Capítulo 7. Lua Azul

Lizandra

Minha mãe olhou o meu cabelo, cortou umas pontas com a tesoura, cuidando para não me sujar, já que eu acabei de tomar banho. Espanou meus ombros, para tirar qualquer fiapo que tivesse caído e me ajudou a vestir a roupa. A blusa tinha as costas mais largas e tapou direitinho os meus calombos. Tinha também um par de sapatilhas verdes.

Ficou perfeita, meus cabelos já estão abaixo dos ombros, cacheados naturalmente, vermelho quase rosa.

Minha mãe me olhou e não falou nada, saiu pela porta e não voltou. Eu sabia que tudo aquilo tinha um motivo e não seria o meu bem estar.

Já era noite e a lua já estava linda.

— " Que surpresa, não é? Sua mãe tava tão boazinha, o que será que fez ela mudar assim? "

— " Nossa mãe, Rose, e não sei o que pode ter acontecido para mudar sua atitude, mas foi muito bom. Ela nunca nem falou muito comigo. Acho que foi ela, a que mais sofreu com essa história, meu pai foi e tem sido um cafajeste com ela. Um dia, ainda vou esclarecer tudo isso. Espero que até lá, ela não pire. "

— " É melhor irmos, não quero perder um minuto da festa! "

— " Você está muito assanhada, Rose, nunca pensei que você fosse tão festeira! Mas você está certa, é melhor irmos. "

Fomos andando, estava uma noite fresca e o povo todo estava nas ruas, existia um clima de festa e espectativa no ar. Fui admirando tudo e as pessoas, por quem eu passava, olhavam para meus cabelos e faziam cara de horror, mas não liguei, qualquer dia desses, elas teriam uma grande surpresa, nada fica oculto para sempre.

Eu sei que nos séculos passados, achavam que as pessoas ruivas, traziam maus presságios, mas isso foi no passado, só porque sou diferente não deveria ser motivo de tanta rejeição. Nem tão pouco, o fato de meu pai ter me rejeitado, mas não serei amarga como eles.

Gosto de mim como sou e o que consigo fazer com as plantas, já é o suficiente para me deixar feliz.

Só não sei se meu companheiro, quando souber da minha história, também vai me rejeitar também.

— " Nosso companheiro é bom, Liz e não nos rejeitará não, você verá."

— " Que bom, que pelo menos você, é otimista."

— " Alegre-se menina, hoje será o grande dia ou melhor, a grande noite. Agora vou descansar, tchauzinho."

Ela me deixou só com meus pensamentos e espero que seja como falou. Não vou suportar ser rejeitada, pelo único que pode me resgatar dessa vida de desprezada por todos.

As pessoas estão chegando e lotando o lugar. Sorrio ao ver tudo tão lindo e o cheiro da comida está espetacular.

Huuummmm!

Espero conseguir comer alguma coisa, mais tarde.

Derick

Tudo pronto, a lua está linda, bem grande e azul, com um brilho todo especial. Estou pronto também, parado de pé ao lado do palco que construimos, no centro da Alcateia. Me arrumei com esmero e daqui de cima, vejo que todos também capricharam na beca.

Estou todo de preto como meu lobo e meu cabelo ganhou um trato especial, mais curto. Ele é muito liso e preto e fica caindo nos olhos, se não for aparado. Meus olhos são cinzentos, mas ficam negros quando Thomas assume.

Estamos ansiosos. Os betas já chegaram, a maioria do povo também. Só faltam os anciões, assim que chegarem, começarão a cerimônia. É algo muito especial e mágico e só quem tem experiência pode fazer.

Lizandra

Já cheguei, não sei porque estou nervosa, Rose também está agitada. Me escondi atrás de uma árvore, bem distante do palco.

— " Não adianta se esconder, nosso companheiro vai nos achar pelo cheiro."

— " Acordou, é? Mas vê se não perturba, Rose. Duvido que vamos encontrar nosso companheiro hoje. Olha! Os anciões estão chegando. Acho que um deles é o mestre Túlio. "

— " Eu não acho, tenho certeza, aquele velho é velho mesmo. "

— " Sossega Rose!!!! "

Senti que ela se retirou para algum canto distante, pois não a senti mais.

Derick

Chegou a hora, já vai dar meia noite e quero caçar. Finalmente os anciões chegaram e já subiram ao palco, agora sou eu a ser consagrado e depois os betas jovens. O ancião mais velho me conduz pela mão até o centro do palco, os outros se juntam a ele e me rodeiam, formando um círculo a minha volta.

Eles usam uma capa fechada, cobrindo todo o corpo, com um capuz que cobre a cabeça e o rosto, até abaixo do nariz, não dá para saber quem é quem.

Eles estendem o braço direito e esticam suas mãos sobre minha cabeça, começam a recitar um mantra em uma língua dos povos antigos. Uma luz começa a irradiar de suas mãos, ela é rosa, fica cada vez mais forte até me envolver por completo. Conforme continuam a recitar, a luz vai ficando esverdeada, depois azulada , até que sou todo envolvido pela luz azul.

Então, desceu um raio de luz azul forte, vindo da lua. É tão forte, que fecho os olhos e sinto como se algo fosse arrebentar dentro de mim, cada vez mais forte, mais forte... Até que explode, dói, solto um urro alto, que estremece as folhas das árvores.. Caí de joelhos e espero a dor passar.

Lizandra

Olho para o que está acontecendo no palco e estremeço ao ver a semelhança que tem comigo e Rose. Começou com luz rosa igual a da minha magia, depois verde como as mechas de Rose e depois azul como a lua.

Incrível, lindo, forte, cada vez mais forte, cobre todo o Alfa, escondendo-o dentro do raio de luz da lua azul, parece que vai explodir, fecho os olhos, não aguento olhar, só ouço aquele urro terrível e sinto tudo ao meu redor, estremecer.

Caí no chão, de joelhos, respirei fundo e abri os olhos, novamente, olhando para o chão. Percebo que a luz diminuiu, olhei para o palco e ela já havia sumido, só ficou o Alfa Derick de joelhos, os anciões já estavam ministrando sobre os betas, que também foram cobertos pela luz azul da lua e com as mãos abaixadas, os anciões se retiram, um atrás do outro.

Está feito. Os betas, que também receberam, estavam todos de joelhos no canto direito do palco.

Todos se levantaram, o povo esperava para saber quem é a companheira do alfa. Eu também estou curiosa, mas volto para trás da árvore.

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