Capítulo 9

Rafaela?

___ Deixa eu ver se entendi, você e eu somos melhores amigos de infância e nos conhecemos há 10 anos, é isso mesmo?

Ele assentiu.

Estávamos no meu quarto no hospital.

___ Exatamente, como foi esquecer isso, hein?

Dei de ombros.

___ Eu também não sei o que aconteceu, acordei na enfermaria de um hospital em Saquarema, tão confusa quanto você está agora.

___ Eu devia ter ido também, se estivesse por perto, talvez isso não tivesse acontecido.

Ele respirou fundo e encolheu os ombros.

___ Não se culpe!___ Toquei gentilmente seu ombro.___ Estou aqui, não estou?

___ Para com isso, está muito melosa, a Rafaela que eu conheço teria me batido.

___ Se é isso o que quer...___ Levantei a mão, o que o fez me segurar imediatamente.

___ Não se lembra de nada mesmo? Nem do que aconteceu aquela noite?

Ele estava tenso.

___ Como assim? O que houve?

Sua expressão mudou totalmente, agora ele estava com um sorriso malicioso.

___ Nós b....___ Vou deixar você completar.

___ Beijamos?___ Fiquei vermelha ao dizer. ____ Disse que éramos amigos!

___ Quê? Não, que nojo!____ Franziu o cenho.___ Nunca namoraria uma cabelo de ferrugem igual a você!

___ Quem desdenha quer comprar, viu?

Nós dois rimos.

___ Falando sério agora, o que houve naquela noite?

A tensão havia voltado.

___ Esquece! É melhor deixar isso pra lá! Eu vou indo, as meninas querem vir te ver também. Não posso gastar todo o horário de visitas.

Assenti.

___ Vai com cuidado, então.

Ele franziu as sobrancelhas.

___ Tem certeza de que é a Rafaela? Não é um clone substituto não?

Ri.

___ Bem, eu acho que sou, né.

Ele se despediu e saiu.

" O que teria acontecido na tal noite?

Não tive que esperar muito tempo para descobrir, já que as minhas amigas também foram me visitar.

___ Não acredito que você se esqueceu da gente! Isso é crueldade, Rafa!

___ Você é a Alessandra.___ Apontei para a loira.

___ Isso!___ Ela deu um sinal de positivo com o polegar.

___ E você a Melissa!

A descendente de orientais assentiu.

___ É bom que esteja de volta, mas eu nem posso perguntar o que aconteceu na última semana! ___ Alessandra protestou.

___ Me desculpe por isso.

Sorri.

___ Não liga pra ela não, é uma fofoqueira!___ Disse Melissa.

___ Ei, a Rafaela é quem está com amnésia não eu! Vou lembrar disso aí!

Comecei a rir.

___ Devemos nos divertir muito na escola!

___ Vamos mostrar a você o quanto, assim que voltar!___ Falou Alê.___ Aliás, tem alguma previsão de alta?

___ O médico disse que eu posso ir para casa amanhã.

As duas sorriram.

___ Que bom! Em breve estará de volta.

Mel bateu palmas animada.

___ Ei, vocês sabem se tem alguém da nossa turma internado aqui?

___ Sim, o Sandro. Aliás, encontramos ele vindo para cá. Ele me fez pagar um hambúrguer para nos dar informações sobre você!

Melissa parecia inconformada.

___ Pensei que a minha mãe tivesse falado.

___ Bem, ela disse que você tinha sido encontrada, mas não nos deu mais detalhes.

Assenti.

Lembrei de Sandro despencando do" balanço", ele tinha traços de pessoas do leste asiático, assim como Melissa.

___ Vocês são parentes, Melissa?

Ela franziu as sobrancelhas, notavelmente irritada.

___ Olha só! Nem todos os descendentes de orientais são iguais, ok? Além disso, a minha família é japonesa e a dele é lá da Coreia do Sul!

___ Ok, ok! Me desculpa, não tá mais aqui quem falou!___ Levantei as mãos em sinal de rendição.

___ Vai por mim, não vai querer se aproximar dele! Pode não lembrar agora, mas o Sandro Hwang é o verdadeiro garoto problema! Ele quase não vai à escola, para começo de conversa.___ Explicou Alessandra.

Levei à mão ao queixo, pensativa.

___ Ele parecia meio doido mesmo!

___ Ele é completamente maluco!___ Exclamou a descendente de japoneses.___ Tenho até um pouco de medo!

Nós três rimos.

****

Peguei a mala e fui com a minha mãe para o carro.

___ Já não aguentava mais ficar nesse hospital!___ Exclamei ao sair.

___ Quer ouvir música?___ Ela perguntou ao entrarmos no carro.

Assenti.

Mamãe ligou o rádio e imediatamente uma música MPB começou a tocar.

Observei novamente a paisagem pela janela do carro, aquilo nunca deixaria de ser novidade para mim.

___ Uau!___ Exclamei ao olhar o apartamento. ___ Já disse isso muitas vezes esses dias, mas é que eu não paro de me surpreender.

___ Bem, como você não lembra de nada, é como se fosse novidade. Vá ver o seu quarto!

Corri imediatamente para o quarto e me deparei com uma cidade feita de Lego.

___ Eu fiz isso?

___ Quando você tinha 11 anos, levamos uns 7 meses até montar tudo.

A cama tinha uma colcha preta, com vários dizeres na temática " Rock'in roll" e ao lado dela estava uma cômoda com alguns retratos e prêmios, também havia, perto da janela, uma penteadeira e na parede vários certificados.

___ Eu sou uma boa aluna pelo visto.

Mamãe riu.

___ Sempre é a primeira da turma.

___ Ah, olha só! Temos vários álbuns aqui!___ Disse pegando fotos de uma prateleira.

___ Essa é você, quando fomos para Gramado, estava tão frio aquele dia! Você tinha 8 anos.

Eu parecia uma mochila, já que usava vários casacos na foto.

___ Aqui é você, quando fomos a bienal em São Paulo e aqui quando fomos ao MASP.

___ Viajamos muito pelo visto, mas por que, não tem nenhuma foto de quando eu era bebê?

Ela deu um sorriso fraco.

___ Você vai se lembrar disso em breve, mas nosso primeiro encontro, foi quando você tinha 7 anos. Eu não te dei à luz, mas assim que nos vimos, soube que estávamos destinadas a ser mãe e filha.

Sorri também.

___ Eu devo ser a garota mais sortuda do mundo então!

___ Não, eu é que sou a mãe mais sortuda, por ter você como minha filha!

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