Cap 4 Alice

Nasci e cresci num pequeno município do interior do estado, numa família tradicional, cheia de regras e proibições, talvez pelo fato de ser a filha mais nova, meu pai sempre foi muito machista e meus três irmãos mais velhos super protetores, não podia sair sozinha, mas em meio a todo esse controle, recebi muito amor, especialmente da minha mãe que tentava amenizar essa sensação de "prisão" que as vezes eu sentia. Hoje entendo que toda aquela proteção faz parte da nossa educação e costumes.

Como não tinha muita liberdade para diversão externa, amava desenhar, isso meu pai me deixava fazer livremente, então quando não estava ajudando minha mãe nos trabalhos de casa, estava rabiscando meus cadernos..., mas foi na escola, durante o ensino médio que comecei a me interessar por moda, lá tive acesso a algumas revistas e quando ganhei meu primeiro celular aos 17 anos, mesmo com uma internet bem ruim, conheci o mundo da moda através de pesquisas..., comecei a fazer uns esboços mais elaborados e me apaixonei por esse mundo.

Sempre fui sonhadora, gosto de desenhar roupas, acessórios, e rosas, amo rosas..., tenho guardado alguns dos meus primeiros desenhos... Pesquisando mais a fundo sobre o assunto, decidi a minha profissão, quero ser designe de modas..., mas, assim que disse isso para a minha família, meu pai se opôs na mesma hora, disse que eu tinha que estudar algo que fosse um trabalho de verdade, não essas coisas de desenho..., ouvir ele falar assim não me abalou e não o culpo por pensar dessa forma, quando eu começar a ganhar dinheiro com meus desenhos ele vai mudar de opinião.

Nesse período comecei a trabalhar de babá para uma das mulheres mais ricas da cidadezinha, indicada por uma amiga da minha mãe, já ia fazer 18 anos, meu pai concordou com esse trabalho, assim fui conquistando minha liberdade, guardei parte do dinheiro que recebia...

Um dia, minha patroa atendeu um telefonema de uma amiga de infância, parecia até que eu já conhecia Marina de tanto ouvir histórias das duas..., ouvi que ela estava voltando para o Brasil e precisaria de alguém de confiança para cuidar do filho, mas que a pessoa tinha que morar no emprego, isso significava morar na capital.

Vi nessa ligação a grande oportunidade de sair da minha cidade e realizar meu sonho..., reuni coragem e pedi a minha patroa que me indicasse, expliquei os meus motivos, o bom é que ela entendeu..., deixei uma outra vizinha trabalhando em meu lugar, estava decidida.

Mas ainda tinha a parte mais difícil: convencer meu pai e meus irmãos que iria para a capital, com um trabalho fixo, bem remunerado e com uma bolsa de estudos..., após muitos dias de conversa, choro e sermões, consegui que me deixassem vir, minha mãe me deu a maior força, ela sempre me ajuda nessas horas. Só a bolsa de estudos que ainda não existia, isso eu inventei, mas foi por uma boa causa , logo daria um jeito de iniciar os estudos.

E assim conheci a mulher que se tornou não só minha patroa, mas também a melhor amiga que eu poderia pedir aos céus, Marina é maravilhosa. Nos entendemos logo de cara e é um prazer cuidar do pequeno Noah, nem parece um trabalho, me sinto mais como uma tia cuidando do sobrinho.

Estava focada em meu trabalho e estudos, mas depois que conheci Gabriel uma luzinha acendeu em meu coração..., claro que reparei na beleza e na educação dele, na forma que se mostrou interessado por mim e quando me deu seu número de telefone tive certeza, mas fiquei tão perdida com aquele toque que não sabia o que fazer, só queria correr e entrar em casa..., assim que cheguei em meu quarto, anotei o número no meu diário e na agenda do celular antes que apagasse de vez da minha mão...

Naquela noite, deitei na minha cama, e mesmo depois do banho, ainda dava pra ver um sombreado do número, passei horas olhando para ele escrito em minha pele, mas não tive coragem de ligar, fiquei em dúvida, foi a primeira vez que nos falamos, ele poderia me achar muito atirada..., decidi por deixa-lo esperar ao menos um ou dois dias.

Mas já no dia seguinte, a correria começou, me distraí com os problemas, trabalho, os dias foram tão corridos, quando dei por mim já tinha passado uma semana inteira..., essa confusão dos pais de Noah, as provas, tive que fazer um trabalho na prática, produzir uma peça de roupa para apresentar no curso, dormia tarde e acordava cedo..., acabei esquecendo de ligar para Gabriel.

Deito em minha cama pronta para dormir e finalmente pego o celular, vou na agenda e fico olhando por um tempo seu número de telefone..., e se depois de tantos dias ele tiver esquecido de mim?..., de qualquer forma, só vou saber se ligar, mas não saberia o que dizer..., só preciso fazer como ele disse..., falou que bastava um sinal e ele saberia que sou eu...

Primeiro digito um "Oi!"..., apago logo em seguida..., penso bem e vou nos emojis..., é isso, vamos ver se ele responde..., lhe envio uma rosa e agora é só esperar.

Alice📱:_🌹

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Sou Alice Silva, tenho 19 anos, posso parecer ingênua, inexperiente, até um pouco matuta, mas não sou besta..., determinada, isso sim, disposta em correr atrás do que me interessa, dos meus sonhos.

Fico pensando em Gabriel, talvez nossa diferença de idade seja de pelo menos uns oito anos ou mais, acho que comecei a gostar de homens mais velhos, ele é o cara mais gentil e atraente que conheci até hoje..., os garotos da minha idade parecem que estão sempre com muita pressa e só pensam em sexo, são atrevidos de um jeito que me incomoda, esquecem as gentilezas, a conquista..., falo por conhecimento de causa, tem um rapaz na faculdade que atormenta a minha vida com umas cantadas ridículas e sem limites..., mas, uma coisa aprendi convivendo com três irmãos homens: me defender, sei exatamente onde acerta-los e deixá-los no chão, ele que não se meta a besta de me tocar.

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