Cap 19 Alice

Tudo o que passei nas mãos daquele maníaco, o que vi e ouvi naquela sala me destruíram..., sinto uma vontade gigantesca de sumir, de sair daqui correndo, mas estou tão chocada que não tenho forças..., são tantos sentimentos ruins me consumindo, não sei o que pensar, nem sei se realmente entendi..., Gabriel não é Gabriel?..., estou atordoada pelo infeliz encontro com Robson, mas principalmente com o que estou descobrindo, me sinto sufocada...

Uma avalanche de pensamentos desconexos passam por minha cabeça., uma mistura de vozes se repetem mentalmente: " -Senhor Kessid..., tio Kessi..., ela não sabe..., minha empresa..., tio?..., sobrinho?..., a única verdade que importa é que te amo…, ele não é Gabriel, não é o meu Gabriel".

Volto a realidade quando ele tenta me abraçar..., sinto raiva do homem que está a minha frente, agora é como um estranho, grito o fazendo parar e desistir de se aproximar mais..., as lágrimas em seus olhos não vão mudar o que penso dele nesse momento..., está tudo tão confuso e ao mesmo tempo, acho que tô começando a entender…, ele mentiu para mim, mentiu para me iludir..., eles são iguais, tio e sobrinho, são iguais...

Gabriel tenta aproximar mais uma vez, não permito, suas mãos são tão sujas quanto de Robson, sinto nojo dos dois..., seu olhar é como se eu tivesse o apunhalando no peito, mas não me importo, a única apunhalada aqui sou eu..., ele me usou, mentiu, brincou comigo, nem mesmo se chama Gabriel ou é um faxineiro...

Reúno forças, pego minha bolsa do chão e caminho completamente perdida em direção a saída, tentando segurar as lágrimas que encharcaram meu rosto..., mais uma vez ele tenta me tocar, não tenho mais forças para gritar, mas não aceito sua ajuda, falo demonstrando o ódio, a decepção, a dor que me causou, e dessa vez foi muito pior..., ele me magoou de verdade, tanto que nem sei o que mais tá doendo: se a humilhação e o crime que Robson cometeu contra mim ou o que seu tio me fez..., falo limpando meu rosto...

Alice:_ Não..., não chega perto..., não vai chegar perto de mim nunca mais...

Késsid:_ Alice..., por favor..., não fala isso, só..., só quero saber como você está?, me perdoe meu amor..., me diga se ele te machucou..., me fala..., por favor Alice, me deixa te ajudar..., aquele maldito machucou você?

Sinto o desespero em sua voz, está chorando, embora tente manter um certo controle, mas não vou cair de novo em sua conversa..., suas lágrimas não vão me comover, eu fui a mais ferida, magoada e enganada de todas as formas possíveis..., como vou saber se ta falando a verdade?, ele não é um simples faxineiro..., essa roupa, essa empresa..., não é o meu Gabriel...

Mas o homem insiste em se aproximar e saber se estou bem..., evidente que não estou, ele sabe que estou destruída e nem é pelo que o maldito do Robson tentou fazer, porque aquele ali eu já sabia que era um monstro..., mas Gabriel ou Kessid, nem sei como chama-lo, conseguiu me enganar, realmente me fez ama-lo e isso tá doendo muito..., me sinto duplamente humilhada e enganada... Paro de caminhar, me viro para o encarar e lhe dar a resposta que tanto insiste em ouvir...

Késsid:_ Me fala princesa..., Alice..., por favor, me diga como você está..., diga se aquele maldito a machucou?

Alice:_ Não mais do que você..., você me machucou muito mais...

Pela cara que faz ao ouvir essas palavras, parece que também o machuquei e não me arrependo, é a verdade, coisa que ele parece não saber o que significa... Ainda me sinto atordoada, mas sei o caminho da saída perfeitamente, volto a andar o mais rápido possível, preciso sair daqui ou vou cair sem forças..., sinto ele segurar meu braço impedindo que eu continue e me abraça forte, sem me dar a chance de empurra-lo, agora ele parece ainda mais desesperado...

Késsid:_ Me perdoa Alice..., eu te amo..., me perdoa, por favor ..., me perdoa, eu disse que a única verdade que importa é que eu te amo..., eu ia contar tudo naquela noite..., me ouve...

Alice:_ Me solta Gabriel..., ou sei lá como se chama..., me deixa em paz...

Ele segura as minhas mãos, seus olhos estão vermelhos, não acredito nele..., não consigo esquecer a dor em saber que ele estava brincando comigo, me usando para se divertir, brincando com meus sentimentos, com minha realidade, não tem respeito algum por mim nem por ninguém..., me sinto tão idiota quando lembro que me insinuei, iria me entregar..., e quando me preocupava com sua situação, pensando em como o ajudar, dividindo um sanduíche, brincando com as lutas das pessoas que vivem com o mínimo, isso é ridículo, é imperdoável..., fui verdadeira e só recebi mentiras..., controlo o choro, nesse momento o único sentimento que me mantém de pé é a raiva..., puxo as mãos e limpo meu rosto, não vou lhe dar o prazer de me ver chorar..., ele agora parece implorar...

Késsid:_ Me dá uma chance de te explicar tudo.., só me ouve por um minuto..., por favor..., eu sei que não tenho direito, mas é a única coisa que peço..., por favor meu amor...

Alice:_ Não me chame de amor..., não quero ouvir nada..., eu já entendi tudo..., você mentiu para mim..., vocês são iguais..., acham que porque tem dinheiro e poder, podem tudo..., acham que podem brincar com as pessoas..., odeio você..., odeio todos vocês...

Késsid:_ Não fala isso..., não sou como aquele..., e sei que não me odeia..., está magoada..., mas eu posso explicar...

Alice :_ Não sabe nada sobre mim, se soubesse nunca teria feito isso..., fui uma idiota..., quase me entreguei a você, sinto vergonha quando lembro que fiquei insistindo e me insinuando..., como pôde me fazer chegar a esse ponto?..., era algum jogo entre vocês dois?

Aos poucos vou me dando conta de que eles podem estar juntos nisso, poderiam facilmente estarem em um jogo doentio onde eu era a presa..., concluir isso é ainda pior...

Késsid:_ Princesa..., não tem jogo algum..., nunca me aproveitaria de você ou permitiria o que aquele maldito fez, eu te amo..., olha pra mim..., Alice, olha pra mim..., foi por isso que não pude te-la naquela noite, queria que soubesse quem eu era, pensa um pouco..., não me aproveitei de você, me apaixonei e queria que nossa primeira vez fosse especial, como foi desde o primeiro dia em que a vi..., nunca pensei que um dia, pudesse sentir o que sinto por você..., essa é a verdade, o meu amor..., o nosso amor não é mentira..., é real..., você também sente..., eu sei que me ama...

Baixo a cabeça tentando ignorar tudo o que ele fala, só para não cair novamente nas suas mentiras..., odeio pensar que o amo ao ponto de cogitar perdoa-lo, não posso..., e meu orgulho?, minha dignidade?, ele e o maldito sobrinho me feriram não só fisicamente, mas a minha alma..., reúno os últimos resquícios de forças que ainda tenho, o encaro para dar um basta nessa conversa..., pergunto para ouvir o que já sei..., ele responde demonstrando dúvidas, insegurança, parece ter medo das minhas próximas ações..., logo saberá onde quero chegar...

Alice:_ Quem é você? Qual é o seu nome?..., o verdadeiro...

Késsid:_ Ké-kessid..., você já sabe..., sou Késsid Montenegro...

Alice:_ Não é você quem amo..., amo Gabriel, um simples faxineiro..., foi por ele que me apaixonei.

Kessid:_Sou eu, Alice, o Gabriel que ama..., também sou eu..., não percebe?

Já não consigo mais ser forte..., minhas lágrimas voltam a molhar meu rosto, não importa o que ele diga, não enxergo mais o meu Gabriel..., não é ele...

Alice:_ Agora, já não importa mais quem você é..., me esquece, toda essa mentira acabou..., acabou..., não existe mais nada entre nós..., nunca existiu.

Corro sem olhar para trás..., corro como nunca havia corrido em minha vida, entro no primeiro táxi que encontro e peço para o motorista dirigir o mais rápido que puder, enquanto choro compulsivamente lembrando de tudo..., o que mais dói é me dar conta de que amo alguém que não existe, que de fato o que falei é a verdade, o que tínhamos não existiu, a sensação que tenho é que amei uma fantasia...

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