vida? Não quer ter uma chance de recomeçar do zero? Volte comigo por favor\, sei que parece egoísta eu pedir isso\, mas você pode continuar vivendo como Rafaela? Se você não vier comigo\, não sei o que farei da minha vida.

“O que eu faço?”

“Seria juso fazer isso? Seria certo?”

Olhei para seu rosto tenso, por cima de meu ombro.

“Ela perdeu sua filha, por minha causa…”

“ Isso é o mínimo que eu posso fazer.”

“ Não tenho nada a perder mesmo, Gabriela da Silva se matou, é o que todos sabem.”

___ Está bem!___ Confirmei com a cabeça.___ Eu serei sua filha.

Um sorriso surgiu em seu rosto.

___ Certo… Vamos para casa então\, Rafaela!

Quando voltamos para casa, já eram quase 18:00 horas.

___ Você ainda não jantou\, não é? Farei alguma coisa na cozinha!___ Falei\, pegando o avental.

___ Espera!___ O tom da frase me deixou assustada.___ Você ainda não jantou\, mãe? Não esqueça nada mudou!

___ Desculpa\, mãe.

___ Agora sim!

Viver daquela forma, seria mais difícil do que pensei.

Fui para a cozinha e fiz um risoto.

___ Essa é minha especialidade\, espero que goste!

___ Vamos ver o gosto da comida da minha filha.___ Ela falou\, enquanto pegava o garfo.___ Está uma delícia!

___ Obrigada...Mãe.

___ Porque você não vai tomar um banho? Está na rua desde cedo.

___ Ok.___ Assenti e saí.

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