Capítulo 14. A Família

Lizandra

Ele continuou me olhando desconfiado, mas aceitou que eu continuasse.

— Sim, por favor, estou curioso e aflito, dessa história depende a aceitação da Alcateia. — explicou o Alfa.

— Essa história não fará anos de rejeição, desaparecerem. A Alcateia não me aceitará tão fácil assim, não se iluda. — expressei minha opinião, para que soubessem que estou preparada para o que vou enfrentar.

— Você está certa, mas ajudará bastante. — Argumentou ele.

— Será que pode continuar a contar o que descobriu, não estou gostando nada dessa história. — pediu Nestor, não contendo sua irritação.

— Está certo, continuando:

" Quando entrei naquela sala tão cheia de livros e papéis, fiquei confusa, não sabia por onde começar a pesquisar, até que vi o quadro de uma imensa árvore na parede.

Me aproximando, observei que, nos  galhos, haviam balõezinhos com nomes. Foi aí que eu soube o que era uma árvore genealógica e como eram dispostos os nomes de todos de uma mesma família, com parentescos definidos e datas exatas de nascimento e morte.

A partir disso, procurei pelo meu sobrenome Cavelik, mas não achei, continuei procurando e achei Cavelier, Nestor Cavelier, o nome do marido da minha mãe que me rejeitou como filha. — não resisti em lhe jogar isso na cara — Encontrei um caderno que tinha a disposição dos livros nas prateleiras, por assunto, procurei família e em família, procurei Cavelier.

Pronto!

Foi fácil? Não. Levei meses procurando e como precisava ajudar mamãe com as costuras, o tempo era escasso.

Mas achei!

— Você não fez isso, Nestor? — perguntou Derick.

— Não e não vejo como isso poderia mudar a situação. É só olhar para ela, para ver que jamais poderia ser minha filha. Tanto eu, como sua mãe, somos morenos. A Alcateia é toda morena, não sabemos de ninguém ruivo, nascido aqui. Como poderia ter uma filha com essa cor afrontosa. — Ouvir isso deeu próprio pai, foi terrivel e doloroso.

Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar.

Ele não merece a minha tristeza e nem o meu amor. Não sei como se sentirá sabendo a verdade, mas sei que não vai mudar todo o meu passado, então não vou esperar grandes sentimentos vindo dele e nem quero.

Vou viver a minha vida, daqui para frente, livre. Não vou mais me esconder, nem deixarei que me pisem e não é por causa do acasalamento com o Alfa e sim, porque eu mereço ser feliz.

Derick

Já estamos a um bom tempo escutando Lizandra contar sobre sua pesquisa, Nestor se acalmou um pouco e escutou, curioso, mas ainda descrente, querendo saber onde isso tudo ia dar.

Resolvi dar uma pausa para o almoço, afinal, minha fêmea está prenha, não vou sobrecarregá-la, mesmo porque, ainda estamos em lua de mel. Tomamos o café na hora do almoço e agora já é hora do lanche e vamos almoçar, quase que jantar.

Afonso, meu mordomo, já tinha feito sinal de que a mesa está posta e tudo está pronto para sermos servidos.

—  Vamos fazer uma pausa por aqui, para o almoço. Nestor, você é nosso convidado e não aceitatei recusa. Vamos amor, você precisa se alimentar muito bem, agora. — Segurei sua mão e ajudei-a a levantar.

Nestor nos olhou com a testa franzida e interrogativamente.

— A Luna está grávida? Vocês já tinham se acasalado antes? Ou ela se entregou a outro, igual a mãe dela? — perguntou, grosseiro.

— Não ouse ofender minha fêmea, eu sei muito bem que ela era pura. Ao contrário de você, reconheço a virgindade de uma fêmea e sim, ela está prenha, mas aínda é muito cedo para confirmar, por isso, peço que guarde a notícia para si. Vamos almoçar, antes que eu perca o apetite. — A paciência estava por um triz para acabar.

Seguimos para a sala de jantar e  sentei Lizandra em meu colo. Escolhi o que queria e Afonso colocou no prato. Lizandra sorria, amando aquele cuidado, pelo menos é o que parecia, mas a cara de Nestor é impagável.

Alimentei a minha fêmea como sempre sonhei fazer e não prestei atenção em mais nada. Aprendi os gostos dela e fiquei abismado por saber que ela não gosta muito de doces, só de mel e frutas.

O enjôo não voltou e fiquei feliz que estivesse bem e pudesse comer à vontade, ela precisava se alimentar bem. Thomas me avisou que não é apenas um. Ele se comunica mentalmente bem, com Rose e isso é uma maravilha.

Terminamos o almoço e só então prestei atenção em Nestor e o quanto ele ficou absorto em seus pensamentos, ao ver seu prato ciscado e quase intocado. Não tirava sua razão, toda aquela história era confusa demais para se entender, mas era necessário esclarecer, para não haver mais sofrimento indevido e com certeza, teria que ter a grande dose de perdão de todas as partes.

Narrador:

A cabeça de Nestor dava voltas, lembrava-se da noite do seu acasalamento com sua companheira, mãe de sua suposta filha. O fato dela ter ficado grávida de imediato e a criança ter nascido ruiva, eram fatos que traziam, em seu julgamento, a certeza que aquela menina não era sua filha.

Mas agora, ali estava o alfa, afirmando, pela convicção de mestre Túlio, o mais antigo da Alcateia, que sim, Lizandra é sua filha.  Perguntava-se: o que ela encontrou nos papéis da biblioteca? Teria que esperar para saber, pois para pegar a chave e fazer toda a pesquisa que ela fez, demoraria tempo demais e era justo o que não tinha.

E agora, ainda tinha isso, a gravidez dela. Justo no primeiro acasalamento, como foi com a mãe dela. E, se realmente ela é sua filhote, aquele filhote no ventre dela é seu neto. Esticou os lábios num pequeno sorriso.

Seria um alento para sua velhice. Mas talvez não tivesse muito direito a isso. Pois, se tudo isso for real, quão tolo ele foi, jogando fora sua felicidade e fazendo sofrer a quem mais amou e a quem não tinha culpa de nada, sua filhote.

Teria muito o que consertar e pedir perdão.

Mas por enquanto,  o melhor para ele, era esperar e entender bem tudo que está acontecendo, para não se precipitar. Quando a mãe de Lizandra souber dessa história, ele terá sérios problemas, a começar pela cobrança.

Ainda não estava aceitando bem tudo aquilo, nunca soube de uma loba ruiva em sua família, se houvesse, com certeza, teria sido falado na reunião dos anciãos, quando foi discutido o nascimento da lobinha ruiva. Também teriam outros ruivos, semelhantes a Lizandra.

Estava tudo muito confuso.

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