Cap 18 Késsid

Esses dias têm sido muito difíceis, minha família está completamente fragilizada, sem direção, faço o que posso para manter minha mãe e irmãs confiantes na recuperação de nosso patriarca, elas sabem que estou buscando novos tratamentos, já falei com alguns especialistas, lhes dou esperanças, mas a verdade é que meu pai continua na mesma, sua situação não é nada boa, se necessário o levarei para fora do país, farei tudo possível para que ele volte pra nós.

Vivendo essa situação, minha consciência pesou de vez, ignorei a chamada e a mensagem de Alice, me afastei pelo máximo de tempo que consegui., mesmo a amando e necessitando dela, não aguento mais olhar para minha princesa e ouvir ela me chamar de Gabriel..., decidi que vou falar a verdade assim que possível, mas estou com tantos problemas e não quero envolve-la, tenho medo que ao falar com ela não tenha coragem e siga com as mentiras, só para tê-la ao meu lado, pensei muito e achei melhor evita-la.

Pra completar minhas dores de cabeça, Sandra me convenceu a aceitar meu sobrinho aqui na empresa, está em período de estágio no curso de administração, e embora eu não goste da ideia, não tive coragem de dizer não a ela, minha irmã sempre teve muitos problemas com Robson e a situação do nosso pai..., me sinto na obrigação de ajudá-la.

Conheço muito bem meu sobrinho, Robson é um playboy mimado, um inconsequente, irresponsável..., soube que se meteu numa briga há uns dias, chegou em casa com um corte no rosto, disse para a mãe que foi assaltado por dois caras, tenho certeza que mentiu..., vamos ver se com o trabalho cria um pouco de responsabilidade e caráter.

Em meio a esse furacão de desgraças, não resisti, dirigi até a casa de Alice e deixei uma rosa..., fiquei de longe observando ela chegar, mas para a minha decepção, ela apenas olhou para a rosa, entrou em casa e a deixou lá..., esperei por quase meia hora e ela não voltou para buscá-la, entendi que decidiu me esquecer; saí de lá mais arrasado do que já estava.

Foi difícil dormir..., a única coisa que me motiva é apoiar minha família e lutar pela saúde do meu pai..., hoje estou exausto, de coração partido e sei que é tudo minha culpa, mereço passar por isso..., tento me concentrar no trabalho, mais tarde terei uma reunião por vídeo chamada com dois médicos estrangeiros que garantem ter tratamentos mais avançados e que poderão ajudar meu pai.

Preciso liberar algumas notas e visitar duas lojas..., minha mesa está coberta de papéis para ler e assinar..., leio e releio ao menos três vezes cada um para entender do que se trata, não consigo me concentrar..., só sinto vontade de jogar tudo para o ar e chorar, mas me mantenho firme ao menos na frente das pessoas..., minha cabeça ainda dói, dona Glória me deu um analgésico mais cedo, mas não fez efeito..., estava lutando para me concentrar no trabalho quando minha secretária entra muito agitada com aquele maldito uniforme nas mãos, olho para ela confuso...

Glória:_ Senhor..., é Alice...

Kessid:_ O quê?

 Glória:_ Alice..., ela está aqui e quer ver o Gabriel...

Ouvir o nome de Alice é como uma corda me puxando do fundo do poço em que me encontrava..., a carga de emoção que ela me causa vem com tudo, não sei se estou feliz, emocionado, nervoso ou apavorado..., acho que um pouco de tudo...

Késsid:_ Alice?..., aqui?..., na empresa?

Glória:_ Sim..., na sala de reuniões..., a deixei lá para que não o visse., a pobrezinha está muito aflita, prometi que o levaria até lá..., por isso trouxe o uniforme para o senhor se trocar..., ela quer ver o senhor..., o senhor não, o Gabriel...

Fico olhando para aquele uniforme, fazendo tantas especulações mentalmente que sinto que minha cabeça vai explodir..., Alice veio me ver..., ela deve ter pego a rosa, mas achei que tinha recusado..., não me esqueceu, ela me ama..., e se for pra acabar de vez a nossa história?

Agora, não sei o que faço, estou evitando Alice pessoalmente desde o nosso último encontro, não quero mais mentir sobre minha identidade e trabalho, não posso mais fazer isso.., ainda estou sofrendo com o fato de não termos nos amado, de não estarmos vivendo nosso amor por causa dessa mentira idiota que criei por pura ignorância...

Glória:_ Sr Kessid?..., vamos, precisa se trocar.

Kessid:_ Não sei o que fazer..., não tenho coragem...

Glória:_ Precisa decidir rápido, ela não vai sair daqui sem vê-lo e o senhor precisa dela..., Sr Kessid vá até lá., vai ser bom para vocês..., agora, pegue esse uniforme e faça o que tem que fazer..., vou sair para se trocar.

Késsid:_ Não...

Glória:_ Não?

Késsid:_ Não vou vestir isso..., não vou mais mentir para ela...

Glória:_ E se ela não entender? o senhor não precisa passar por isso agora..., espera só mais um pouco até as coisas melhorarem..., as coisas já estão tão complicadas...

Fico pensando..., dona Glória ta preocupada que Alice reaja mal, que me odeie e que eu não aguente mais essa tragédia em minha vida..., também estou, é um dos meus maiores medos, não sei se aguento perde-la..., mas continuar com essa farsa ta acabando comigo, a quero, mas sabendo quem sou realmente, quero que conheça minha família e conheça meu pai...

Késsid:_ Me leve até ela..., não vou vestir isso.

Seguimos para a sala de reuniões..., o nervosismo, o medo me dominam a cada passo que dou..., mentalizo que é o certo, preciso ter coragem, Alice não merece viver uma mentira, isso já durou tempo demais...

Abro a porta passando na frente de Glória, não preciso ser anunciado..., a cena com a qual me deparo faz meu corpo ferver de ódio, repulsa, não hesito nem por um segundo, na velocidade que entro puxo Robson com toda a força e lhe acerto um soco o fazendo cair sobre uma cadeira..., o sangue em sua boca é um estímulo para o bater até tirar a última gota de seu corpo..., ele me olha apavorado..., o levanto segurando pela gola ..., dona Glória auxilia Alice enquanto tento me segurar para não matar esse desgraçado aqui mesmo, mas é impossível me controlar...

Robson:_ Tio?

Késsid:_ O QUE PENSA QUE TA FAZENDO?

Vou matar esse desgraçado, esqueço que é meu sobrinho, o empurro na parede da mesma forma que fazia com Alice lhe causando muita dor, apertando sua garganta, ia lhe dar um segundo soco e o bater até extravasar toda a raiva e o estresse que acumulei com tantos problemas, mas dona Glória segura meu braço impedindo que eu faça uma besteira...

Glória:_ SENHOR KESSID NÃO FAÇA ISSO..., É SEU SOBRINHO..., SENHOR!

Késsid:_ ME SOLTE..., VOU MATAR ESSE IMBECIL...

Estava disposto a descontar em Robson todo meu ódio, pelo que ele estava tentando fazer, por tudo o que estou passando..., quando consigo afastar minha secretária e volto a imobilizar o covarde que fica tentando fugir do aperto da minha mão em seu pescoço..., paraliso ao ouvir Alice gritar chamando minha atenção...

Alice:_ GABRIEL!!!

É como se voltasse ao meu corpo, estava completamente descontrolado..., me viro olhando fixamente para ela e só agora me dei conta que está assustada, confusa, chorando, se cobre abraçando o próprio corpo, como se segurando a parte de cima do vestido, uma das alças foi arrancada..., minha vontade é de voltar a socar Robson, mas preciso ajudar Alice, solto o maldito tirando meu terno para cobri-la...

Késsid:_ Alice..., amor..., o que esse maldito fez?...

Alice:_ Ga-gabriel não..., não me toque...

Ela fala chorando, quase sem forças, inoro sua recusa, percebo que está tremendo, tenta me afastar, mas insisto em ajudá-la a cobrindo, quero protege-la..., só Alice pra me devolver um mínimo de sanidade..., mas não aguento ouvir a voz do infeliz de meu sobrinho...

Robson:_ Gabriel?..., ela o chamou de Gabriel?

Késsid:_ CALA ESSA BOCA E SAI DA MINHA FRENTE...

Novamente perco o controle e caminho em direção a ele disposto a terminar o que comecei, mas dona Glória se coloca na frente impedindo, e Alice parece que tá começando a entender que menti sobre quem sou...

Glória:_ Senhor Kessid, se acalme..., não vale a pena...

Alice:_ Por- por que ta vestido assim?..., e porque ela..., o chama de senhor?..., Gabriel..., por quê ela tá chamando de senhor Kessid?

Estou tão perdido, que não sei o que fazer: não sei se mato Robson ou tento esclarecer as coisas com Alice..., respiro fundo buscando sabedoria e opto pela segunda opção...

Kessid:_ Dona Glória, tire esse maldito da minha frente e ligue para a mãe dele vir até aqui..., agora, preciso conversar com Alice sozinho.

Quando achei que o desgraçado ia sair calado, ele começa a entender parte do que tá acontecendo, mas o jeito que fala, é como se tivesse implorando para eu arrancar sua língua...

Robson:_ Tio Kessid, ela não sabe quem é o senhor?..., tá pegando a caipira usando outro nome, agora entendo porque ela me rejeita, sempre soube que essa aí gosta de quem paga mais...

Kessid:_ CALA ESSA BOCA OU O MATO AQUI MESMO!

Alice está em choque, sem reação, vejo o ódio no jeito que me olha, é a mesma forma que encara Robson..., não tô suportando essa situação, preciso tirar esse maldito daqui antes que eu cometa um assassinato..., o pego pela gola novamente, nem minha secretária consegue impedir, o arrasto até a porta e o jogo fora da sala,falo como último aviso...

Késsid:_ Agradeça por ser filho de minha irmã, porque é só por ela que não acabo com você aqui mesmo., agora sai da minha empresa e fique bem longe de Alice ou vou esquecer que é meu sobrinho e mato você...

Dona Glória o ajuda levantar, o puxa pelo braço, tirando ele de uma vez por todas da minha frente..., Bato a porta e volto rapidamente para dar apoio a Alice e explicar tudo..., ela se cobre com o paletó, ainda está em choque, tremendo e chorando..., me aproximo dela e tento abraça-la, mas agora, sou eu quem paralisa em choque ao ouvir ela gritar com tanto ódio que dói em meu peito...

Alice:_ NÃO..., NÃO CHEGA PERTO DE MIM..., NÃO ME TOQUE, SEU MENTIROSO!

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