Mais uma vez, ela saiu sem me dá ouvidos

Saindo da faculdade fui almoçar em casa, por ser mais de meio-dia não valia a pena passar no escritório.

O meu pai e a Mariana estavam almoçando, comíamos em silêncio, eu, por outro lado estava pensando na Desiré, fui um tolo fiquei a centímetros de beijá-la e não o fiz.

Não sei o quanto estava distraído, Mariana tocou no meu braço chamando a minha atenção.

Mariana: Está com a cabeça nas nuvens, pensamento longe.

Joaquim: Desculpa gente do que falavam?

Olivier: Sentir você um pouco tenso na palestra, o que houve?

Joaquim: Nada não pai, muita coisa na cabeça.

Ele me encara como se não acreditasse nas palavras que saíram da minha boca.

Olivier: Sério? Eu poderia jurar que vi você encarando alguém na plateia.

Ele me pegou desprevenindo com as revelações que acabara de fazer, o suco desceu pelo lado errado, tossi a tentar dispensar o incomodo na minha garganta. 

Mariana: Está bem filho? Aqui bebe um pouco de água.

Mariana pega um copo com água e o passa para mim.

Joaquim: Nada a ver pai, o senhor tem cada ideia.

Olivier: Isso é experiencia, meu filho. O seu aniversário está chegando tem planos?

Joaquim: Ainda não sei pai.

Mariana: Porque não leva a Manuela para o litoral, tem praias lindas por lá, deveria aproveitar um pouco, viver e deixar o trabalho de lado.

Joaquim: Que ideia, Mariana, não posso me ausentar muito do trabalho, o pai precisa de mim.

Olivier: Não preciso, você só não quer levar a sua noiva para viajar, te conheço melhor do que ninguém rapaz.

Joaquim: Nossa pai, o senhor pensa o pior de mim.

Olivier: Suas atitudes com essa garota prova que estou certo, não entendo porque ainda está com ela.

Joaquim: É complicado.

Olivier: Você que complica.

Outro assunto surgiu e pude respirar tranquilo novamente, ou não, Cida chega na cozinha anunciando a chegada da Manuela, ficamos os três se olhando estranho, tenho certeza que compartilhávamos o mesmo pensamento. — "Será que ela nos ouviu?"

Manuela: Não precisa Cidinha, eu sou de casa. Boa tarde, família.

"Boa tarde!" — Respondemos simultaneamente. 

Manuela: Sogros, preciso falar com vocês, já que estamos aqui todos reunindo seria um ótimo momento falarmos sobre o casamento.

Ela vem até mim e me beija, cumprimenta os meus pais e senta ao meu lado, acho que teremos um almoço movimentado hoje, e lá se foi a paz.

Olivier: Não entendo como podemos ser útil sobre esse assunto.

Mariana: É Manuela, você sempre soube que na relação de vocês não costumamos interferir, essa deve ser uma decisão exclusiva dos dois.

Manuela: A não gente, sem essa, vocês sabem faz tempo que venho falando sobre isso e o filho de vocês dá um jeito de mudar de assunto. — Todas as minhas amigas estão de casamento marcado, sou a única da turma que está com esse casamento emperrado.

Joaquim: Manu, por favor, vamos comer em paz.

Manuela: Joaquim, é o melhor momento, sim, os seus pais não se importam. — Espera um minuto. — Cida.

A coitada da Cida aparece na sala de jantar ofegando.

Cida: Oi Manuela.

Manuela: Poderia me trazer um suco de graviola, batido na hora tá, acrescente dois cubinhos de gelo.

Cida: Trago, sim, mais algo?

Manuela: Não só isso mesmo.

Joaquim: Obrigado Cida.

Manuela: Então eu pensei num jantar para você refazer o pedido, não aguento mais ter que ficar dando desculpas aos meus pais. Quero ser mãe antes dos vinte e cinco anos, o tempo está passando.

Os meus pais se levantam da mesa nos pedindo licença, incrível como ela tem o poder de acabar com um simples almoço em família.

O meu pai dá um leve aperto no meu ombro. — Pega leve. — Sussurra ele ao meu ouvido.

Cida retorna deixando o suco da Manuela em cima da mesa.

Manuela: Às vezes sinto que eles me odeiam.

Joaquim: Não odeiam, Manu, você não pode chegar assim estragando o almoço dos outros.

Manuela: O que eu fiz de mais?

Joaquim: Sério mesmo.

Manuela: Não aguento mais essa situação.

Joaquim: Minha vida está muito corrida, tem a empresa, os projetos, a premiação de melhor empresário sênior que estou concorrendo. — Essa premiação é muito importante para a minha vida profissional, estou me dedicado muito a isso.

Manuela: Enquanto isso vou esperando você se realizar, e vou ficando para trás, quero viajar, aproveitar a vida e você só pensa em trabalho.

Joaquim: Já falamos sobre isso antes, você é herdeira dos seus pais, nunca teve que se preocupar com questões financeiras. 

Manuela: Do que você está falando, você é rico meu amor.

Joaquim: Eu não sou rico, a fortuna é do meu pai, se cheguei até aqui hoje, foi graças ao meu pai, e a minha perseverança de estudar e correr atrás dos meus sonhos.— Deus tem sido muito bondoso com a minha família, me desculpa Manuela se no momento não estamos compartilhando as mesmas experiências de vida acho melhor a gente…

— Tenho que ir, marquei de levar a minha mãe no ‘spa’. — Ela me interrompe, levanta da mesa e me sai.

— Estamos no meio de uma conversa aqui Manu, você não pode sair assim e me deixar falando sozinho.

— Mais uma vez você falhou.

Olhei para trás, o meu pai estava parado no batente da porta.

Joaquim: O senhor ouviu?

Olivier: Só o final da conversa. Você está encrencado. Vamos para a empresa, temos uma reunião com o pessoal de Angra.

Joaquim: Beleza, a apresentação está pronta, o senhor tem que dá uma olhada caso precise acrescentar algo.

Olivier: Não precisa, confio em você. Vamos, quero passar numa sorveteria, depois de um almoço fracassado preciso de uma sobremesa.

Joaquim: Boa, você que paga.

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